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sexta-feira, janeiro 12, 2007

Minas, Brasil e coisas gerais

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“Com a chave na mão / quer abrir a porta, / não existe porta; / quer morrer no mar, / mas o mar secou; / quer ir para Minas, / Minas não há mais. / José, e agora?” Carlos Drummond de Andrade



Conheci o Rio de Janeiro tão-logo o presidente Juscelino Kubitscheck anunciou que cumpriria a Constituição, transferindo a Capital Federal para o Planalto de Goiás. Desde então, descobri que ser carioca não é apenas nascer na Cidade Maravilhosa, mas investir-se de seu estilo, absorver seu espírito libertário. Ou libertino (conforme o momento ou as circunstâncias).

Note-se que grandes cariocas não nasceram lá: Nelson Rodrigues, Dorival Caymmi, Barão de Itararé, João Saldanha.... E muitos são de Minas: Otto Lara Resende, Carlos Drummond, Antônio Olinto, Ataulfo Alves, Ari Barroso... Diz-se, hoje, que o governador Aécio Neves é um carioca voluntário, tal é o amor que ele dedica ao Rio. Sempre achei que a cidade do Rio não devia ser capital do Estado; isso caberia a Niterói, que, citada hoje apenas como “cidade da Grande Rio”, não perde a antiga majestade.

Mas não é o Rio que quero louvar, hoje, e, sim, Minas. E Minas não são só as minas. Minas é o cerrado do Norte e do Triângulo, as araucárias e os cafezais do sul e a zona da mata, de espírito carioca. Minas são muito mais Gerais que apenas minas. Berço de notáveis: de Tiradentes a JK, de Felipe dos Santos a Tancredo, sem esquecer minha mãe, Dona Lilita (Conquista, MG), e um bisavô paterno, José Florentino Alves (Bom Despacho, MG).

Minas é recheada de adventícios, como a poeta e professora Cláudia Pereira, do Rio de Janeiro, agora em Ouro Preto, e Camila Diniz, paulista, editora do Suplemento Literário. Minas de agora passa por Dênia Diniz, Tida Carvalho, Márcia Piramo, Wilmar Silva, José Aloise Bahia, Luiz Edmundo, Tânia Diniz... Gente de livros e poesia, irmãos no ofício do verso e da prosa lírica.

Mas há os moços. Neto (José Alves), que por lá nasceu e veio crescer comendo pequi em Itapuranga; de volta a BH, é jornalista e cartunista, estudante dedicado à paixão de Líbero Badaró e Samuel Wainer. Neto me acolheu hóspede, coisa de amigo tolerante: não é fácil, para o moço mal entrado na casa dos vinte anos, suportar um recém sexagenário maníaco e ranzinza (acho que isso é pleonasmo).

E, igualmente perfeccionista no ofício da comunicação, Ariadne Lima, outra jovem na casa dos vinte. Foi ela quem, em contato com José Aloise e Wilmar Silva, possibilitou-me participar do projeto “Terças Poéticas”, que resultou, um ano depois, de uma rica antologia: “Terças poéticas – Jardins Internos”. Mas se foi esse um gesto de amizade, tal como o de Neto, destaco nessa moça o talento jornalístico, pois ser jornalista não é, apenas, repetir feito papagaio coisas havidas, mas filtrar os fatos e construir a notícia com o que a língua nos oferece de simples e belo.

Ariadne o faz nas letras notícias e em contos e versos diversos. Neto, também dedicado ao texto, enriquece-o com seu desenho peculiar. São, ambos, nomes do futuro de Minas. De Ariadne, dedicada jornalista na Fundação de Amparo à Pesquisa (do governo do Estado), enfatizo a matéria sobre o pequi, que é alvo de seriíssima pesquisa na Universidade de Montes Claros. A matéria está no número 27 (setembro a novembro de 2006) da revista “Minas faz ciência” (http://revista.fapemig.br/materia.php?id=313).

E aí, se eu já gostava de Minas por seu passado, traduzido nos nomes que citei nos primeiros parágrafos, aposto em Minas do futuro. E esse futuro, claro, passa por esses dois jovens jornalistas. Orgulho-me de ambos!

7 comentários:

Luiz de Aquino disse...

Recebi da Profa. Tida Carvalho e, a seu pedido, transcrevo:

"Minas não é palavra montanhosa, é palavra abissal, as palavras de
Luiz de Aquino mostram um pouco o que é minas, no alto aparente e no
subterrâneo de seus segredos e desejos. Seu olhar de viajante
visionário poeta nos faz ver, a nós mineiros, o cosmopolitismo e a
generosidade de nos espalharmos por aís, alis e de nos encontrarmos em
sua crônica. Obrigada pelo olhar benigno, Tida Carvalho".

Anônimo disse...

Amigos,
Este endereço é certo de boa leitura. Da prosa a poesia, a pena de um artista de raro talento.
Um ótimo sábado em boa companhia.
Bjs.

Anônimo disse...

BELO TEXTO!
CONHECI BH NUMA VISITA QUE FIZ C/ MEU MARIDO À UMA TIA ENGRAÇADA QUE ELE TEM.
E TB CONHEÇO MUITO O JEITO MINEIRO QUE ENCONTRO AQUI EM CABO FRIO, QUE DIZEM, É A PRAIA MINEIRA; AGORA MESMO A CIDADE ESTÁ CHEIA DE TURISTAS, MUITOS SÃO SIMPÁTICOS E EDUCADOS.
PARECE QUE MINAS TEM MAIS LAÇOS FRATERNOS COM O RIO DO QUE SP.SEM CONTAR QUE A VIAGEM PELA ESTRADA É MUITO LINDA.
SEU TEXTO É UMA HOMENAGEM PERFEITA A ESSA CIDADE QUE TEM A ALMA DO BRASIL!

Anônimo disse...

Luiz,

Fico feliz por me incluir em crônica de tanto amor por Minas e pelos mineiros. Só não posso concordar que vc me inclua entre a “Gente de livros e poesia, irmãos no ofício do verso e da prosa lírica”, não seria justo com os nossos escritores de ofício.

Amante das letras sou mesmo, mas a minha arte é outra, e vc conhece, é a de modelar, esculpir. E a arte de ouvir, de observar, de me colocar a serviço para que as pessoas se expressem através da arte em todas as suas formas.

Belo texto, amigo, venha sempre que quiser, Minas agradece...

Márcia Píramo

Luiz de Aquino disse...

Recebi do amigo Herondes Cezar e, autorizado por ele, repruduzo - mas sem omitir a segunda parte, em que me dá conta de seu blogue, e convido meus amigos e leitores a compartilhar desse noticiário sobre o cinema (alta especialidade de Herondes Cezar)

"Caríssimo Luiz,

Belíssima crônica. Coloco-a entre as mais bem escritas de sua lavra, que já tive o prazer de ler. As palavras são simples, mas insubstituíveis, posto que (com a chancela de Vinícius) portadoras de sentimentos verdadeiros. Parabéns!
(Se for de seu interesse, pode postar este comentário. Tem a minha autorização.)
Uma novidade: agora eu também tenho um blog (risos). Sobre cinema, é claro (mais risos). Tudo começou com meu esforço de acompanhar os falecimentos de gente ligada ao cinema, redigindo pequenos necrológios e enviando-os aos amigos mais ligados à 7ª Arte. De imediato, portanto, estou postando os necrológios, mas a intenção é começar logo a postar notícias de interesse geral, para todos os que se interessam pelo cinema. O endereço é: eraumavezocinema@blogspot.com
Sua visita será muito bem-vinda. Pretendo colocar pequenas notícias a cada dia. Divulgue-o também para seus contatos, por gentileza.
Quem o criou pra mim foi o amigo Oto Vale, grande figura goiana que Goiás acaba de perder para São Carlos.
Ainda dependo muito dele para administrar o blog, que sou neófico em internet, como vc bem sabe. Quando eu estiver mais decolado, vou querer colocar nele os links de meus amigos blogueiros, que me autorizarem a fazâ-lo: L.A., Salomão Sousa, Ana Ramiro etcoetera. Oto prometeu botar um link para o jornal Le Monde, também.
Grande abraço
Herondes"

Anônimo disse...

Caro escritor Luiz de Aquino, Minas é um coração em forma de triângulo: nos ângulos dessa figura geométrica ficam as pessoas que gostamos para sempre... Você é uma delas! Você e a sua sensibilidade, seu modo lúcido e inteligente em contar histórias. Relembrar e ler as suas crônicas cheias de vida. Você e a sua voz fantástica de escritor e poeta atento, lírico e criativo. Você sempre será bem-vindo às Minas de todos os cantos. Muito obrigado pela amizade e o olhar sobre as Gerais. Você mora na minha alma mineira. Aliás, também sou de Goiás. Um povo hospitaleiro, educado e bem brasileiro. Juntos, faremos a amizade dos dois Estados mais forte, cheia de laços, ternura e a literatura que corre em nossas veias... Abraços sempre e fraternais do irmão josealoisebahiabhzmg...

Anônimo disse...

Obrigada, queridíssimo. Fiquei emocionada com a citação de meu nome.
Seu textp, pra variar, é ótimo.