Asfixia financeira e tiro-no-pé
Os três primeiros
itens dos cortes orçamentários (ou sei lá que apelido os economistas dão a
isso) superam 50% dos 69 bilhões e 900 milhões de reais anunciados na última
sexta-feira, com a solenidade de quem sobe ao pódio para ostentar uma medalha
de ouro. Essas poses, esses anúncios e essas profecias político-econômicas
fizeram parte da vida brasileira desde os tempos do tal Milagre Brasileiro
(1973). E os planos mirabolantes repetiram-se ene vezes até 1994, quando a
equipe de Itamar Franco concebeu e pôs em prática o Plano Real – de que
Fernando Henrique adotou autoria, indevidamente.
Vivemos estes
vinte anos sob uma certa paz, no tocante à inflação. Houve, sim, muita
falsidade, como aquilo de congelar salários de servidores públicos,
incluindo-se aí até mesmo os bancários do BB, que é uma Sociedade Anônima.
Houve aquele crescimento galopante do valor do Dólar face ao Real, houve as
indisfarçáveis negociações interpartidárias para se instituir a reeleição dos
executivos (que ensejou o mensalão, criado e mantido pelo sucessor).
Houve os quatro
anos primeiros de Dilma – o período maravilhoso que ela diz ter acontecido e
que lhe rendeu a reeleição – apertada, na realidade – mas, já nas primeiras
semanas, a reeleita revelou-se falsa como uma nota de R$ 3, isto é, mentiu
muito e prometeu coisas impossíveis. A confissão se deu nas primeiras semanas
após sua “re-posse” e fechou o libelo da campanha estelionatária com o
anunciado corte de quase 70 bilhões – sendo R$ 17,23 bilhões (de R$ 31,74
bilhões para R$ 14,51 bilhões, 54%) no Ministério das Cidades, R$ 11,77 bilhões
(de R$ 103,27 bilhões para R$ 91,5 bilhões, 11,3%) na Saúde e, ainda, o
coroamento do projeto Pátria Educadora - R$ 9,42 bilhões (de R$ 48,81 bilhões
para R$ 39,38 bilhões, 19,3%) na Educação.
Enquanto
isso, o ídolo da presidente Dilma Rousseff, o presidente venezuelano Nicolás
Maduro aprovou na última terça-feira, aumento de 50% para
professores do país e autorizou discussões para adiantar contratações da
categoria (confira o artigo original no Portal Metrópole: http://www.portalmetropole.com/2015/05/maduro-aprova-50-de-aumento-salarial.html#ixzz3ay3V6mqy.
Desabafo da professora goianiense Heliany Wirta:
– Na "pátria educadora" cortam-se
verbas da Educação, retira-se o FIES, espancam-se professores que lutam,
retiram-se os poucos direitos dos trabalhadores... Tudo isso num governo que se
elegeu com discurso de esquerda e libertário de um partido que se diz dos
trabalhadores!
Os economistas sabem muito bem dar nomes
ao dinheiro conforme sua origem, sua posse, o modo como é protegido e seu
destino. Ele pode ser chamado de faturamento, renda, féria, poupança, produto,
salário, jeton, honorário, imposto, arrecadação, receita, juro, emolumento,
taxa, poupança, investimento, despesa, propina, gorjeta, gasto, aplicação e
muitos, muitos outros nomes mais. O curioso é que a imprensa (nem sempre
especializada) qualificou a reduzida verba da Educação como “gastos”.
Até onde se entende, em todo o mundo, os
“gastos” da Educação são sempre “investimentos”.
Mas volto ao terceiro parágrafo destas
linhas. Os três ministérios mais afetados – Cidades, Saúde e Educação, em ordem
decrescente de sacrifício – simbolizam bem o descaso para com a qualidade de
vida. O ministro da Fazenda já qualificou a farra com as verbas, no período
anterior, como uma “brincadeira”, e foi repreendido publicamente pela
presidente.
Resumo de tudo isso: se não foi
brincadeira, foi algo muito pior! E a bomba explode no colo de quem provocou
isso aí.
* * *
Luiz de
Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.