Luiz de Aquino
Esta semana, passeei meu espírito por um Brasil especial, o Brasil das artes. O Brasil das bandas do interior e das escolas fundamentais e médias, com os tradicionais uniformes e a formação militar (as bandas, por algumas décadas, restringiram-se ao ambiente dos quartéis militares).
Em 1967, um moço mal entrado em sua faixa dos vinte anos, cantou num festival: “Estava à toa na vida, o meu amor me chamou / pra ver a banda passar, cantando coisas de amor”. Esses versos, acasalados com a melodia num arranjo de metais e percussão, reconduziu a nação brasileira às bandas que, atualmente, tentam (e conseguem, felizmente) ressuscitar pelo Brasil afora. Mas “A Banda”, quando apareceu, sofreu um comentário infeliz de um dos críticos que, na época, constituíam o júri do programa de Flávio Cavalcante. Mister Eco (era o pseudônimo do crítico musical) condenou a música, arrematando com a frase: “Banda não canta. Banda toca!”.
Como se vê, o crítico não aceitava a metáfora. Mas, apesar dele e de sua frase, o Brasil inteiro virou banda e cantou coisas de amor. Éramos uma imensa banda de quase noventa milhões de músicos naqueles anos finais da década em que tudo mudou. Mas existem críticos e Críticos. E separá-los é uma função “crítica” que, nós, os mortais menores, temos de fazer, tornando-nos “críticos de críticos”.
Vejam o que contou o jornalista, professor de Literatura e cronista exemplar Sinésio Dioliveira:
“Outro dia li em um site as críticas de alguém sobre o filme “O curioso caso de Benjamin Button”, dirigido por David Fincher e que tem o ator Brad Pitt vivendo o papel de Benjamim. Tal filme é baseado num conto escrito em 1922 por F. Scott Fitzgerald. A mutamba do crítico comeu feio na parte do nascimento do protagonista da história: Benjamin, que nasceu velho, já com 80 anos de idade. Para esse alguém, “o nascimento fugiu da verossimilhança”
(da crônica “Filme e livro possuem belezas distintas”, no DM, quinta-feira, 29 de outubro de 2009).
Curiosamente, tanto Mister Eco (em 1967) quanto esse “alguém” que Sinésio citou são pessoas que vivem disso, de criticar. É sua profissão, ou, ao menos, seu ofício diletante (e geralmente somos menos imperfeitos nos nossos ofícios diletantes do que no desempenho das nossas profissões). Alguns desses críticos são professores em salas de aula, ensinando errado.
Todos somos alvos fáceis da crítica. Basta-nos atuar na expor ideias e opiniões para, de imediato, sermos avaliados. Eu, que sou leitor há sessenta anos, (aprendi a ler aos quatro anos e nunca mais parei), seleciono, dentre o que leio, o que me agrada, o que me ensina e o me dá prazer.
Nunca procurei Cervantes, Camões, Castro Alves, Machado, Lins do Rego, Jorge Amado, Moacir Sclyar, Bernardo Élis, Lya Luft, Adélia Prato, Gilberto Mendonça Teles, Afonso Félix, Brasigóis Felício, Maria Helena Chein, Heleno Godoy, Décio Filho ou seja lá quem for dentre os meus preferidos para dizer-lhes o que escrever. Apenas os leio.
Mas há quem me procure para “me orientar”.
Gente, isso ofende. Dói, até! Em lugar de dizer-me o que escrever, essas pessoas deviam, sim, escrever sobre o que gostam. Estranhamente, são as pessoas que querem ler sobre as flores, o amor de olhares, a doçura da resignação religiosa. Rejeitam em mim o cidadão comum, o homem que cobra dos poderes e das instituições o procedimento que atenda àquilo de que a sociedade carece.
Fico mais para Geraldo Vandré. Eu falo das flores, mas mostro o canhão.
Luiz de Aquino é jornalista e escritor (poetaluizdeaquino@gmail.com), membro da Academia Goiana de Letras.