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domingo, fevereiro 27, 2011

A estátua seria outra


O molde, ainda em gesso (1999).
A estátua seria outra



De novo este tema – mas não fui eu quem o trouxe de volta, apenas li na imprensa. Sim, é a estátua equestre de Pedro Ludovico.

Continuo dizendo, teimando, que a sugestão mais a concepção do monumento somam-se num mesmo  erro. Qual? A evidencia histórica, já que Pedro Ludovico nunca foi cavaleiro. A imagem nos remonta a militares e desbravadores dos séculos XIX e anteriores, ou a fazendeiros e tropeiros das décadas do século passado que antecedem as rodovias e as carretas. Pedro era o cidadão fundamentalmente urbano, goiano de nascimento, mas carioca durante os estudos acadêmicos e refinado médico. Do cavalo serviu-se poucas vezes, como montaria, mas sua vida marcou-se mesmo pela política, exercida em gabinetes e viagens por trem, automóvel e avião. Bem que Bernardo Elis insistiu noutro conceito para a estátua, e a família do fundador de Goiânia incomoda-se com a imagem que se tenta impor aos pósteros.



Pedro: homem urbano
Errou-se, pois, no momento de se sugerir a estátua equestre, porque a ideia não foi exposta para discussão e... iluminação! Faltou luz histórica. A extraordinária escultora Neuza Morais concebeu a obra para um pedestal elevado, e as dimensões do cavalo e do homem fizeram-se sob regras de perspectiva, coisa minuciosamente calculada; e ao instalá-la, vinte anos depois da proposta inicial, escolheu-se o lugar errado e errou-se também ao se conceber o pedestal, que nos mostra proporções aparentemente distorcidas, um “erro” que se corrige com a instalação correta da obra.

Historiadores, jornalistas, publicitários, urbanistas, profissionais de turismo e muitos outros deviam ter participado desse esforço. E, principalmente, a Câmara Municipal deveria ter sido mobilizada, mas para isso seria necessário também que os vereadores tivessem a humildade de cercar-se de assessores com competência para enxergar e analisar a cidade em seu todo, e esse todo não pode ser apenas geográfico, mas também histórico, com os olhos voltados para além do horizonte e do tempo.
Nos primórdios... Esse obelisco foi injustamente demolido para dar lugar ao
Monumento 
às Três Raças; como se faltasse espaço em Goiânia.



Para ilustrar, recordo uma mesa-redonda provocada pelo saudoso professor Venerando de Freitas na Câmara, em 1979; o primeiro prefeito de Goiânia, que desfrutou da proximidade e da amizade de Pedro Ludovico, tentou evitar que mudassem o nome da Praça Cívica para Praça Doutor Pedro Ludovico Teixeira. De nada adiantou, os vereadores não quiseram ouvir Venerando nem seus assessores e votaram a mudança. Hoje, que ficou público o fato de que a Praça Cívica é território estadual, é provável que tal lei caia por terra, mesmo porque jamais entrou em uso: o povo só diz Praça Cívica.
Venerando de Freitas Borges, primeiro prefeito
 de Goiânia

Venerando, naquela ocasião, lembrou que Pedro Ludovico riscou seu nome da principal avenida na planta original da cidade em  projeto, substituindo-o, de próprio punho, por Avenida Goiás, declarando de viva voz:

– Vamos homenagear a minha cidade.

Naquele tempo, o Parque Agropecuário se chamava Pedro Ludovico; e também o Estádio Olímpico, na Avenida Paranaíba; já existia um bairro na zona sul da cidade e uma avenida, na parte oeste, com o nome do fundador (esta, em frontal desrespeito, é interrompida por três grandes construções, já contei isso noutra crônica).


 Busto de Pedro Ludovico no Palácio das Esmeradas


A estátua já rendeu o que devia; vem aí a esperada mudança de local e a pessoa que insistiu no cantinho de praça, o fundo de quintal do Palácio, este já deve ter fotografado e filmado para que seus bisnetos saibam que vovô, um dia, conseguiu interferir na vontade do Estado.




* * *




Luiz de Aquino (poetaluizdeaquino@gmail.com), 
jornalista e escritor.

sábado, fevereiro 19, 2011

Limpando as fardas

Limpando as fardas


Nós, jornalistas, como trabalhadores da comunicação vemo-nos, muitas vezes, na iminência de  invadir privacidades; é preciso discernimento. E muitas vezes arriscamo-nos a erros de apreciação e a causar danos. Então, esbarramos na ética, o que é muito ruim. Ou na lei, o que é ruim, também. E a têmpera dos valores morais conduzem-nos a sempre consultar a ética, o que acaba, muitas vezes, percorrendo a linha do subjetivo.


Sempre tomei, nestes quarenta e poucos anos de prática jornalística, cuidados no sentido de conversar muito com os colegas. Especialmente com os mais antigos, no sentido de aprender e apreender conceitos e valores. E jamais me neguei a ouvir e responder quando procurado pelos mais jovens. Os efeitos são excelentes! Tanto se ensina quanto se aprende, porque nenhuma geração domina verdades.

Houve um tempo em que a palavra “corporativismo” tornou-se freqüente nas páginas escritas e nos blocos noticiosos da mídia eletrônica. E, como acontece quase sempre, com um sentido pejorativo. Não entrei na onda, pois sempre me entendi corporativista sem adotar o protecionismo cego e burro dos membros da “minha” comunidade sem um juízo de valor. Acreditei, sempre, que uma fruta podre apodrece o cento, por isso entendo que corporativismo implica, sempre, na depuração do grupo.


Mj. Araújo, deputado
Acho que foi isso que quis dizer o deputado Major Araújo, que espera os resultados das investigações e, caso se confirmem, as punições sejam exemplares. O que salva a corporação é o expurgo dos que lhe são nocivos, óbvio! É este, para mim, o objetivo principal do corporativismo: manter a corporação limpa e apta e cumprir seu papel ante a sociedade. O contrário é a definição que atemoriza a sociedade – o corporativismo deletério, aquele que defende o “irmão de farda” ante qualquer circunstância. Espero que a Policia Militar de Goiás esteja mobilizada no conceito que defendo, depurando-se dos que a sociedade tem por indesejáveis.

E falamos, sob as investigações dessa Operação Sexto Mandamento da Polícia Federal, de uma corporação que conta mais de 150 anos de existência. O que entendi da fala do deputado Major Araújo foi isso, mas preocupa-me a postura das entidades que representam os policiais militares, sobretudo quando reagem ao fato de os militares presos serem conduzidos a uma prisão federal, em lugar de serem acolhidos (a palavra é esta, se as associações forem atendidas) nos quartéis. Este é o corporativismo que me preocupa, o da proteção em lugar da punição.




Curiosamente, duas operações da Polícia Federal atingiram corporações policias, esta semana: a Operação Guilhotina prendeu 37 (sim: trinta e sete) policiais civis no Rio, incluindo-se aí o subchefe da Polícia Civil; e a Operação Sexto Mandamento, atingiu de imediato dezenove policiais militares, tendo como estrela maior o subcomandante Geral da PM.



Desde a segunda-feira, tenho em mira escrever algo para situar os abusos cometidos por alguns agentes de trânsito de Goiânia. A corporação é nova e tem poucos membros: pouco mais de duzentos, quando a própria lei pede, para a cidade, aproximadamente um mil agentes. Mas esse pequeno grupo já dá mostras de desvios, com agentes cometendo atos de arbítrio, causando elogios aos soldados da PM, mais hábeis no trato com o público – esta habilidade, sim, é o que a sociedade espera dos agentes públicos, e não  a truculência dos que tentam impor-se pelo grito ou, quando armados, pelas balas.


Cabe ao prefeito, aos vereadores e aos executivos da área promover ações que resultem na depuração dos quadros da AMT, em lugar de permitir que cresça com os vícios que macularam as forças de repressão nas décadas de chumbo e sangue. A sanha autoritária emite multas a bel-prazer e o contato entre o funcionário e o cidadão resulta em humilhações para o pagador de impostos. Os agentes valem-se do acesso a dados cartoriais, a partir da placa dos veículos, e alguns abusam desse privilégio – exemplo maior fica com o jornalista Rosenwal Ferreira, a quem alguns agentes (certamente, são aqueles ligados ao corporativismo negativo) ameaçaram via de mensagens por e-mail e telefone. Entendem eles que o articulista, tanto quanto eu e certamente outros colegas da imprensa, semeia ódio aos agentes entre a população, quando essa culpa é justamente dos maus funcionários da AMT. E, como disse Rosenwal, há, sim, uma maioria de bons e corretos profissionais naquela corporação; o que se deve fazer é melhorar a qualidade de toda a instituição.

A eles, policiais civis e militares, bem como bombeiros e agentes de saúde, de trânsito, de fiscalização etc., cabe agir no sentido de preservar a ordem social, seja assegurando o direito de ir e vir, o de não ser molestado em sua individualidade etc. etc., e a nós, os da imprensa, cabe noticiar os fatos. E as notícias, infelizmente, têm o gosto amargo dos erros. Triste é noticiarmos que algum agente, de qualquer segmento do serviço público, merece ser notícia  porque cumpre o seu dever; é sinal de que o todo está podre.


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Luiz de Aquino – poetaluizdeaquino@gmail.com

domingo, fevereiro 13, 2011


Amigos leitores,
O Diário da Manhã, em sua edição de sexta-feira, dia 11/02/2011, publicou uma carta minha nestes termos, com excelente ilustração por um dos artistas da casa. Eis a íntegra da minha carta:


A folga do agente AMT

O aumento da frota de veículos automotores é prenúncio de caos em todas as cidades e rodovias brasileiras, todos sabem disso. Usuários das redes viárias, condutores, pedestres de todos os conceitos e, talvez, até os cães sabem que houve mudanças; menos os administradores dos serviços públicos. A bem da verdade, administradores e agentes.
Esta semana, tentava estacionar no pátio do Mercado Central e encontrei uma vaga. Muito difícil, uma viatura da AMT – Agência Municipal de Trânsito, órgão da Prefeitura de Goiânia para todas as questões da ação de ir-e-vir, parou de modo totalmente irregular, ocultando a faixa divisória. Na fila em frente, um carro saiu; preferi a nova vaga. Ao desembarcar, notei que uma viatura de outro órgão municipal manobrava pacientemente para ocupar a vaga que eu desprezara; brinquei com os ocupantes, que, com o mesmo humor, ridicularizaram o colega da AMT; o passageiro recomendou ao motorista que parasse bem próximo, de modo que o infrator não tivesse como abrir a porta.
Foi então que notamos: algum outro motorista, igualmente chateado, escreveu num papel que colocou no parabrisa do faltoso: “Multado. Dê o seu exemplo”.
Quando saí, a viatura do Trânsito Municipal não estava mais lá; o porteiro, divertindo-se com a situação: “Ele (o fardado) ficou sem-graça”. Vale registrar que o estacionamento no pátio do mercado custa ao usuário R$ 2,50, mas os veículos da Prefeitura não pagam, pois o espaço é da municipalidade. Os comerciantes do Mercado entendem que o usuário consumidor não devia pagar, mas um carimbo no bilhete de estacionamento reduz somente parte do custo. E o gaiato da AMT acha-se, cheio de poder e “fé pública”, no direito de fazer o que bem entende.

Luiz de Aquino, escritor e jornalista.


* * *

No dia seguinte, dia 12, o Sr. Jairo Souza, da Agência Municipal de Trânsito de Goiânia, manifestou-se indignado, chamando-me, já no título, de ignorante. A mágoa do agente está justificada nas tentativas de legitimar a si mesmo ou a algum colega seu que estacionou a viatura da instituição de modo irregular, ocupando duas vagas no exíguo pátio de estacionamento do Mercado Central – espaço também pertencente ao Município.
Ele me qualifica de ignorante no título, mas no primeiro parágrafo reconhece minha competência como jornalista. Muito obrigado! Devo compreender que o agente de Trânsito aprendeu rapidamente a lição; vejam como redigiu o titulo, e sigam o texto de sua carta, buscando explicar o inexplicável e justificar o injustificável:



Ignorância do Escritor

Ao ler o Diário da Manhã de ontem, pude ter certeza da distorção da imagem do agente de trânsito ou de, n o mínimo, falta de ética e despreparo de alguns profissionais. O jornalista e escritor Luiz de Aquino escreveu o texto “A folga do agente da AMT”. A mensagem, tendenciosa e pessoal, já começa no titulo, chama a atenção e faz o leitor se interessar pelo que vai ler. Uma tática muito eficiente dos jornalistas.
Mas a “folga” do agente AMT quer dizer que ele está ali trabalhando, fiscalizando. Certamente não estava naquele local a lazer ou para fazer compras. O Código de Trânsito resguarda ao agente de trânsito, no exercício de sua função, livre circulação, parada e estacionamento (Art. 29, VII do Código de Trânsito Brasileiro). Muitas vezes é preciso estacionar de uma maneira incorreta para fazer a fiscalização. O interessante é que viaturas de órgãos da segurança pública (sic) estacionam em calçadas (o que é resguardado pelo CTB) e não se ouve um terço dos desabafos que os agentes ouvem.
Talvez quando o senhor Luiz de Aquino tenha voltado ao estacionamento a viatura não estava mais lá por ter saído para atender outra ocorrência e não por ter ficado “sem graça” com o comentário sem fraca despejado sobre aquele trabalhador. Somos poucos agentes para o quantitativo de veículos e ruas da Grande Goiânia, e na maioria das vezes esperar por uma vaga significa um atendimento mais lento dos outros munícipes, que precisam dos serviços da AMT. Cada profissional, ao ser emprenhado em uma missão busca cumpri-la de forma mais eficiente e eficaz possível. O agente ao estacionar fora do local apropriado certamente prestou assistência necessária naquele local. O jornalista e escritor Luiz de Aquino, ao escrever e ilustrar seu texto mal-intencionado, conseguiu despertar a revolta e ódio em milhares de leitores aos agentes da autoridade de trânsito que seguem o Código de Trânsito Brasileiro para cumprir seu papel. 
Jairo Souza, agente de trânsito, via e-mail.


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A repórter Eliane Barros, dos quadros do DM, saiu em minha defesa antes mesmo que eu tomasse conhecimento da defesa de Jairo Souza:



Ignorância do agente

(Resposta ao artigo publicado no sábado, 12 na página 20).

Escrevo em resposta a opinião do agente de trânsito Jairo Souza, publicado no último sábado, 12, sobre sua visão de “ignorância” do jornalista e escritor Luiz de Aquino. É claro que de ignorância o senhor agente entende muito, afinal saberia que o escritor Luiz de Aquino é um dos maiores nomes do jornalismo opinativo em Goiás, sendo respeitado por todos onde quer que vá? Se Jairo Souza tirasse um tempo para se manter informado, saberia disso, porém, sua “ignorância” não lhe permite.
A imagem dos agentes de trânsito para nós (população) não foi mascarada pelo texto do escritor, mas sim, por atitudes praticadas pela grande maioria deles. Sempre ignorantes e “donos da razão”, agem como se fosse verdadeiros militares, quase dando voz de prisão por questões simples. Como repórter na editoria de cidades, em 2010 fiz a cobertura de um fato desagradável ocorrido na estreia dos jogos da Copa do Mundo com dois agentes. Nesse dia, tive a certeza de que são realmente arrogantes no exercício de suas funções. O saldo da arrogância foram dois agentes surrados, o irmão de um deles com um dente quebrado por familiares dos agredidos na porta do 1º DP de Goiânia.
Conclusão: Os agentes de trânsito querem agir como policiais militares do Batalhão de Trânsito, e sequer estão preparados para abordagens perigosas. Os citados acima, por exemplo, fizeram dessa forma. Apanharam muito para saberem que algumas ações, fora a de “multar”, devem receber reforço policial. O exemplo disso ocorreu com meu irmão. Numa ocasião, foi abordado por militares do Batalhão de Trânsito. Educadamente o policial o avisou do erro cometido no trânsito e lhe pediu os documentos da motocicleta e habilitação. Ele foi verbalmente advertido e dispensando.
Em outra ocasião, dessa vez com dois agentes da AMT, foi diferente. Os agentes gritaram e o humilharam com palavras pejorativas, como quem precisa mostrar que está no comando. Imaginem se fazem isso com um bandido? Levam tiro, afinal, os agentes andam desarmados e mesmo assim querem fazer além do seu papel de multar. Na ocasião (com meu irmão), foi necessário que a PM interviesse liberando-o da mal sucedida abordagem dos agentes da AMT e avisando que o mesmo não cometia infração alguma na situação. A sociedade goiana conhece e sabe: agentes de trânsito andam pelas ruas como verdadeiros donos da razão, impondo mais medo até que a própria Polícia Militar. Sim, porque se me aplicarem uma multa por motivo pessoal, será a palavra dele (que tem fé pública) contra a minha, mera cidadã. Portanto, caro agente Jairo, assim como ostenta respeito pelas ruas e o exige, respeite os jornalistas, em especial o senhor Luiz de Aquino. Ele sim, tem o respeito da sociedade goiana, sem precisar impor. Aprenda com ele a ter seu espaço e respeito perante os goianos, ou mude de profissão.

Eliane Barros, jornalista.



* * *

Decidi que tenho, também, de ajustar meus argumentos: 

Agora, a tréplica

O agente Jairo fez questão de ignorar o que eu disse: seu colega (ou terá sido ele próprio? Ele não esclareceu se tem procuração ou missão de defesa dos agentes AMT, por isso suponho que sua carta seja um esforço de autodefesa) estacionou como um péssimo motorista, simplesmente; como a função de agente de trânsito pressupõe não apenas conhecimento das leis mas também perícia na condução de veículos, concluo que ele estacionou mal por livre intenção, escorado nas prerrogativas citadas pelo agente Jairo, de parar ou dirigir como bem entende. Isso, a rigor, é abuso de autoridade.
Engana-se ele sobre a omissão quanto ao fato de veículos dos órgãos de Segurança Pública estacionarem como bem entendem ou, o que é trivial (inclua-se aí também os funcionários da AMT), ignorarem completamente o cinto de segurança. Noutras Unidades Federativas, o assunto já foi tema de reportagens várias e as autoridades sempre responderam que tomariam providências; em Goiás, isso jamais acontece.
Eu não disse no meu texto que o agente foi comprar chuchu ou rapadura para si mesmo ou o chefe – Jairo é quem insinua algo parecido. Ele deixa de comentar, junto com o valor (que todos sonhamos ver nos agentes de trânsito de Goiânia) o arbítrio de alguns colegas seus, emitentes de multas inexistentes, sustentados pelo argumento da “fé pública”. Nos últimos anos, multas por uso de celulares ou falta de uso do cinto de segurança têm sido expedidas sem que os supostos infratores sejam notificados. Com isso, a defesa cai por terra – é a mais nítida evidência do abuso de autoridade.
A má educação dos agentes para com as pessoas, seja na condição de condutores ou de pedestres, é notória, como se vê na argumentação de Eliane Barros, repórter.
Eu disse, já no início da minha carta, que o contingente de guardas é muito inferior ao que preceitua o Código de Trânsito Brasileiro; isso é uma evidência de que as autoridades municipais da capital descumprem o citado Código. Os agentes mal-intencionados também abusam da autoridade que lhes é conferida, escorados na falta de seus superiores. Os que assim agem são, realmente, mal-intencionados, não eu que, como jornalista e cidadão, denuncio essas mazelas.
A lei, Sr. Jairo, dá-lhe essa tal “fé pública”, a mesma em que seus colegas (e talvez o Sr. também) se escudam para ligar sirenes quando não é necessário ou estacionar obliquamente, invadindo a vaga ao lado, como se isso fosse a medida exata para solucionar um grave impasse ou salvar uma vida. O Sr. sabe, não é este o caso. Esclareça, Sr. Jairo, que a jurisdição de seu trabalho é o município de Goiânia; ou a AMT, agora, é uma agência metropolitana?
E sobre fé pública, quero dizer-lhe que eu, jornalista e escritor, tenho-a também no que se refere a aceitação, pelo público, das coisas que há mais de quarenta anos escrevo em jornais, revistas e livros. Para isso, não precisei de fardas nem de leis.
Por fim, dedicado agente, se milhares de pessoas na população goianiense tem ódio dos agentes AMT, a causa jamais seria a minha carta, e sim a ação deletéria de seus colegas no trato com o público. Disso todos sabem, não seria necessário uma pequenina matéria da minha lavra a levantar multidões, como os eventos que resultaram na queda do ditador egípcio.
Mas quem tem telhado de vidro que se cuide. O goianiense, Sr. Jairo, não é bobo.

Luiz de Aquino – jornalista e escritor

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Ditadores e patriotas


Ahmadinejad
Mubarak
Qual o tamanho do Exército chinês?



 Ditadores e patriotas

Por Luiz de Aquino 


Osama, Obama, Mubarak, Mahmoud Ahmadinejad… Nomes internacionais em voga, ou melhor, na moda da mídia!

No decorrer da campanha eleitoral do ano passado, a direita pró-José Serra acusava o presidente Lula de ser simpático – ou mesmo amigo – do presidente déspota nada esclarecido do Iran. Mas essa mesma direita jamais reclamou das relações do governo brasileiro com a mais sangrenta das ditaduras atuais, a da China.


Latino; ou cucaracha
Suponho que, como era nos anos de 1950, essa gente que se posiciona contrária aos programas sociais que beneficiam os pobres apenas repete os sons e as imagens que vêm  do Norte; para eles, tio-sam é a Marta Rocha dos vovôs de agora, a belíssima Cléo Pires nesta geração: um ícone irrefutável! Os “irmãos do norte” ficaram tão ricos que mesmo as profissões mais humildes – na visão dos preconceituosos escravagistas nacionais – tornaram-se, para eles, funções de realce; as profissões que os nativos dos EUA se recusavam a exercer ficaram para os imigrantes chineses, italianos e... latinos – epíteto para generalizar todo cidadão americano que não tenha o inglês como língua máter.


Chaves, Evo e Lula 
Tudo isso eu digo para situar a análise dos burgueses nacionais contra um governo popular. Para mim, Lula foi tão bom ou tão ruim quanto seus antecessores (destes, não listo os militares; para mim, os generais golpistas exerceram missões de comando, não foram propriamente estadistas; militares com “visões” políticas sempre deram golpes, foi assim que chegamos à República). O erro internacional de Lula foi criar laços de amizade com Chaves, Evo e Mahmoud Ahmadinejad. Com os chineses, não; estes são famosos por infringir medidas que visam a assegurar o que se tem como “direitos humanos”. Ditadores da China são bem aceitos pelos Isteites... Chaves e Evo, não: latinos, têm caras de mestiços, são de raça inferior. Ahmadinejad é terrorista, fala-se que constrói bomba atômica. Mas a China protege a Coréia do Norte, que tornou público seu propósito de construir armas nucleares e ataca a Coréia do Sul, além de desacatar a (ainda) maior potência econômica e bélica da atualidade.

Arbítrio e desemprego, estopim da crise egípcia.
E aí, vemos a ação decidida dos jovens egípcios. Cansados de conhecer apenas um governante em toda a sua vida, dois terços da população do Egito ocupou as ruas. O ditador estava no cargo há apenas 31 anos. Sim: trinta e um! O general sem farda cuidou de construir sua morada no meio dos quartéis generais das três forças armadas e da polícia, certamente supondo que ali morreria aos cento e tantos anos, ainda no poder. Sua polícia pareceu, durante os conflitos urbanos, uma quadrilha de salteadores, inimigos dos que não usam fardas. No terceiro ou quarto dia, dispersou agentes à paisana para bater de frente com os contrários, como se os policiais disfarçados fossem seguidores ideológicos do regime.

A rejeição é unânime, mas Mubarak diz que não sai.

Surpreendente, mesmo, foi ouvir Barak Obama referir-se a Mubarak como “um patriota”. Só se for um patriota norte-americano governando um país “amigo”. Como se vê, amizade entre governos não é o mesmo que amizade entre pessoas. “Nação amiga”, no linguajar dos mais poderosos é “nação que nos serve”. Sabemos, hoje, que as ditaduras militares em toda a América Latina, nas décadas de 1960 e 1970, foram idealizadas e patrocinadas pelo capital da “maior democracia” (só para eles; para nós outros, ditadura!).

Obama diz que Mubarak é patriota...

Bem: os EUA liberaram a América; e governos antipáticos, como o da Venezuela e o da Bolívia, são, para eles, ditaduras. Até que ponto isso interessa a nós, brasileiros? Chaves montou, sim, um curioso sistema “democrático” pelo qual ele se reelege indefinidamente, com a cobertura das armas e do seu parlamento, tal como Mubarak fazia há mais de trinta anos – mas Mubarak é patriota, Chaves não.

Castelo Branco aponta; Costa e Silva tenta enxergar...
Os generais brasileiros também criaram um modo de disfarçar a ditadura ante o “concerto das nações”, mantendo o Congresso aberto e funcionando, a Justiça agindo e as eleições acontecendo; os governos eram “eleitos” indiretamente – tudo isso sob seu rígido controle. Não fosse a vigília dos artistas e dos intelectuais, teriam burlado a história; a receita, no papel, dizia haver eleições populares para os parlamentos em três níveis; parlamentares elegeriam os Executivos... Só não contavam que os suspeitos de lhe serem contrários eram impedidos de se candidatar.


China: o milagre sangrento ameaça o mundo
Em suma, vejo que o mundo do Alcorão está despertando para a realidade dos nossos dias. A mão de ferro do ditador do Iran parece enferrujar; a pretensão chechena de surgir como nação islâmica pode ser um equívoco pela ideologia religiosa (é certo que viver sob o jugo de um regime igualmente sanguinário, como o russo, não é lá coisa que agrade). O dinheiro no mundo democratiza-se  rapidamente e nações até há bem pouco tempo esquecidas surgem como os novos poderes do século – e voltamos à velha e, até aqui, silenciosa China…

No nosso íntimo, continua a dúvida... Mubarak é mesmo um patriota egípcio? Considero que nenhum ditador, em língua nenhuma, é patriota.


* * *


Luiz de Aquino – poetaluizdeaquino@gmail.com -  é escritor. 

quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Recebi e gostei!

Ah, eu poderia apenas transcrever aqui o endereço do blog do Circo Voador (Rio de Janeiro; mais precisamente, Lapa!), que é http://novasdocirco.blogspot.com/2011/02/resultado-da-promocao-lobao-e-voce-mil.html; mas preferi selecionar, copiar e colar. Quem me passou essa notícia aí em baixo foi a minha querida amiga (ex-colega do Colégio Pedro II) Sueli Soares que, como boa mamãe, sabe corujar! Ela diz ser indiferente ao gosto do filho - o Marco Antônio - que gosta muito do Lobao. Tenho minhas dúvidas: os argumentos do moço (que se mostra muito bom cronista) valem também para ela. Logo... Bem, vamos aos fatos, que aí estão bem contados:

(Luiz de Aquino)




Notícias fresquinhas da lona da Lapa e tudo mais que é relevante (ou não!) pra você!


quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Resultado da promoção LOBÃO E VOCÊ a mil no Verão no Circo!

Cinco fãs do Lobão foram premiados pelas suas histórias com o ídolo e vão poder curtir gratuitamente com um acompanhante o show no Circo Voador nesta sexta, 11 de fevereiro de 2011. Além disso, uma das histórias foi premiada com a caixa Lobão 81/91 e o livro "Lobão - 50 anos a mil", e as outras quatro serão agraciadas cada uma com um exemplar de "Lobão - 50 anos a mil". Vamos aos ganhadores e suas histórias!

1º Lugar - Marco Antonio S. Araujo ganhou:
- Caixa Lobão 81/91 (Sony Music) + DVD Mtv Acústico
- Livro "Lobão - 50 anos a mil"
- Par de ingressos para o show dia 11/02/11.

Doença contagiosa


Lobão e eu sempre tivemos muito em comum: a verborragia, a inquietação, aquela insatisfação com o que estão se satisfazendo. O mais engraçado disso tudo, é que eu detestava o cara. E me sobravam adjetivos para excomungá-lo. Claro, ele execrava o samba e a bossa nova nos jornais. Eu até evitava ouvir suas músicas pra não correr o risco de gostar muito.
Tempo vai, e eu chego a universidade. Estudar na Rural foi a pedra fundamental. Havia todo tipo de gente: muitos verbos, hábitos e estilos musicais e, principalmente, um grande grupo de caretice extrema. Uma rodinha de samba e choro, que no começo eu achava o máximo, mas que com tempo foi me dando uma agonia: aqueles caras sabiam tocar, cantar, eram bons... mas não estavam criando nada!
Foi aí que Lobão voltou à tona. Toda aquela contestação dele começou a fazer muito sentido. O que ele dizia não era contra o samba e o choro. Era contra a extrema falta de criatividade que assola este país e principalmente o Rio de Janeiro, que já foi berço cultural do Brasil, e hoje não passa de um cemitério. Nossas ideias começaram a se cruzar, numa sintonia de pensamentos assustadora (pelo menos pra mim)! Naturalmente, comecei a prestar atenção também ao seu trabalho. A estética, as letras, tudo isso me provocando uma admiração profunda. No calor da descoberta, escrevi uma crônica em meu blog pessoal que, por intermédio de uma amiga em comum, chegou a ele. Dá para imaginar o orgulho que me deu quando a mesma foi publicada em seu site oficial. Até começou a rolar, pelo twitter, uma brincadeira de que eu era filho dele... Na ocasião do lançamento de sua biografia, em São Paulo, pedi a essa mesma amiga que levasse para autografar: “Essa é pro seu filho virtual”... Ela até ficou surpresa com a resposta: “O Marquinho?”. Sinal de que a “paternidade” estava reconhecida e, com ela, o respeito e a idolatria. Como todo bom filho, enxergo o lado bom, o homem João Luiz, que não é nenhum bicho, é gentil, engraçado e até carinhoso. Ainda que muito contestador e, talvez por isso, incômodo.
Pronto, minha cova está aberta. Bem do jeito que eu era, existe aos montes. A mesma aversão que eu sentia, muita gente sente também. Além disso, transferem para quem gosta dele, como uma doença contagiosa. No meu caso até hereditária... Pensando bem, acho que quero ficar doente por muito tempo. E realmente espero que essa doença vire uma epidemia. Quem sabe uma nova onda de criatividade se espalha por aí? Isso é rock.

* * *

domingo, fevereiro 06, 2011

Mensagem a dois amigos


Mensagem a dois amigos(*)



(*) São eles:









1)Ivair Lima, psicólogo e jornalista, repórter refinado e redator primoroso. Contista 
lidimo e poeta sensível e responsável. Passa de hora de lhe reconhecermos 
os méritos de lhe enfeitarmos os dias com as glórias em vida.












2) Ulisses Aesse é editor do DM, mas conheci-o poeta, estudante de História (antes do 
Jornalismo) e revela-se cronista de escol, colunista amplo, 
merecedor de honras medalhas. 




Ulisses, amigo meu de décadas e parceria, companheiro de prosa e verso desde os tempos em que a salinha do quarto andar do Edifício Vila Boa, sede da pomposa União Brasileira de Escritores, era acolhedora e aconchegante! Queria, e quero, que você descubra a alegria que me invade nos encontros com os que sabem pensar e dizer! Como os poucos minutos na manhã de quinta-feira, a Redação vazia porque os repórteres, em geral, estão nas ruas…

Remonta aos anos finais da década de 1960 o meu conceito sobre a dinâmica das relações humanas! Tudo com base na premissa aristotélica – O homem é um animal social. Ao evocar máximas dos antigos filósofos, buscamos aprender com a partida estabelecida por Sócrates em “só sei que nada sei”, ou ninguém buscaria aprender. E o Lima, meu caro Ulisses, poeta e psicólogo, e por isso melhor repórter, é um apanhado de bem ensinar, ele que se veste de humildade e se disfarça de silêncio que, com o tempo, aprendi a remover. Por isso esta alegria em mim, esse bem-estar por conversar, por ouvir e dizer porque só me resta aprender. E aprender mais.

Neste encontro matinal, regozijei-me das surpresas ante as falas de cada um de nós. Ficou claro que alguns dias de ausência estimula a saudade e permite que mostremos novidades, ainda que estas sejam informes de há muito concebidos, mas aprimorados no fermentar dos anos, o que enseja o amadurecimento dos conceitos e o aprimoramento das analogias; é que as ideias, como os homens, não vivem sós. As ideias pedem associações e correlações, depuram-se nos encontros e embelezam-se com os acasalamentos. Como os seres bípedes da raça que diz racional.

Aconselha-me o Ulisses: discorra sobre “isso ou aquilo, em lugar de brigar com os outros”. Repreendo-o: não gosto das polêmicas, prefiro beijo na boca; mas entre o meu querer e o acontecer, sempre há um espúrio, seja ele um falso amigo, um escriba de meio alfabeto ou um colega de má catadura a fomentar suspeitas sobre mim, em lugar de mostrar-se a si próprio com qualidades indispensáveis ao seu perfil pessoal ou profissional. Com o tempo, meu caro Ulisses e meu querido Lima, aprendi que cresço a cada vez que um ex-amigo ou um declarado desafeto injuria-me ante outrem.  Já não mais revido as pedradas, aprendi que elas não me atingem porque, feito bumerangue, voltam ao rosto de quem as lançou.

O tempo de tentar desfazer os perjúrios, gasto-o no refazer um verso, no retocar uma frase de prosa. Ou no enfeitar as falas nos encontros amorosos como este de hoje (quinta-feira, 3 de fevereiro, 2011). Prefiro muito, em lugar de revidar a maledicência, exaltar o prestígio que veste a escrita de Lima ante leitores famintos do bom contar ou de bem versejar. Como gosto de saber da qualidade de colecionar que faz de Ulisses o pesquisador meticuloso que ora quer relógios de bolso, antigos e de referência, ora pensa em comprar suspensórios e chapéus, e busca saber quem os faz melhores, que marcas os delineiam no tempo, quem os gosta ou gostou de usar – ou seja, busca a história de surgimento, criação e existência dos objetos.

Sabemos, os três, que não são somente o jornalismo, a narração em crônicas e contos nem mesmo os versos os fatores únicos a nos unir. Somos amantes da vida, em sua ampla dimensão, no convívio social e urbano, nas relações intercomunitárias, na troca permanente de informes orais e escritos. A rigor, somos amigos.

E assim, nossos encontros raros e rápidos acontecem e se renovam. Assim é que melhor nos conhecemos – e nos reconhecemos.

Nesse ponto, em meio aos devaneios, Luiz Antônio Fu Manchu, programador visual do DMRevista, olha-me como quem me repreende e recomenda: “Vá para casa e mande-me sua crônica de domingo; a página seis depende só disso...”.


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Luiz de Aquino (poetaluizdeaquino@gmail.com) é escritor, membro da Academia Goiana de Letras.