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domingo, janeiro 27, 2013

Os Almeida; de Goiânia...


Os Almeida; de Goiânia...


Combinei com Gilberto Mendonça Teles um almoço, há poucos meses. Esperava-me na porta do hotel e perguntou: “Aonde pensa em me levar?”; respondi que tinha três sugestões: primeiro, comida roceira – e ele me cortou: “Essa aí!”. Disse-lhe que iríamos a Hidrolândia. “Melhor ainda! Vivi ótimos anos de infância em Santo Antônio das Grimpas”, festejou ele. Sim, eu sabia; em Hidrolândia nasceu José Mendonça Teles…

Minha escolha foi para o acolhedor restaurante do Sr. Mila, onde é sempre possível encontrar velhos amigos de cabelos gris. Naquele dia e horário, havia pouca gente lá. Numa das mesas, um casal almoçava e o homem pronunciou, com sua voz inconfundível: “Professor Gilberto Mendonça Teles! (Gilberto olhou-o como quem se esforça para ativar bem a memória) O Senhor não se recorda, mas fui seu aluno”. Ato contínuo, disse eu ao que lá estava: “E o Senhor não se recorda, mas fui seu aluno”.

Era o professor Izu – Manuel de Jesus Oliveira –, que lecionou-me Geografia Humana no último ano colegial do Liceu (1967). “Ah! Eu leio você aos domingos”, respondeu-me ele. A esta altura, GMT já o identificara. Interrompemos, sem querer, o almoço do meu mestre (e aluno de Gilberto), mas saímos todos felizes. Um encontro assim não acontece a varejo, jamais! Dias depois, cumprindo o que prometeu, o professor Izu enviou-me uma cópia de sua dissertação de mestrado em Gestão de Patrimônio Histórico na PUC de Goiás (Instituto de Pré-História e Antropologia). O título: “Família Almeida – A construção de um patrimônio imaterial”.

Emocionei-me de novo! Ele estudou a saga da família de Dona Hermosa e Sr. José Pedro de Almeida (Zé Pretinho), pais de onze pessoas notáveis, das quais envaidecem-me três deles por me permitirem chamá-los de amigos – Valda, João e Cirineu (pela ordem cronológica de suas entradas em minha vida). Valda e João foram meus colegas de magistério no Ginásio Orientado para o Trabalho Dom Abel, no setor Pedro Ludovico, num tempo em que o bairro era de casinhas muito humildes de migrantes baianos, em sua quase totalidade (Correntina, Barreiras e cercanias), desprovido de equipamentos urbanos. Cirineu, conheci-o bons anos depois, quando atuei na Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Goiânia, onde ele é arquiteto (é também professor na Faculdade de Arquitetura da PUC há mais de três décadas!).

Ao menos duas vezes, estive em casa dos Almeida, numa viela da Avenida Araguaia, logo abaixo da Rua 4 – um imóvel com duas entradas. Não me lembro que motivo levou-me lá, mas não me esqueço do ambiente aprazível e rico de calor humano de presenças benfazejas. Sei que foi João quem me levou e Valda surpreendeu-se ao ver-me, mostrando-me aquele sorriso sempre igual, franco e feliz.

Pincei, de ouvir de outrem, muitas referências nobres àquela família. E quando Izu me contou de seu tema de mestrado, interessei-me em lê-lo. E eu, com esta eterna mania de livros, pergunto-me porque o texto ainda não virou livro – certamente, material para ser patrocinado pela Lei de Incentivo à Cultura da Prefeitura de Goiânia. Afinal, essa família – os pais de onze filhos – são um exemplo de atividade sociológica em que o propósito de integração, da quebra de preconceitos e de rejeição se deu com a sabedoria de quem vence pelo conhecimento e pela simpatia, capazes que são, todos eles, de conquistar, conservar e exemplificar o que se tem como amizade.

Agradeço, feliz, o presente que me deu o meu mestre Izu, e a leitura desse rico material convence-me ainda mais de que a instrução (conhecimento) é, de fato, o maior patrimônio do bicho sapiens e da família; e a amizade, o amor que tende a ser, de fato, o mais duradouro dos sentimentos.

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sábado, janeiro 19, 2013

Na ponta dos dedos...



Na ponta dos dedos...


Lá pelos idos da minha adolescência, sofri com a exigência de ter de praticar datilografia. Praticar não é bem o termo, era preciso aprender certo, as mãos abertas sobre o teclado, cada dedo incumbido de tantas e tais teclas. Os exercícios começavam com o notório asdfg e continuava, a cada dia uma nova sequência, até que começássemos a escrever algumas palavras, depois frases, sempre na colocação adequada, o corpo bem assentado diante da mesa miúda de datilógrafo, o papel a copiar à minha esquerda, os pés posicionados assim etc. O desafio era fazer o mínimo exigido nos concursos – 150 toques por minuto. Tudo bem: nas escolas de datilografia exigiam-nos 180 toques por minuto, isso daria margem favorável...

Não tinha paciência para a disciplina dos treinamentos, queria começar escrevendo frases, não apenas copiando textos. Conscientizei-me da técnica e passei à etapa final, e em poucas semanas de trabalho ganhei a destreza necessária para não fazer feio diante das letras de fôrma que martelavam a fita que tingia o papel colado ao cilindro de borracha.

A máquina elétrica, com corretivo,
que  troquei por um carro...
As esferas IBM - cada uma com
um tipo variado.
Encantei-me das máquinas eletrônicas e tornei-me íntimo dos modelos da IBM, com aquelas esferas mágicas! Gostei tanto que adquiri, em prestações pesadas, uma dessas máquinas que, um dia, troquei por um Maverick com quatro anos de usado. Depois, comprei uma Facit em que os tipos eram numa margarida. E essa máquina, dei-a de entrada para comprar o primeiro computador, um 486, última palavra em tecnologia em 1993.

A Remigton 30 hoje é minha.
Tem perto de 100 anos.
Desde aquela Remington 30 que Dona Joana Lopes (Deus a tenha... Que coração belíssimo o de Dona Joana!) oferecia para eu treinar (tenho essa máquina comigo, adquiri-a de seu filho Hélio, que foi prefeito em minha Caldas Novas) até este computador Mac que me serve há quatro anos, sempre fui um datilógrafo/digitador razoável. Desses teclados ora mecânicos, ora eletrônicos, saíram mais de 90% dos meus textos publicados em livros, jornais e revistas – e, inevitavelmente, na Internet.



No meu blog, penapoesiaporluizdeaquino.blogspot.com, e nas postagens das redes sociais (Orkut e Facebook, especialmente) são milhares os comentários sobre meus textos e sob eles. Isso me enche de alegria, sejam falar favoráveis, sejam críticas severas em confronto às minhas ideias. Destes, os mais recentes vieram de Flávia Lélis, minha querida colega jornalista, destacando algo como a minha imparcialidade num conflito de opiniões sobre gestão de saúde em Goiás, qualificando-me como “coerente e responsável”. O outro veio de um estimado ex-aluno do meu inesquecível Colégio Pedro II, Liberato Caboclo, destacando o bucólico em uma crônica recente. Liberato é irmão mais velho do meu querido e saudoso colega de turma Roberto Caboclo, que se foi sem despedida, deixando uma lembrança áurea em meus sentimentos.


Ah, meu Deus! Ah, leitores! Perdoem-me por estes devaneios! Ao acarinhar por horas a fio estes teclados, em pelo menos cinco décadas de escrita mecânica, entendo que, assim como as pessoas, as ferramentas do trabalho merecem, também, o meu afeto. É que, ao agir assim, acarinho-me como gosto de fazer às amadas, aos amigos e até mesmo a algumas pessoas que reagem com indiferença.
É a vida...



Foi fácil adaptar-me ao computador e não sou conservador a ponto de ignorá-lo.


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sábado, janeiro 12, 2013

Adeus, Guido Tosi; a Deus!



Adeus, Guido Tosi; a Deus!



O começo, em 1857.
O Bologna, naquele tempo, ficava na esquina da Rua 9 com a Av. Anhanguera. Funcionou depois na Rua 8, acima da Rua 3, e há mais de vinte anos está na Rua 3, ao lado do Mercado Central. No Período de 1987 a 91, morei no Edifício Fidelis, na mesma linha de calçada do restaurante italiano, tendo entre nós apenas o estacionamento do citado mercado. Naturalmente, fiquei muito mais freguês do que antes (e depois).

Aprendi que o Sr. Guido dava férias coletivas, fechando o restaurante por um mês, a cada ano, preferencialmente (ou sempre) em outubro, quando viajava à Itália com a família; aprendi que isso de “filé à parmegiana” é um prato brasileiro, porque em Parma, disse-me ele, não se come filé, mas contra-filé; e aprendi que a qualidade dos produtos do famoso Bologna goianiense deriva de sua tenacidade e coerência, pois a casa sempre foi tocada por ele e a esposa, Dona Corina (gosto de escrever “dona” em maiúscula, quando precede o nome), e seu irmão Efrem. E a filha Cristina, que cresceu naquele ambiente de família e trabalho, certamente não saberá precisar a data de seu envolvimento com a notável cantina.

Guido, Dona Corina e Efrem.

Sobretudo nos últimos anos, um dos meus prazeres, além do sabor dos pratos inigualáveis de Dona Corina e Efrem, era mostrar a casa aos amigos de fora; inevitavelmente, puxava uma breve conversa com o “nono” e veterano empresário, que contava, com indisfarçável prazer, a história da casa – quase sempre mandando chamar Efrem e Dona Corina para mostrar, ao vivo, essa linda história de trabalho e amor ao Brasil e a Goiás, sem jamais descuidar-se de sua origem – a península itálica.

Agora, nesta manhã chuvosa de sexta-feira, 11 de janeiro, soube do passamento do ilustre goianiense que temperou nossa história com sua vida e sua grandeza. O Sr. Guido deixa-nos as boas lembranças, e deixa-nos o Bologna com a mesma essência que há de continuar por várias outras gerações. Fica em mim uma leve tristeza por sua ausência, mas uma grande alegria pela grandeza de sua contribuição.

Agora, Dona Corina e Cristina Tosi, é com vocês... Deus as abençoe e também ao Efrem.


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Fotos: página do SEBRAE/GO - http://www.sebraego.com.br/site/site.do?idArtigo=1143

segunda-feira, janeiro 07, 2013

Bom dia, futuro!





Miro
Lupe


 Bom dia, futuro!


Feliz Ano-Novo! – repetimos muitas vezes, milhares! E ao dizê-lo despertamos o passado que, se foi feliz, há de se repetir com mais intensidade; se foi morno ou ruim, que sustente o bom que há de vir. E sempre que falo em passado e futuro, ocorre-me que o presente, sim, é o que importa, mas é tão pequenino o presente! Surge e passa como paisagens na janela de um trem-bala, ou de um avião ao decolar.

O poeta Mário Quintana entendia bem o tempo. É dele um verso isolado que me acompanha há décadas: “O passado não reconhece seu lugar; está sempre presente!”. E lembrar Quintana é perambular pelas ruas históricas e boêmias de Porto Alegre – a região da Rua da Praia, cenário da tradicional Feira do Livro, onde reina concreto, imóvel e solene o antigo Hotel Majestic, hoje Casa de Cultura Mário Quintana. Essa região foi também o palco da vivência e ocorrências de outro poeta, o compositor Lupicínio Rodrigues.

Numa das Feiras do Livro de Porto Alegre, comprei, a preço miúdo, um livro de Lupicínio. O título é o mesmo de uma de suas canções – “Foi Assim” – e a organização da obra, póstuma, é de Lupicínio Rodrigues Filho. Um livro de crônicas belas, compostas assim: a crônica em si, a letra de uma das canções do imortal autor de “Se Acaso Você Chegasse” e a frase de despedida: “E até sábado...”. O jornal era a versão gaúcha de Última Hora, que virou Zero Hora. E o dia, ficou claro, era o sábado, esperado com ansiedade pelos leitores. A coluna chamava-se “Roteiro de um Boêmio” e a série começou com “O que é um boêmio”, seguida, de imediato, de “Boêmio deve casar?”.
Comprei o livro a R$ 3,00 na Feira do Livro de Porto Alegre, em 2001;
hoje, ele é oferecido no Mercado Livre a R$ 100,00
(http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-455931185-foi-assim-lupicinio-rodrigues-_JM)
Vez em quando, pinço esse livro na estante e releio um ou dois textos; devolvo-o ao ninho para, noutra ocasião, repetir o ato e o fato. Esta semana, que começou com os últimos dias de 2012 para abrir 2013 com cheiro e sabor de futuro, repeti esta mania; o motivo de agora é reforçado: ganhei, dos meus amigos Kleber Oliveira Veloso, escritor, e da minha querida colega jornalista e editora Sueli Raul, um livro muito especial: O Jornalista, o Poeta e o Homem - Waldomiro Santos.

Um punhado de poemas, crônicas e outros textos jornalísticos com a chancela de um talento
impecável do homem,  jornalista e poeta Waldomiro Santos
Foram poucos minutos, o do nosso encontro nesse final de 2012! O bastante, porém, para evocar-me uma emoção forte, como se ali estivesse também o meu colega de tão curta temporada nos tempos do semanário Cinco de Março e do início do Diário da Manhã. Imaginei-o ao nosso lado, em silêncio, ostentando um expressivo sorriso observador – e critico, tenho certeza! –, como era de seu feitio.

Li o livro, saltando trechos. Os textos de abertura, assinados por Walterli Guedes, Javier Godinho e Kleber Veloso, seguidos das homenagens de Maria Divina e Marcos, viúva e filho do enfocado, prenunciam o sentimento que dominará o leitor até a última palavra – uma emoção indescritível que só se sente em momentos especiais, como a leitura dos escritos do velho jornalista. Velho? Que nada, morreu moço!

Pedro Ludovico, fundador de Goiânia, entrevistado pelo repórter completo, Waldomiro Santos, para o semanário "Cinco de Março".

Escrevi, certa vez, e teimo nessa tese: um bom cronista contém um poeta. Waldomiro é tido, pelos que o conheceram de perto, como o repórter perfeito. Eu diria mais: um poeta perfeito. E um profissional dedicado ao ofício da notícia, um cidadão exemplar como peça indispensável em sua sociedade. E um homem próximo demais da perfeição – como colega, como amigo e, sabemos desde sempre, marido e pai. Um boêmio perfeito, diria dele Lupicínio – caso o tivesse conhecido.


Esse livro precisa chegar ao grande público. Goiânia, tão nova e em formação, precisa formalizar sua História. E essa História não se escreve sem Waldomiro Santos – que alistou-se rapidamente na reconstrução do DM, em 1987, incluindo-se entre o “punhado de sozinhos” que, com Batista Custódio, escreveu um pedaço indelével da luta pela liberdade de expressão nesta terra.

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