Vícios e
costumes de linguagem
Recentemente,
uma amiga do norte de Minas (médica e jornalista, escritora, mãe de escritor,
sendo ambos colaboradores do DM; refiro-me a Mara Narciso e Fernando Yanmar)
perguntou a amigos distantes – eu no meio – sobre variantes da palavra
“complicado”. Apareceram “difícil”, complexo, emaranhado etc., e eu colaborei
com o nosso goianíssimo “custoso”. E pensei, cá comigo, o quanto complicamos,
dificultamos, emaranhamos e nos comprometemos com nada em nome de um momento de
preguiça, de uma circunstância de incompetência ou simplesmente numa vontade de
não-fazer.
Coisas
da nossa preguiça pessoal... Mas o foco (focar está na moda) de hoje é a língua
– um tema que me empolga tanto quanto o amor, o quotidiano (que os coleguinhas
da reportagem dizem ser “o factual”), a violência nas ruas e o cinismo na
política. Se focamos a violência, perdemos o encanto das ruas; se focamos o
cinismo, perdemos bons momentos do “fazer” político (existem, sim; o problema é
que o citado cinismo oculta as boas coisas) e por aí vamos nos perdendo.
Aí,
tudo fica muito custoso...
Aos do
meu convívio, incomodo com minhas críticas ao falar irresponsável dos
repórteres de rádio e tevê, atores de novelas e apresentadores – para ficar,
por enquanto, com os de rádio e tevê. Ah! Antes que me perguntem, o veículo é
tevê; o nome (marca) do veículo,
como TV Globo, TV Record etc. a gente escreve com as duas letras em maiúsculo.
E já que estou falando em tevês, algum coleguinha precisa aprender a gaguejar
menos e, principalmente, pronunciar corretamente a palavra Anhanguera – e não
“inhanguera”, como temos ouvido.
Regência
e concordância são solenemente desprezadas; como se fosse chique cometer esses
erros como quem acaba de inventar uma roda quadrada sob a alegação de “assim
não precisamos de usar freio”. Os da escrita inventaram de pluralizar
abreviaturas: assim, surgiram “PMs,” “UTIs” e outras menos usadas; é como
vendedoras de perfumarias pronunciando, com a mesma ênfase com que ostentam os
bordados de suas blusas, “Cinqüenta emieles” (o que seria 50 ml). Ora:
centímetro se abrevia cm, hora se abrevia h, minuto (de tempo) é min, e não m
(que é metro) e segundo é seg (os sinais ‘ e “, aplicados para minuto e
segundo, não são usados em medida de tempo, mas de grau – coisas da geometria,
e não dos relógios).
Isso
de siglas também virou mania nacional, numa cópia desnecessária de costumes
internacionais; administradores – tanto na vida privada quando nas estruturas
de governos, adoram siglas (um modo inovador das abreviaturas, só que estas são
regulamentadas, no nosso caso, pela ABNT). Os fazedores de organogramas mostram
seus gráficos e ilustrações com tantas letrinhas, como ABNT (Associação
Brasileira de Normas Técnicas), e impõem-se como detentores de segredos
decisivos; e, assim, apresentam-se ante os leigos de sua “ciência” como gurus.
Acho que os gerundistas do telemarketing (tem que ser escrito em inglês, hem?)
também se sentem assim...
Mas eu
falava dos colegas da mídia escrita, e aí devo incluir também os publicitários.
Virou moda ruim e desagradável, mais deselegante (para o texto) que uma pochete no visual de um sujeito que se
pensa chique, a expressão “por meio de”. Pesa tão negativamente quanto “o carro
caiu na ribanceira às margens da rodovia”. Ora: se o carro caiu, só pode ter
sido em uma das margens, e não “às margens” (ou esse carro seria ubíquo?).
As
redundâncias, então, ou os pleonasmos, acontecem no linguajar quotidiano (ou
cotidiano, escolham!) como azeitona na empadinha do mercado municipal. Haja
vista “santuário basílica”, “Câmara Municipal de vereadores” e outros mais,
facilmente detectáveis na loquacidade dos profissionais da fala e da escrita –
portanto, da língua portuguesa.
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