Os bons não se omitem
“O que mais preocupa não é o grito dos
violentos, dos corruptos, dos desonestos,
dos sem-caráter, dos sem-ética. O que mais
preocupa é o silêncio dos bons" (Martin Luther King).
A citação de Martin Luther King, assassinato na “maior democracia do mundo” por lutar pela igualdade e pela paz, pelo respeito ao próximo além das diferenças pela cor da pele, vem ganhando corpo na Internet, mas, como sempre, de forma distorcida. É que o galo cantou, mas a esta altura há quem afirme que não, o que se ouviu foi um solo de clarineta.
Ouvi num debate na tevê: “Quando se discute muito sobre qualquer coisa, a verdade tende a desaparecer”. Não anotei, mas juro que tento reproduzir do modo mais fiel possível.
Voltando a Luther King, acredito que os bons de verdade não se silenciam.
Ultimamente, recebo um respeitável volume de mensagens alusivos ao momento político. Umas exaltam os feitos de Luiz Inácio e insinuam apoio à ministra Dilma Roussef na corrida sucessória; outros, execram o governo e o presidente Lula, chamam Dilma de terrorista, assaltante e assassina e exaltam o governador José Serra.
Os veículos de notícias não têm espaço para divulgar tudo o que se colhe. Nós, jornalistas, ficamos sabendo de muita coisa, até mesmo do que não nos interessa nem deve interessar aos leitores. Mas temos, em geral, memória boa. Com o passar dos anos, fazemos interessantes analogias.
Os que defendem Serra não admitem lembrar, de modo algum, denúncias feitas e não esclarecidas. Ignoram o fato de ele, ao lado de outro ministro de sua época, tratar com desdém e mesmo com grosseria militares da FAB, tripulantes das aeronaves que os transportavam de Brasília a São Paulo todas as semanas. Fazem questão de não saber do modo truculento como trata funcionários em movimentos reivindicatórios (professores especialmente), com a polícia tratando-os como bandidos.
Os que defendem Lula e Dilma posam hoje do mesmo modo como os que, há oito anos, eram seus alvos. Os pró-Serra, agora, agridem Lula por sua simpatia a Fidel, responsável maior pela cinqüentenária ditadura cubana, agora tachada de cruel. Estranhamente, eles se compadecem dos cubanos exilados, mas silenciaram-se quando a “nossa” ditadura exilou, perseguiu, prendeu e arrebentou (literalmente). “Ah! Eram terroristas”, dizem. Mas os inimigos de Fidel são pessoas de bem. Tanto quando “os bons” de cá que ficaram em silêncio.
O que os “do Serra” não perdoam é o fato de Lula ter mantido a economia sob controle, ter cumprido um programa social de inclusão e ter expandido o sistema de ensino. Alegam que ele continuou o que o antecessor começou. Ora, se as regras econômicas apontavam o rumo certo, o certo seria mesmo mantê-las. Mas “os bons” não querem lembrar que o presidente Fernando Henrique chegou a declarar que reduziria as universidades brasileiras a apenas três (nos Estados Unidos, contava uma matéria jornalística da época, havia cerca de cinco mil).
Os lulistas xingam a grande imprensa que, sem pejo, demonstra apoio ao governador Serra na sucessão de Lula. Imprensa boa é imprensa do nosso lado. Ou, como “define” Millor Fernandes, “democracia é quando eu mando em você; ditadura é quando você manda em mim”.
Esquecendo por instantes que é tempo de se trocar o presidente, e isso se fará pelo voto, indigna-me o fato de que dois partidos, apenas, decidem cada um sobre apenas um nome e polarizam a escolha. Dentro de ambos os partidos pólos, reconheço nomes muito mais interessantes, na minha ótica, mas não poderei votar democraticamente em quem escolheria.
E agora? É democracia? Ou uma ditadura partidária oriunda das obscuras batalhas internas de cada sigla, hem?
Luiz de Aquino (poetaluizdeaquino@gmail.com) é escritor e jornalista, membro da Academia Goiana de Letras.