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sexta-feira, maio 29, 2009

A arte, aliada à esperança


A arte, aliada à esperança

Luiz de Aquino 


Vários alunos do Lyceu, e um número ainda maior de ex-alunos, referem-se à minha participação um tanto fora do cerimonial quando da homenagem aos ex-alunos, promovida pelos responsáveis pelo evento Casa Cor, centrada nas pessoas do presidente do Banco Central, Henrique Meireles, e do governador Alcides Rodrigues Filho. Grande parte deles exalta o evento, reconhece méritos nos que simbolizaram os ex-alunos.


Já disse, senti falta de Pedro Wilson. Afinal, foi seu pronunciamento na Câmara, em novembro de 2007, o texto escolhido para ilustrar a parede de uma sala de aula, antiga e estilizada. Nesse discurso de Pedro, regozijo-me por encontrar, como intertexto, trechos de meu discurso na sessão solene que a Academia Goiana de Letras realizou no auditório do colégio no transcurso do septuagésimo aniversário do educandário em Goiânia.

Não pergunto muito quando as coisas me parecem óbvias. Refiro-me à iniciativa de se realizar a Casa Cor no velho casarão da Rua 21, sede do nosso Lyceu (veja só, Vander Arantes! Você me venceu, já escrevo com Y). Poderiam, seus organizadores, ter escolhido o Centro Cultural Marieta Teles, na praça Cívica, magnífico exemplar de “art déco”, um dos primeiros edifícios da cidade. Ali, o evento disporia de maior espaço e o resultado seria muito bem aproveitado pela Agência Goiana de Cultura, certamente reduzindo custos. Mas a escolha veio para o Lyceu e isso traz de volta o colégio à mídia.

Pofessor Egídio Turchi e eu

Para nós, ex-alunos e antigos professores, o momento foi de despertar saudades. Na noite da sexta-feira, dia 22 de maio, a homenagem aos ex-alunos ilustres levou-me até lá. E levou também, como ênfase maior, o professor Egídio Turchi, que, penso eu, é o decano dentre todos os mestres do velho casarão. A poucos meses de completar seus noventa anos de vida, o professor de Matemática e Latim (ele fez questão de contar aos jovens repórteres que o entrevistaram o que era Latim), concedeu entrevistas e muitos dedos de prosa a tantos quantos dele se achegaram, buscando ouvi-lo e, certamente, aprender algo mais.


O governador Alcides...

                                                      ...e o presidente do BC, Meireles   


Naquela noite, repeti o que fiz em novembro de 2007, naquela sessão da AGL no Lyceu: compareci uniformizado. Não com calça “blu dins” e camiseta, mas com a calça cáqui e camisa branca, a águia símbolo pintada no bolso, lado esquerdo do peito. Com isso, surpreendi os presentes, inclusive o governador e o presidente do Banco Central – mas o professor Egídio lembrou que o uniforme já foi “uma farda” (era comum, até os anos de 1950, os uniformes colegiais repetirem as roupagens militares).

Com a secretária Milca Severino

Meu uniforme despertou curiosidades. Os colegas fotógrafos,  parece, gostaram da coisa, tantos foram os flashes. Posei com Henrique Meireles, Alcides Rodrigues e com a secretária Milca Severino, da Educação. E, inevitavelmente, com Dóris Costa, assessora de imprensa que realiza com emoção e competência seu ofício.

Jornalista Dóris Costa e eu

Nas andanças entre projetos e objetos, inovações surpreendentes e peças dos nossos sonhos de consumo, esbarro com alguns amigos, arquitetos e engenheiros, professores e historiadores. Uma preocupação: o velho prédio voltará ao que era antes? Afinal, ele tem de ser tratado, sempre, como uma relíquia patrimonial, arquitetônica e histórica. Alguém esclarece que o Instituto do Patrimônio Artístico e Histórico, o IPHAN, não apenas está vigilante, mas também orienta a realização daquela mostra.

Em suma, fiquei feliz pelo reencontro com velhos amigos, pela ênfase que se deu ao meu querido colégio. E, sem disfarçar, lanço o olhar para o futuro próximo – o meu, o do Lyceu e o da Casa Cor.

 



Luiz de Aquino (poetaluizdeaquino@gmail.com) é da Academia Goiana de Letras.

As fotos acima são do craque Sílvio Simões - fotografia@silviosimoes.com.br 

 

 

terça-feira, maio 26, 2009

Juventude e consciência

Juventude e consciência


Luiz de Aquino

 

Divirto-me com o modismo. E não me refiro apenas ao que se veste, ao que se tem à disposição para se consumir, ao comprimento das saias ou a expansão dos decotes. Gosto muito de apreciar as gírias e as expressões da moda. Ultimamente, os jovens dizem “demorou!” ante algo que lhes agrade, ou que é esperado. Chato é o modismo pseudo-intelectual, quase sempre advindo do meio acadêmico. Já falei neles... Há uns trinta anos, era o tal de “a nível de”; hoje, o “politicamente correto” que exige saudações ao modo de “a todos e todas” ou o gerúndio, antecedido de um, dois ou até três verbos totalmente desnecessários. Mas o tal de “enquanto”, ah! Esse consegue ser mais desagradável do que “onde” em lugar de “em que” ou “quando”.

Crianças e jovens têm praticamente o mesmo modo de ser e de pensar em qualquer lugar do mundo. E em todos os tempos. Se antes eram os estilingues e os carrinhos de lata, as bonecas de papelão ou de pano e as miniaturas de móveis, hoje são os jogos de computador e a tevê. Os carrinhos de hoje são de outras matérias, bem como as bonecas, e menina nenhuma quer mais brincar de casinha. Isso muda. Mas o que permanece é o brinquedo como meio de aprendizado e ocupação, o gosto pelo inédito, a crença de que “comigo isso não acontece” (claro, quando “isso” quer dizer “coisa ruim").

Hoje, temos jovens executivos, jovens empreendedores, adolescentes ingressando nas faculdades (antes, havia a barreira dos dezoito anos para a vida acadêmica). Hoje, vemos jovens na vida pública, vereadores e deputados, mas Goiás, em 1945, teve um secretário da Fazenda com apenas vinte e dois anos (Randal do Espírito Santo Ferreira). Assis Chateaubriand, no começo do Século XX, emancipou-se, por sua iniciativa, aos treze anos e deu começo a uma vida cheia de altos e baixos, mas rica de iniciativas e realizações.

Semana passada, uma moça, com o namorado ao lado, ambos com idade em torno dos 25 anos, indignou-se porque cheguei primeiro à fila, na padaria.  “Só não vou apelar porque é véi”, disse ela ao rapaz, que se manteve calado. Em seguida, saiu de perto. Permaneci na fila, esperando a minha vez, e cedi-a ao moço que acompanhava a moça (mal- educada e loira falsa), pois minha mulher voltou para pegar alguma outra mercadoria. Ao ver o companheiro pagando a conta, a bela loira veio, rapidamente. Preferi não discutir, afinal eu sequer fiz uso do meu direito de ser atendido com preferência, fato que foi observado pela funcionária-caixa.

A atitude da moça ao lado do rapaz, que não sei se marido, noivo, namorado ou amigo, remeteu-me ao jovem deputado paranaense Fernando Carli Filho, que abusou de alucinantes (pelo menos álcool, mas disseram que ele usou também cocaína). O jovem parlamentar já infringira a Lei ao acumular mais de cem pontos por infrações de trânsito, tendo sua carteira de habilitação apreendida há quase um ano. Ainda assim, e protegido certamente pelo poder do nome de família, e aliando a isso sua condição de deputado, dirigiu embriagado, em alta velocidade, chocou-se com outro carro, causando a morte de dois moços ainda mais novos que ele (que tem vinte e seis anos) e encontra-se agora em tratamento delicado, todo machucado, num hospital da capital paulista.

Ora, só por ser deputado, dele a sociedade espera muito mais do que não dirigir enquanto não cumprir a punição pelos pontos excedidos. Ele não devia era cometer infrações de trânsito, isso sim.Tinha de dar exemplos positivos e influir na conduta dos jovens como ele. Mas preferiu fazer uso dos poderes estranhos que a prática ruim lhe concede.

Não há muita diferença entre ele e a moça da padaria. É uma jovem bonita, bem vestida e mal-educada. Ela, ao referir-se a mim como “véi”, naquele tom, sequer me associou aos seus pais e avós. Ou seja, infringiu o Mandamento de “honrar pai e mãe”. Daí até burlar a lei, embriagar-se e dirigir em alta velocidade e distribuir a dor entre famílias é um pequeno passo.

 

 

Luiz de Aquino é jornalsita e escritor, membro da Academia Goiana de Letras (poetaluizdeaquino@gmail.com).

 

sábado, maio 23, 2009

A um poeta Rodrix

A um poeta Rodrix







Precocemente se foi
 
o Zé das letras-surpresas,
 
das melodias exatas, brilhantes.




Cativante, o Zé!



Agora, sem manchete de véspera
 
nem sinos melancólicos e bucólicos,
 
vai-se. E não se despede.



Está certo, o Zé!
 
Embora cedo, ele curte de vez
aquela Casa no Campo.






Luiz de Aquino

sexta-feira, maio 22, 2009

50.000 visitas!!!

Obrigado, amigos leitores!



Nos últimos minutos de ontem, este 
bloguinho registrou 50.000 visitas!


Muito obrigado, de coração!


Luiz de Aquino

quinta-feira, maio 21, 2009

Em Palmas, entre livros e Genésio

Em Palmas, entre livros e Genésio


Luiz de Aquino


Na última quarta-feira, 20 de maio, Palmas, capital de Tocantins, completou vinte anos. Pelo que ouvi, ou li, comporta uma população próxima de duzentas mil pessoas advindas de todo o país. Naturalmente, os goianos em Tocantins equivalem aos mineiros no sul de Goiás há meio século: uma presença muito forte. Refiro-me aos goianos na concepção atual, ou seja, após a divisão de 1988, ou, para os saudosistas, goianos do sul, já que os goianos do norte tornaram-se tocantinenses.

Como se vê, demorei (para usar um verbo que a garotada pôs na moda). O novo Estado existe desde o primeiro dia de 1989, com seus poderes instalados pelo desembargador Joaquim Henrique de Sá. Nos primeiros anos, Miracema do Norte, atual Miracema do Tocantins, foi sua capital. Decidiu-se, então, pela construção de uma nova cidade, a exemplo de Belo Horizonte, Goiânia e Brasília, além de Teresina, com o propósito nítido de vir a ser sede político-administrativa. E o resultado é uma bonita cidade, de amplas vias, à margem de um amplo lago de águas contidas do Tocantins, um rio quase sagrado... Quase? Para mim, todo rio é sagrado. Imagina, então, um caudal como aquele, veia pulsante a demarcar com solenidade o coração do Brasil!

Uma das boas coisas em Palmas, para um goiano deslumbrado, é encontrar conhecidos. Como Isabel Dias Neves, a Belinha, poetisa e professora, amiga desde os tempos verdes de estudantes do Liceu de Goiânia. E outros muitos da minha própria história de vida. Lamentei não ver Tião Pinheiro, Álvaro Valim, Lindomar de Almeida e Leide Cursino; fica para a próxima viagem. Mas regozijei-me ao rever um velho amigo, escondido por lá desde os primeiros movimentos pela “separação”. Falo de Genésio Tocantins, compositor e cantor, talentoso e bom sujeito.

Ah, eu me esquecia... Fui a Palmas por conta do Salão do Livro.

Lucas, ao apresentar-se como autor

Lucas, meu filho, autor de PW – O Mundo Impossível, comunicou-me que se inscrevera para o Café Literário do V Salão do Livro de Palmas. E sugeriu-me fazer o mesmo. Tentei, mas o site do Salão, promovido pela Secretaria de Educação do Estado, estava congestionado, e o prazo expirou-se. Fui, então, levar o Lucas para o seu momento no famoso Salão do Livro de Palmas. Em sua quinta versão, a feira já pode se inserir entre as mais importantes do Brasil, tanto pelo que significa para a população quanto no que reflete no volume de venda dos livreiros.

No dia seguinte, a minha vez

Lembram? Há poucas semanas, escrevi numa crônica que nós, escritores, somos o louro da feijoada nessas festas de livros. Pois bem: um dos estandes do Salão, este ano, oferecia um computador a quem comprasse dez mil reais em livros. Somente no sábado, dia 16, esse estande entregou nada menos que seis computadores. Ou seja, seis clientes compraram pouco mais de dez mil reais de uma só vez.

E ainda há as atrações musicais para ninguém botar defeito. No sábado, Lucas se apresentou, vendeu livros, fez permuta com autores do Rio de Janeiro e um da terra. Minutos antes, a Thânia, uma das coordenadoras, constatou que, no domingo, já registrava a ausência de um autor, por viagem. Ofereceu-me a vaga, com certo cuidado: “O sr. não se incomoda de ser o último?”. Claro que não! Seria o último no último dia. E compartilhava a noite com autores locais – uma ex-vereadora que teve a feliz idéia de começar, já, a registrar a História da Câmara Municipal, e professores da Universidade do Tocantins, com obras da área da Educação. Foi quando encontrei Genésio, na platéia. E a convite da vereadora-escritora, Genésio subiu ao palco e cantou a canção que é hino da cidade, de autoria de outro amigo (esse, não vi), Braguinha Barroso. Belíssima canção!

A moça linda ao meu lado é a jornalista Maria José

Sem dúvida, Palmas é uma das três ou quatro menores capitais brasileiras. Mas que qualidade! Dá orgulho ser amigo de Luiz Fernando Cruvinel Teixeira e de Walfredo Antunes... Mas o prefeito bem podia tomar providências quanto à iluminação parca e às crateras nas ruas, razão de puxão de orelhas do Ministério Público. Sua gente merece atenção, Sr. Prefeito!


Luiz de Aquino é escritor e jornalista, membro da Academia Goiana de Letras, e escreve aos domingos neste espaço. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com.

quarta-feira, maio 20, 2009

Quero meu Vila de volta!



Quero meu Vila de volta!


Luiz de Aquino


A quem interessa o futebol sem qualidade que o Vila Nova vem oferecendo, hem? Não interessa ao time. Não interessa à diretoria. Não interessa ao técnico, nem aos funcionários do clube. Muito menos à torcida ou à imprensa. À sociedade goiana, muito menos (é fato que boa parte da sociedade sequer “se lixa” para futebol, como as duas outras pessoas lá de casa). Mas, no todo, há, sim, um interesse geral, tanto quanto me interessa que qualquer empresa da minha terra seja promissora e lucrativa, que os religiosos daqui se aproximem de fato do Criador e de seus anjos.

Alguém aqui, lendo sobre meu ombro, diz que interessa “ao Goiás Esporte” a falência total do Vila Nova. Discordo. Já ouvi de muitos esmeraldinos, mesmo de alguns dirigentes, que “melhor seria se o Vila não existisse”, mas isso me soa falso. Ao meu espírito vila-novense o que soa bem é o constante crescimento do Goiás Esporte, bem como a respeitável ressurreição do Atlético Goianiense. E como eu ficaria feliz se o Vila Nova se recuperasse e, ainda, que o Goiânia Esporte, de tantas glórias, voltasse à posição de destaque que foi o seu lugar nas primeiras três décadas da vida goianiense!...



Ao meu modo, e sem o prestígio e os poderes que ele tinha, sou meio Antônio Acioli, o atleticano que emprestava o campo para o Goiás treinar e que até escolheu as cores do Vila Nova. Quero mesmo é um futebol de alta qualidade, que coloque Goiânia no mesmo nível de Porto Alegre, Curitiba, Recife e Belo Horizonte, rivalizando-se com Rio e São Paulo (onde tudo sempre aconteceu). Não me conformo de ver essa disputa mesquinha, prefiro a disputa de qualidade de talentos e coordenação esportiva em campo, de administrações promissoras nos clubes, e que as torcidas não se digladiem nas ruas, não marquem batalhas pela Internet, não vão armadas aos estádios (arma de torcedor são as cores, as bandeiras o seu canto de estímulo).

Torcida não se forma nas derrotas, mas nas vitórias, principalmente quando recheadas de lances memoráveis, daqueles que consagram atletas para o futuro. Torcidas se fazem de seres apaixonados, e a paixão vem das cores, dos resultados, mas principalmente do balé improvisado que resulta naquilo que aprendemos a chamar de futebol-arte. Nisso, o Vila Nova já foi escola. Pode voltar a ser, pode ressurgir das cinzas de agora, como bem preconizou Jayro Rodrigues em seu artigo de ontem. Estrutura administrativa e patrimônio, dizem, o Vila Nova já tem. Falta zelo. Falta treinar, ensaiar e praticar para convencer todo o elenco de que as vitórias são possíveis. De resto, senhores dirigentes, é ter certeza. Só isso: ter certeza de que a massa que se apelida de “ nação vila-novense” dirá, sempre, presente na platéia. Porque essa torcida não se formou do nada, ela não nasceu do bairro nem se fez tão-somente hereditária, apenas, mas sustenta-se nas glórias acumuladas, glórias essas que, ultimamente, vêm ficando distantes no tempo.

Espero, e torço por isso, que os noticiários dos próximos dias não tragam apenas as fofocas dos desentendimentos internos, sejam eles entre jogadores, entre estes e o técnico e menos ainda entre diretoria e atletas, tendo a equipe técnica envolvida em tais fuxicos.



Nós, torcedores, queremos harmonia, queremos a casa arrumada, o uniforme impecável de cores sagradas pela História e, principalmente, nossos louros de volta.
E quem tem que fazer isso são vocês, dirigentes, técnico, auxiliares e jogadores. Da nossa parte, todo mundo sabe, a peteca não cai. Quero dizer, a bandeira!




Luiz de Aquino é escritor e jornalista, membro da Academia Goiana de Letras. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com

terça-feira, maio 19, 2009

Um artigo de Jávier Godinho

Pois é... A população envelhece, preservando as qualidades individuais, mas os jovens administradores preferem expurgar os velhos do mundo. Será que, aos 70 anos, essas pessoas escolherão o suicídio? Leiam esse artigo do jornalista e pensador Jávier Godinho, meu amigo. L.deA.



Universidade contra maiores

de 70 anos é contra o saber



Jávier Godinho



Quem tem o slogan lindo: “O conhecimento a serviço da vida” não pode sumariamente colocar no olho da rua aqueles cujo crime é haver completado 70 anos.


Quem leu e refletiu no apelo “Fim das demissões aos 70 anos na UCG!”, estampado em outdoors distribuídos no centro de Goiânia, a princípio se surpreendeu. Se procurou se inteirar da realidade e constatou, como nós, a procedência daquele clamor da APUC - Associação de Professores da Universidade Católica de Goiás e do SINPRO-GO -Sindicato dos Professores do Estado de Goiás, ao espanto inicial acrescentou a apreensão, a tristeza e o protesto.

Vai além da burrice e do desperdício. Deve ter enlouquecido quem, numa instituição superior de cultura, ciência e arte, cujo maior patrimônio são os conhecimentos, a título de economia, manda embora ou força a saída daqueles que atingiram, com o aprendizado, a dedicação e a experiência em tantos decênios, o apogeu do saber em sua área de estudos e ensino. Quando a juventude e a sociedade mais precisam desses cérebros, e eles estão aí, prontos, aptos e disponíveis, melhor preparados e lúcidos, os dispensa por preconceito de idade, tão odioso quanto todos os demais preconceitos praticados contra a espécie humana.

“Queremos o fim das demissões de professores (as) aos 70 anos, sem justa causa. O modo como tem agido a instituição, nesses casos, atinge aos/as professores/as como um tratamento desrespeitoso e degradante, desprezando a história de vida de quem deu o máximo de si para a construção de um projeto de universidade” – destacam a APUC e o SINPRO-GO.

Uma universidade, principalmente com o histórico, a importância, os serviços prestados e a tradição da UCG, deve ao mesmo tempo ser amada por todos e amável com todos. Ela pertence ao povo de Goiás, que dela se orgulha e a tem como uma das principais referências da sua educação e cultura.

A UCG é originariamente cristã, católica, comunitária e filantrópica, mantendo, inclusive, um curso destinado a pessoas na terceira idade, chamado UNATI – Universidade Aberta da Terceira Idade. Tudo isso a induz ao respeito à dignidade humana, amor no tratamento a homens e mulheres em todas as fases de sua vida, sendo o amor o fundamento maior da educação, na definição de Pestalozzi.

Quem tem o slogan lindo: “O conhecimento a serviço da vida” não pode sumariamente colocar no olho da rua aqueles cujo crime é haver completado 70 anos. Mais grave ainda, entre os demitidos ou pressionados a pedir demissão, nessa circunstância, estão ex-padres, ex-freiras e cientistas, responsáveis pela fundação e reconhecimento de diversos cursos da UCG, em pleno exercício de suas capacidades.

Os novos valores são imprescindíveis, o rejuvenescimento de toda organização humana é uma exigência das leis da vida mas, nesse contexto, os detentores do maior conhecimento serão sempre indispensáveis.

O outdoor, inteligentemente, chama a atenção para alguns que a humanidade contempla deslumbrada, por haverem sido ou continuar sendo gênios na sua atividade, consagrados mesmo depois dos 70 anos: Albert Einstein, Madre Tereza de Calcutá, Dom Helder Câmara e Nelson Mandela. Nesta relação incluem-se o próprio papa atual, Bento XVI, e Oscar Niemeyer, com mais de 100 anos, ainda consultado para construção de grandes obras arquitetônicas do mundo.

Se tivéssemos contribuído na sua elaboração, teríamos sugerido mais nomes como, por exemplo:

Kant, o maior filósofo alemão, autor da sua Antropologia, Metafísica e Ética, aos 74 anos;

Tintoretto, que aos 74 pintou Paraíso, sua tela mais famosa, com 74 por 30 pés;

Verdi, aos 74 produzindo sua obra-prima Otelo; aos 80, Falstaff e, aos 85 anos, Ave Maria, Stabatt Máster e Te Deum;

Lamark, que aos 79 completou o seu maior trabalho na zoologia: A História Natural dos Invertebrados;

Oliver Wendell Homes, que aos 79 escreveu seu célebre romance Over The Teacups;

Catão, que aos 80 anos começou a estudar grego;

Goethe, que acabou de escrever Fausto, sua maior obra, aos 80 anos;

Tennyson, que aos 83 produziu Crossing The Bar,e Ticiano, que aos 98 anos pintou seu quadro histórico Batalha de Lepanto.

Procuramos e perguntamos à presidente da APUC, Lúcia Rincon, sua opinião sobre essa situação tão absurda e triste. Ela mais do que nos respondeu, falando com o coração:

- Temos sido desrespeitados como professores no dia a dia de nossos trabalhos e nunca interpelamos judicialmente a Reitoria da UCG. Temos sido submetidos ao medo constante. Temos consciência que a UCG não sobreviverá como uma ilha num mercado de bens simbólicos da educação superior privada brasileira. Mas não queremos ser usados como bode expiatório de nenhuma crise financeira, política ou institucional. É preciso voltar a sonhar que vale a pena lutar coletivamente para defender nossos direitos, por melhores condições de trabalho e de salários e por um ensino comprometido com a emancipação humana, onde a igualdade e a justiça sejam seus pilares estruturantes.




Jávier Godinho é jornalista, editorialista e articulista do Diário da Manhã, de Goiânia.

quinta-feira, maio 14, 2009

Ao ex-aluno governador Alcides…

Ao ex-aluno governador Alcides…



Luiz de Aquino


Ah, eu vou falar outra vez do Liceu… Ou do Lyceu, obedecendo a reforma ortográfica. Preciso explicar porque o velho casarão da Rua 21, em Goiânia, está com ares de reforma. Mas, antes, tenho de falar com a alma. Esta alma, a minha.

Quando a gente vira gente-grande, com falas e poses de adultos formados, uma coisa fica inegável: seja qual for a roupa que nos caracterize – a farda dos militares, o jaleco dos profissionais da saúde, o terno dos executivos e os aventais de várias funções -, nossas almas têm roupagem própria.

Não acredito que as almas dos adultos se vistam das roupas de gente grande, não. Até porque acho muito feias as roupas dos adultos. As roupas de trabalho dos homens parece-me sempre um estojo quente, um sarcófago incômodo, um armário trancado cuja chave nunca está ao nosso alcance. Já as mulheres... Bem, as mulheres gostam tanto de roupas que inventaram até um complexo sistema de criação, indústria e comércio que movimenta bilhões de dólares a cada dia no mundo. Mas o que a gente sente mesmo, ao ver uma mulher muito bem vestida, é vontade de vê-la tirando a roupa.

A alma dos adultos se veste de criança. Uma alma adulta está sempre vestida de anjo, ou cultivando a saudade. E nada é melhor no cultivo das saudades do que ouvir uma música de época, sentir um cheiro antigo ou vestir as roupas que nos faziam felizes quando crianças. Por isso eu penso que as almas da gente preferem estar vestidas com os uniformes das nossas escolas.

Meu lado infantil fez-me mandar fazer dois uniformes antigos. Um, do Colégio Pedro II com gravata e emblema. Outro, do Liceu de Goiânia, com a tradicional águia no bolso da camisa branca. E é este meu uniforme da calça cáqui e águia no bolso que conversa hoje com o adolescente Alcides Rodrigues Filho, aluno do Liceu, feito eu.


Vesti calça cáqui e camisa

branca com a águia no peito...


O velho casarão está bonito, governador! Aquela combinação em rosa e branco ficou charmosa e o prédio me parece vestido para um baile de formatura, nos arranjos da versão 2009 da Casa Cor. Claro, uma formatura dos velhos Ginásio e Colegial, ao nosso modo de então. Vasculho livros e papéis antigos, acho História. Vasculho as paredes do casarão, encontro História. Percorro velhas crônicas, minhas e de outros, a História me salta aos olhos e à lembrança.

Mas um hiato se faz, meu caro Governador e ex-aluno Liceano! A História dobrou a esquina e não vê a sombra de anteontem. É preciso, como já propus em outras crônicas, reencontrar a História. E esta, Governador Alcides, é uma medida fácil e ágil. Uma mensagem sua à Assembléia Legislativa e os deputados lhe dirão sim, devolvendo ao Liceu seu nome de origem: Liceu de Goiás. O centenário colégio, hoje com duas unidades – Vila Boa e Goiânia – são um só ser.

Faça a lei, governador. E consolidaremos a História do tradicional e valoroso Liceu de Goiás.



Luiz de Aquino é escritor e jornalista, membro da Academia Goiana de Letras, e escreve aos domingos neste espaço. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com

quarta-feira, maio 13, 2009

CNH: quase tudo normalizado

Luiz de Aquino


Ah, essa intocável burocracia! Saudade de Hélio Beltrão, ministro de João Figueiredo com a meta soberana de eliminar, nos sistemas da administração pública brasileiros os entraves de fluxo papéis e de procedimentos. Infelizmente, o ministro saiu do governo e tudo aquilo que se simplificou voltou ao emaranhado dos carimbos de autenticação, de reconhecimento de assinaturas, de voltar ao começo porque algum espírito de porco resolveu cometer um ligeiro desvio no andamento do processo...

Digo isso por conta do intrincado problema de emissão de carteiras de motoristas em Goiás. Sonho de todo adolescente, carência de um sem-número de profissionais, documento hábil para o exercício quase amplo do solene direito de ir-e-vir, a Carteira Nacional de Habilitação tornou-se o tormento de alguns, em Goiás. Mas esses “alguns” não são poucos, assim. Desde o começo do problema, no comecinho de março, cerca de noventa mil cidadãos do nosso Estado tiveram problemas. Destes, cerca de quinze mil ainda sofriam, na semana passada, pela falta do documento.


Tudo por conta da migração de um sistema (que armazena somente informações no âmbito estadual) para outro, que integra os Detrans de todo o Brasil no acesso aos dados dos condutores habilitados.

Entre sábado e segunda-feira últimos, o Detran de Goiás expediu mais de dez mil carteiras (em renovação). Restam agora menos de quatro mil documentos a serem expedidos pelo sistema, a Binco (Base de Identificação Nacional de Condutores). Aliás, a migração da Binco (o sistema anterior) para a nova base de dados, chamada de Binco Ampliada, foi a causa do entrave. A rigor, todas a unidades federativas tiveram problemas, algumas conseguiram solucionar em tempo menor e nós, goianos, ainda reclamamos.



E com razão. Imagina um cidadão ter de encostar seu automóvel porque a segunda via de sua CNH, devidamente renovada conforme exigem as práticas legais, ainda não foi expedida! E se a CNH é de alguém que a usa para o trabalho, como motoristas de caminhões e ônibus, de táxis, de veículos de emergência etc.? Hoje, a defasagem é inferior a cinco por cento das carteiras renovadas no período. Mas é transtorno. E, infelizmente, essa é a imagem que fica para o usuário dos serviços do Detran. Infelizmente, a interpretação da opinião pública tende à generalização.

E aí, corro atrás de notícias, tento informar-me bem sobre o problema. Isso me toca diretamente, e não só por razões profissionais, mas porque, lá em casa, nossas carteiras devem ser renovadas este ano. Piadas à parte, busco tranqüilizar meu leitor – o Departamento Nacional de Trânsito, em nota datada do último dia 7 de maio, dirigida ao Diretor Técnico do Detran de Goiás , Horácio Mello, informa que o problema de Goiás estará solucionado até o final desta semana.

Boa notícia, enfim. Isso quer dizer que as pouco mais de quatro mil carteiras retidas no sistema estarão disponíveis aos seus donos. Enquanto isso não acontece, o Detran de Goiás fez expedir uma declaração a cada condutor vítima dessa anormalidade. A declaração, como me esclarece Horário, não substitui a CNH: “Nada substitui a Carteira Nacional de Habilitação; essa declaração deve ser apresentada junto com a carteira vencida e visa a justificar, perante os agentes e as autoridades de trânsito, que o condutor está regular, mas que este problema específico impediu-nos de emitir o documento tal como exige o Código de Trânsito Brasileiro”.

Acho que o impasse dá uma advertência e uma lição ao Denatran e aos Detrans: só se substitui um sistema quando se tem certeza do pleno funcionamento da nova base. Ou ficaremos todos a pé. Sem trocadilho.



Luiz de Aquino
é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras. E-mail: poetaluizdeaquino@gmail.com

segunda-feira, maio 11, 2009

Uma crônica de Leda(ê) Selma

Lêda Selma

Ave, Marias!

 

09/05/2009

 

 

Parênteses: com esta crônica reverenciei, ano passado, todas as mães e, em especial, a minha. Há três dias, um leitor brasileiro, residente em Rovigo, Itália, enviou-me um e-mail com o pedido: “Por favor, Lêda, republique aquela crônica em homenagem às mães, porque quero presentear as que me ‘adotaram’ aqui com o seu texto no qual está inserido um poema que muito me emocionou. Por uma pane no computador, lamentavelmente, perdi tudo. Atenda-me. Obrigado”. Então, à crônica, Samuel:

 

Nome-símbolo, Maria. Assim como o segundo domingo de maio. Clichês que criaram raízes e se consolidaram na tradição. Para alguns, puro apelo comercial, esperteza de empresário; para tantos, não mais que simples simbologia; para outros, simbologia que pode se converter em reflexão, em descobertas e redescobertas, em encontros e reencontros, em manifestações de carinho. Sim, e por que não?

 

Clichês, apelo comercial... certo, mas e daí? Mãe é mãe, não importa se domingo, segunda... de janeiro a dezembro, oitenta e seis mil e quatrocentos segundos por dia. Portanto, para ela, tudo é válido. Até um presente em forma de carinho ou um carinho com cara de presente. Lembrança e presente são fundamentais. Se revestidos de carinho, claro!

 

Também, hoje, escolho Maria, nome-símbolo para mãe. E para todas as marias, santas ou não. Maria parideira, Maria das dores, Maria descalça, Maria da vida, Maria das ruas, Maria do mundo, Maria da noite, Maria dos tanques e dos fogões, Maria da mendicância, Maria da fila do SUS, Maria das cadeias, Maria das enfermarias. Maria sem rumo, sedenta, repleta de fomes. Maria de filhos sem sonhos, feitos em série, de pais sem nomes. Maria cheia de raça, mas nem sempre cheia de graça. Maria da maternidade violentada pela perda de um filho e, irreversivelmente, sentenciada à dor eterna. Maria das noites insones, dos pedregulhos na alma e de tantas vias-crúcis. Maria de sonhos espoliados, mas de fé inabalável. Maria das lutas, dos lutos, dos tombos, das buscas intermináveis. Maria rainha, sem coroa e cetro, Maria menina, Maria marias...

 

A você, mãe, que teve o infortúnio de ver um filho preso; a você que gerou um filho deficiente ou fruto do estrupro; a você que acolheu com amor o filho alcoólico ou drogado; a você esquecida pelo filho distante ou magoada pela ausência do filho tão próximo (quem disse que “Ser mãe é padecer no paraíso?); a você que escolheu ser mãe do filho abandonado, da cria alheia, curvo-me: é em seu peito que reside a dimensão maior da maternidade.

 

A você, mãe, mais uma Maria estigmatizada pelo destino ou pela vida; a você que divide com seu filho esperanças débeis e sonhos murchos; a você que faz da coragem trincheira na luta contra a violência e a impunidade, minha homenagem.

 

A você que foi escolhida para colocar a dignidade, o amor e o desvelo acima de qualquer fraqueza, de qualquer medo, de qualquer recuo, eu me penitencio. E o faço com a humildade da mãe que não conseguiu superar suas fragilidades e, por isso mesmo, ainda se encasula na própria dor, como se a sua fosse a maior de todas.

 

Maria, marias, autênticas mulheres, genuínas mães, legítimas santas. Heroínas sem medalhas. Invólucros da própria vida. A elas empresto, neste dia, um poema dedicado à minha mãe, uma jovem de oitenta e oito anos bem-vividos e bem-sofridos, mulher aguerrida, devota de Nossa Senhora de Fátima, frequentadora assídua da Capela Santa Mônica, paróquia Nossa Senhora de Fátima, mãe dedicada, baiana corajosa e arretada. Sua bênção, minha mãe!

 

Mães são manhãs

a colher lembranças

pousadas nas frestas

de tantos silêncios.

São fios de noites

a cerzir saudades

nos beirais do vento.


No rosto, travessuras do tempo

que esconderam dores

e acolheram folias.

E na fundura do peito,

apesar do cansaço,

inda pulsa e reluz,

feito sonho indomado,

um enorme sol

de infinitas pétalas.

 

 

 

 

 

Lêda Selma é escritora e membro da Academia Goiana de Letras.