Palestras e polícias
A noite fechava seu ciclo, dando espaço à luz que, na roça, dizem ser “a barra do dia”. Deixei o Lucas no colégio e tomei o rumo leste pela Avenida Anhanguera. Cheguei à Escola Municipal Alice Coutinho, na Vila Morais, tinha de falar sobre a escrita, a poesia, o jeitão dengoso da prosa em crônica. Dou bom-dia à professora Mara Rúbia, tão-logo a vejo à porta, e quero saber quem foi Alice Coutinho. Uma educadora, conta-me a educadora. Fico feliz: gosto de ver escolas que têm nomes de professores e afins.
Recordo que, no município do Rio de Janeiro, é de lei: escolas recebem nomes de educadores. Com esse argumento, o prefeito César Maia vetou o nome do palhaço Carequinha. E já ouvi de ene professores a mesma pergunta que me incomoda: se ele não foi educador, quem o será?
Falei de versos e músicas, de crônicas e causos. Ouvi alunos a declamar versos e gostei mais de vê-los produzindo paródias e respostas a poemas meus. Claro, sou vaidoso, sim! Fiquei todo, todo ao ver dois painéis – um com poemas de autores goianos (eu no meio) e outro só com minhas crônicas e fotos minhas. Quem não gosta de ser acarinhado, hem? Saí feliz da Escola, afagado pela boa recepção, tanto de mestres quanto de alunos, e cumprimento todos eles abraçando Kamila Marquez, Rodrigo e Elinny.
No mesmo dia, viajei a Pirenópolis. O presidente da Câmara Municipal, Eli de Sá, convidou-me para falar aos vereadores. E sempre há muito o que falar quando a motivação é estudantes e poesia; ou Pirenópolis. Pirenópolis é poesia sempre. E música. E tela e tinta. Pirenópolis é vida!
Vivi um dia feliz. Muito feliz!
São assim os dias, sempre. Os meus dias. Escrever, fazer contas várias, incomodar-me no trânsito, sofrer com os noticiários prenhes de notícias ruins. Os dias são, para todos nós, sequências de pequeninos fatos de vários matizes. Triste é viver uma situação vexatória, algo que nos dá a sensação de violados. Ai, a gente reage... Contei, na crônica de quarta-feira última, de quando minha amiga contestou um policial que punha o carro sobre a calçada, obrigando pedestres e transitar na pista asfáltica. “Polícia pode”, disse o soldado, e ela retrucou: “Pode nada”. Esse feito foi da professora e advogada Sonia Marise Teixeira, e não de Maria do Rosário Paranhos. Esta viveu um outro momento, mas com um suposto policial à paisana que, de longe, mostrou uma carteira dizendo “Sou policial, está vendo?”. Rosário é, tal como Sônia, professora e advogada (elas não aceitam desaforos), e o desafiou: “Traga aqui essa carteira e verá o que faço com ela”. O homem não se aproximou, devia ser mesmo um impostor. Mas exerceu a truculência típica dos mal-educados (há mal-educados em todas as profissões, a gente sabe).
Na quinta-feira passada, 27 de agosto, meio-dia e meia, mais ou menos, uma gangue de jovens em motos causou um início de pânico à saída do Colégio SESC Cidadania, no Jardim América (a cerca de três quadras de uma delegacia da Polícia Civil). Alguém detonou uma bomba (caseira?), o bando ameaçava atropelar crianças e adolescentes, capacetes foram arremessados. Vários pais acionaram o telefone 190, mas a PM demorou a chegar. Não sei a razão da demora, mas os minutos de espera foram angustiantes.
Uma pena que a PM nunca responda ao que a imprensa conta. Ela pode?
Luiz de Aquino (poetaluizdeaquino@gmail.com) é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.