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quarta-feira, dezembro 23, 2020

NATAL PARA MARIA

 

Imagem: Internet, sem autoria


NATAL PARA MARIA

 


Há nuvens de chuva e o céu
saúda-nos de azul e lágrimas
para renovar a vida.

 

As ruas vestidas de brilho,
os olhos com brilho de festa
porque é dezembro.

 

Há dinheiro e compromissos,
pessoas tensas portam presentes
ainda que poucos os mereçam.

 

Nas ruas e lojas, nem retratos de Jesus!
Maria, mãe e santa, por certo sofre
e sua dor é nossa!

 

Colho uma rosa branca. As mães, sim,
devem ser mais felizes: sem elas,
não há esperanças.


* * *

Amigos leitores, saúdo-os com este poema no transcurso deste Natal inusitado, tempo de uma certa solidão. Que o recolhimento precavido nos poupe do contágio e reaviva em nós valores adormecidos, induzindo-nos à busca da harmonia há tempos esquecida.

Farei, pelos próximos dias, um breve recesso na publicação de meus poemas. Mas voltarei, brevemente, com a mesma constância, ansioso por sua leitura e seus comentários. 

Feliz Natal!


Poeta Luiz de Aquino.


segunda-feira, dezembro 21, 2020

A noite nos lábios

 A noite nos lábios


Ouvi os teus passos na tarde
e trouxe esta noite nos lábios
para ver-te na vida
como encontrando meus gritos
dentro de mim.

 

Eu trouxe esta noite nos lábios
e vi os teus seios em riste
enquanto esperava
encontrar-te
em mim, para mim.

 

             Derrama esse riso
             e deixa eu pensar
             que nos teremos de novo
             quando a noite se for.

 

*&*


Poeta Luiz de Aquino, da Academia Goiana de Letras.

domingo, dezembro 20, 2020

Lábios, túrgidos lábios

  

Lábios, túrgidos lábios *



Eu te caço, Loba,
pelas sendas da noite quente
e me asseguro de que o sol
não se anuncie tão cedo!

 

Eu te quero, Loba,
e nos teremos plenos
de volúpia e pelos.

 

Inquieta-me o instante,
o agora em que toco teus lábios
com meus lábios e recebes minha língua,
e tenho a tua. Sorver tua saliva e sentir
teus seios a me ferir o peito,
tuas coxas a cingir as minhas
e teu sexo túmido a receber o meu.

 

Minhas mãos, sem pedir licença,
abrem-te os laços, os fechos, os botões.
Eu te toco com intimidade,
tateio tuas costas, sinto o volume
de tuas nádegas e o calor que elas abrigam.

 

Ah! O alimentar-me de tua pele eriçada,
a têmpera exata do forjar de Baco
quando nossos corpos, na efervescência de hormônios,
desejam-se plenos e prometem prazeres sonhados,
desejados, felizes...

Eu te quero,
esguia e clara como te vejo e tenho,
e sentirei teu úmido sexo
a festejar com o meu
a primavera da carne.

 

Com o cuidado de porcelanas,
beijarei teu corpo
com a delicadeza das sacristias.
E de joelhos, venerarei teus pés,
procurando a idolatrada,
amada mulher!

 

Tocarei teus cabelos e teus pelos 
com o toque dos mágicos e farei verter
de tuas entranhas
o mel de me saciar,
porque o beberei de tua virilha,
buscarei fruir dos pequenos lábios
essa seiva enérgica, doce e acre,
para untar-me a boca...

 

Meus dedos passearão tua pele
buscando entradas.
Sutis, entrarão em tua boca, ouvidos e narinas.
Explorarão o declive do teu colo,
as colinas dos teus seios e os picos,

bicos túmidos, sensíveis e sensuais.

Descobrirão teu umbigo,
cingirão tua cintura, farão pouso
em tuas nádegas suaves e excitantes,
e entrarão entre elas
à busca ávida do olho pulsante.

 

"Tuas nádegas abrem-se para receber meus dedos... E me delicio com tuas contrações sistemáticas que fazem brotar ainda mais o mel que te desce nos pelos pubianos, encharcando os pequenos lábios, umedecendo os grandes e vertendo para os meus”.

 

A cabeça, erguida em prece,
vislumbra a fêmea, ereta e dócil
a acolher-me terna.

 

Genuflexo, enlaço-te as nádegas
e inebria-me o perfume
de teu ventre pleno
da volúpia ardente, ansiada
e finalmente vindoura!

 

A língua, que tenta entrar, busca teu néctar.
Bocas que buscam prazeres e licores...
Adoro sentir-me lambendo tua virilha,
deliciando-me com teus pelos.

Mãos que adoram seios e costas,
mamilos e nádegas e entre as nádegas!

E te bebo toda!
Sinto-te vibrando em minha boca!
Contorcendo, estertorando... goza!
Meus dedos te adentram, atrás...

 

Brinco com a língua, o clitóris.
Deslizo mais: pequenos lábios
(beijo-os, e minha língua encontra a gruta

 

gostosa e úmida e quente...).
Beijo-te costas, deslizo a língua
em tuas nádegas, exploro-as,
penetro.

Beijo-te as coxas. Beijo-te o sexo.

Delícias ao acariciar-te os mamilos
e beijar-te devagar e quente;
e ao morder teus lábios
como se morde uma cereja.
Sugá-los, como sugo morangos maduros.

 

Ah, nossos pés que se tocam nus,
peles que eriçam simultâneas!

Beijinhos e lambidinhas,
suaves, ternas, sacanas... Quero entrar em ti
com intimidade e conforto...

 

Viver todas as chances
de gozar.
Penetrar-te.
Abraçar-te por trás,
ter teus seios em minhas mãos,
entrar.

 

Absorver teu cheiro, e te pôr o meu.
Sentir teu corpo na leveza
de minha língua andarilha
que não se cansa de te saber sabores.

 

E tuas mãos, quero-as no meu corpo:
exploradoras, passeantes e desinibidas.
Porque as minhas
exploram-te também e sabem
onde parar, onde indagar,
onde entrar...

 

Mãos de amparo e de toque,
de espera e carícias...
Dedos que tateiam a pele
e percorrem dorsos,
descobrem vales e grotas.

 

Aceita a intimidade de minha língua.
Ela que desce por teu corpo
como a água do teu banho,
escorre, corre e
alcança tuas partes íntimas
e se deleita...

 

E tua língua na minha...
Salivas cúmplices!

Vou beijar-te: costas e nádegas,
mordiscá-las...
Demorar nos mamilos,
deixá-los túmidos e excitados...
Descer devagar,
brincar nos pelos...

Acolho o cheiro de teu púbis,
a essência de teu sexo,
a pressão de tuas coxas
e a carícias de tuas nádegas.

 

Ah, mas preciso antes beber teu néctar mais íntimo! Sentir o pulsar do teu clitóris nos meus lábios, o roçar de teus pelos no meu rosto, o calor de tuas entranhas nos meus dedos. Mulher, eu te quero! Eu te beijo o sexo e me molho de teu molho, eu te entro, então, com volúpia e amor, e te beijo a boca... Teu cheiro doce em minha boca... Tuas coxas em meus quadris... E molhas-me a virilha e me beijas a boca...

 

... e te convido
para gozar comigo,
e te espero, e me esperas,
e te sinto convulsiva em mim,
e te exploro feliz,
e te sinto a me descobrir
no êxtase do gozo pleno!


*  Do livro As uvas, teus mamilos tenros. Goiânia, 2005.
Ilustrado por Polly Duarte. 


*&* 

Luiz de Aquino, poeta, da Academia Goiana de Letras.



sábado, dezembro 19, 2020

...E me dou!

 

...E me dou! 



Um riso que cativa, a voz 
de me chamar pra perto 
(e eu vou).

 

A seda da fala mansa 
e o sorriso de embalar ternura 
(e eu faço).

 

O riso tem brilho 
do dia amanhecendo em azul; 
a pele (se não azeitona) de bombom 
que me adoça os lábios 
e o nome da Rosa 
que me enrubesce 
(e me entrego).


*&*


Luiz de Aquino, poeta, da Academia Goiana de Letras.


quinta-feira, dezembro 17, 2020

Ciúme

 



Ciúme

 

Agora, esse ciúme, tanta tontura!
Bobagens em sintonia
com o desespero que me rói,
me dói,
me destrói.

 

Deixa-te disso, ó insensata Amada!
Ainda é tempo
de esperar Virgínia.

 

* & *


Poeta Luiz de Aquino, da Academia Goiana de Letras.

quarta-feira, dezembro 16, 2020

Axé!

  Axé!


 

Trago a noite 
que tem pele escura e lembra a mulher primeira:
negra e noturna, 
carinho e tolerância ante a ânsia 
do menino obscuro, virgem e obtuso 
para o sexo, para o amor, para a fêmea. 


Bebo a noite 
(e à noite) porque me encontro perplexo 
ante os mistérios que a luz ofusca 
e há sombras nas curvas e rugas 
da pele moça, negra e balsâmica, 
no cheiro doce do afago espontâneo 
que reage aos meus gestos e me instiga.

 

Brindo à mulher negra 
e meu chope é tua pele.

* * *

Luiz de Aquino, poeta, da Academia Goiana de Letras. 

terça-feira, dezembro 15, 2020

O amor, como o dia

 

O amor, como o dia

 

Um amor de verdade 
nunca é grande. 

Amor de durar é calmo, discreto. 
Tranquilo
como um lago 
na montanha. 

Um grande amor prenuncia 
grandes tragédias, 
desastres fatais 
términos dolorosos. 
Um amor de verdade 
não exige flores no começo, 
poemas para exaltar. 
Nem pede socorro aos amigos, 
divãs de analistas. 

Amor de durar 
só pede a paz dos dias 
de todos os dias, 
do acordar de manhã 
à paz que antecede o anoitecer. 
As tempestades, estas 
perdem-se tristes 
no mormaço das tardes. 

A noite é parceira 
da paz renascente. 


*&*

Luiz de Aquino, poeta. Da Academia Goiana de Letras.

segunda-feira, dezembro 14, 2020

Beijo


 

Beijo

 

Tocar de lábios, roçar de línguas mornas:
soma de salivas doces, acender de hormônios,

ápice de êxtases.

Tatear de peles eriçadas: sonhar o sonho
de meses e luas cheias, a esperança do encanto,

o tremor no encontro.

Algo se move em nós:
sentimos arder no peito

a chama indescritível.

No ventre, em baixo, arde feito calda
alguma coisa boa.

E nos damos de nós por inteiro.


*&*

Poeta Luiz de Aquino, da Academia Goiana de Letras.

domingo, dezembro 13, 2020

Rios

 

Rios

 

Os rios são grandes,
visuais, palpáveis.
Alimentam, dão e permitem
a vida
e correm morosos
às vezes,
às vezes céleres
e só têm um destino.

Rios são valsas Danúbio,
poemas Tâmisa e Sena
e Reno e Pó,
são lendas Amazonas
e esperanças São Francisco,
Araguaia e Xingu.
E ainda certezas Grande,
Paraná, Tocantins.

 

Rio língua e carícia
Tejo sêmen de história Brasil.

Mas há um rio no fundo 
dos olhos 
e à tona de todas as lembranças.

 

Rio de imagens e gente feliz, 
Rio samba, futebol e cachaça, 
Rio trabalho, escolas, ternuras 
e lembranças as mais doces 
dos anos adolescentes.

 

            Conhece o Rio de Janeiro?


* & *


Luiz de Aquino, poeta, da Academia 
Goiana de Letras.

sábado, dezembro 12, 2020

Mars, martis

Mars, martis


Eu beijo o amanhecer:
além do esquadro de vidro e ferro
vem-me a luz que é nova e dia.

 

A luz acorda-me
como o estrondo de canhões e assusto-me
ao tiquetaquear de um relógio frio.

 

Não sei por que me levanto assim
se não tenho compromissos de ponto
nem alguém à minha espera.

 

Ergo o corpo, espreguiço músculos e forço
a retina à aceitação do dia.
Ando à toa.

 

Autômato, vou à máquina; ligo-a em dois botões
e espero a tela alumiar-se de cor
e leio correios quentes, rápidos.

 

Um nome vindo de Marte
indica-me aurora e rotina.
Alegro-me: serei feliz sob o sol.


* * * 

Luiz de Aquino, poeta. Da Academia Goiana de Letras.



sexta-feira, dezembro 11, 2020

Cores do lago

 




Cores do lago

 

Cor do dia e da estrada. Mata castanha, seca
e cerrado; cor do céu feito olhos, cor do fogo
feito lábios, cor da pele feito noite e lua prata.

 

Sol e céu e calor do dia,
vento incolor esfria a tarde
e morre a tarde.

 

Azul de caribe na água do lago.
Corumbá é rio forte; Paranaíba
de graça e grandeza, rompe terras, une povos:

 

moça branca céu nos olhos,
tez morena jatobá, olhos turvos
miscigena, miss ingênua, pés no barro ocre barranca,

 

Afro Índio Gália Espanha
Tejo Itália Trás-os-Montes:
Brasil.

 

Lago azul de Paranaíba
Minas Goiás Corumbá
das Velhas Cumari Catalão

 

Araguari São Simão Rio Quente
Tupã Tupaciguara Centralina
Itumbiara

 

Paraná rio abaixo
Grande e Prata Meia-Ponte:
Pantanal.

 

E de azul se faz o campo no pendão
canário e verde, alvas luzes
de estelares constelações.

 

Brasil Planalto Central peixe
usina luz e força beijos molhados
caudais aliança "de belo" Paraguai

 

(lembranças tristes de guerra,
sangue turvando azul.
Memória pra se esquecer).

 

*&*

Poeta Luiz de Aquino, da Academia Goiana de Letras.

quinta-feira, dezembro 10, 2020

Úberes e nádegas

Úberes e nádegas

 

Que nome hei de dar à saudade, Anamélia?
O teu, talvez, sempre lembrado por tudo o
                                                                     [que me falta
e é querido, por tudo o que sonhado não se
                                                                               [fez real.
O que fazer da saudade, Anamélia?,
senão deixar que me torture mais e sempre,
como uma pedra no sapato
ou esta dor sempre presente,
lenta e persistente, a habitar
indiscreta
um cantinho estimado em meu ventrículo 
                                                                          [esquerdo.



No íntimo e na morada
do mais puro sentir, o aconchego
da imagem que seria nossa:
aberçada em meu peito
não eras mais que úberes e nádegas,

           
                    saliências indispensáveis
                    a acalentar meus sonhos
                    de sonhar contigo. 

*&*

Luiz de Aquino, poeta, da Academia Goiana de Letras.




De domingo

 

De domingo

 

É domingo, faço noite.
Quando é noite, colho orvalhos
(molham olhos, são silentes,
brilham quentes).



É noite, sou domingo.
Olho olhos, guardo marcas
de silêncio. Deixo claras minhas mãos,
aguardo as tuas.

 

Deixa ver esse teu riso:
sou inteiro a esperá-lo.

 


&*&

Poeta Luiz de Aquino da Academia Goiana de Letras.

quarta-feira, dezembro 09, 2020

O Sol e eu e o sentido

O Sol e eu e o sentido

 

O Sol nasceu antes de mim,
mas era esperado. Eu também
era esperado
mas contava para muito pouca gente:
mãe, pai, vô, vó... Nem irmão esperava
por mim
porque era eu o primeiro.

 

O Sol nasceu mais cedo que eu
mas morreu noutras horas poucas
e prometeu nascer outra vez
dia seguinte e morrer também
dia seguinte
porque é do ofício do sol
fazer o dia
e sair para deixar chegar a noite
e voltar correndo depois
e renovar os dias
e permitir as noites.

 

Eu, não: tive de nascer e demorar
para crescer
e ver a noite sem direito de morrer
e acordar com o Sol renascente
e crescer depressa porque tinha de ser
assim
e assim por diante.

 

É que, dizem, eu cresci, eu mudei
e não morri todos os dias
porque não sou sol e o Sol
não cresce, não muda a fala,
não lhe crescem a barba e outros pelos 
incômodos.

 

Um dia, e este está mais perto
a cada dia
eu vou morrer de verdade.
Cresça ou não, vou morrer.


E o Sol vai nascer e morrer todos os dias
muitos anos além de mim e de minha morte
porque o Sol não precisa crescer:
basta-lhe existir.


Fotos: arquivo pessoal de L.deA.


&*&


Poeta Luiz de Aquino, da Academia Goiana de Letras.


terça-feira, dezembro 08, 2020

No ano que vem, também

 


No ano que vem, também

 

E possível que eu pense outra vez em nós
ou conte até dez antes de fechar a cara.
É possível que eu olhe em teus olhos e jure
não mais ser ranzinza, não mais
te dizer coisas tristes e até
prometa sorrir todos os dias, mesmo antes
de dizer que espera atenções
que não me queres dar.
É provável que eu pense em Deus todas horas,
mas tu não o sabes e nem te quero convencer
dessas coisas tão íntimas, tão minhas
como meus hábitos antes de dormir
ou o que penso e o que gosto de imaginar.

 

É possível ainda, Amada minha, que eu te beije
os olhos de espanto
e sorria mais vezes que de costume.
É possível mais que eu pense em ti com doçura
e te queira bem, um bem maior que só te amar
porque amar é mais meu e te querer bem
é muito de teu.

 

(Minha mãe te manda um beijo
e manda dizer mais que te quer bem e te espera feliz
para o ano que vem. Eu também).


*&*


Poeta Luiz de Aquino, da Academia Goiana de Letras.

domingo, dezembro 06, 2020

Luz

 


Luz

 

São os mesmos meus passos
e meus abraços
não mudaram.

 

São os mesmos meus beijos
e meus desejos
não deixaram
a tua imagem porque
não me encontro
sem que a luz das palavras
tuas
me iluminem.

 

São os mesmos desejos,
os mesmos beijos,
a mesma luz:
só me falta o teu jeito
de me falar de amor.


*&*

 Este poema, lá pelos idos de 1987, foi musicado e gravado em LP (vinil, pois) pelo talentoso e querido Gilberto Correia.

Luiz de Aquino, poeta, da Academia Goiana de Letras.

sábado, dezembro 05, 2020

O verbo tar

Os profissionais da comunicação estão avacalhando cada vez mais a Língua, fato que sempre comento com a professora e escritora Jô Sampaio, que anotou, no JN de ontem, 4 de dezembro: o bamba Willian Bonner trocou "eu" e "nós" por "a gente" umas seis vezes, em cerca de um minuto. E ressaltou o aleijamento do verbo Estar - o que me lembrou da minha crônica publicada em 24 de janeiro de 2016, no Diário da Manhã, Goiânia. 


O verbo tar (*)



A língua é dinâmica – alegam os preguiçosos e os que, tendo obtido (sabe-se lá como) um diploma de Licenciatura ou Bacharelado em Letras -  Língua Portuguesa, reinam em salas de aula como quem atua na feitura de uma nova língua. E já têm um nome para ela – a Língua Brasileira (felizmente, já estarei morto e bem morrido antes que essa coisa apareça por aqui).

Herdamos a língua com suas normas e regras há cinco séculos. Estudiosos (sérios e competentes) fixam no Século XVII (dezessete, para os que dizem “vamulá”) – outros chegam ao Século XVIII – a consolidação do Português como idioma – mas ainda há filólogos espanhóis que dizem ser a nossa língua um dialeto hispânico, como o Galego e o Castelhano. E nós, o populacho mal letrado, chamamos de Espanhol as quatro variantes faladas na Espanha.

Ultimamente, desaprendo o Português ouvindo rádios e tevês (tevê, corruptela para televisão; o simbólico TV, para mim, só deve ser usado nos nomes oficiais – ou marcas – das emissoras). Mas lendo jornais, também. A imprensa, que até há bem poucas décadas era um respeitável repositório da Língua no Brasil, é agora instrumento de deformação da mesma.

Ranzinza? Não... tenho boa memória. E sou do tempo em que jornalistas tinham que saber escrever – ou seja, exposição clara das ideias com bom domínio sobre o texto e a gramática. Era também o tempo em que locutores tinham de ter boa voz e flexionar bem as palavras, respeitando regência e concordância.

Não reconheço na imprensa a autoridade dos gramáticos e linguistas. Jornalistas não podem impor novas regras – como aplicar plural em siglas e abreviaturas, mas jornais e revistas andam cheios de coisas como “PMs, MPs, OSs e ONGs”, entre outras menos referidas. A imprensa não pode – e não pode mesmo – e por imprensa temos jornais e revistas, rádios e tevês – “criar” regras como a próclise em início de frases ou ênclise em verbos precedidos de pronomes, por exemplo – mas lemos e ouvimos muito “Se considera bem informado...” e “que mudou-se para...”.

A imprensa não pode escrever nem falar “as pessoas que eu gosto são especiais”; não pode escrever nem dizer “O posto fica às margens da rodovia” ou “Aragarças, às margens do Rio Araguaia” (ora, se a cidade brasileira ficasse às margens do Araguaia, seria de dois Estados – e do outro lado, bem em frente, está Barra do Garças, importante cidade mato-grossense).

Vem daí essa mixórdia, esse linguajar esdrúxulo que tem como referencial maior um desletrado que lidera o meio esportivo da imprensa, famoso por gritar “Vamulá” e aplicar “Tamujunto” ou simplesmente “Tamosaí”.

E os linguistas sem fundamento dizer ser a língua viva! E Napoleão Mendes de Almeida insistia no estudo e na prática da hoje chamada “língua culta”. Aos que insistiam no domínio radical desse “dinamismo popular” sobre o vernáculo, aconselhava-os a aprender Português com estivadores, feirantes, lavadeiras. 

Era o tempo! Hoje, é comum encontramos feirantes com diplomas, expressando-se com correção, enquanto vemos jornalistas, professores e “operadores do direito” claudicando em regras elementares da Língua Pátria.




*****

(*) Este título, colhi-o da professora e escritora Jô Sampaio, que vê em “Estar” o mesmo processo ocorrido com “Vossa Mercê”  – que virou Você e agora caminha para o simples Cê.


Luiz de Aquino, escritor e jornalista, da Academia Goiana de Letras.

sexta-feira, dezembro 04, 2020

De mãos dadas com a Lua

 

De mãos dadas
com a Lua

 

A pureza das noites
eu as tenho nos olhos
nem sempre brilhantes,
nem sempre lúcidos
mas voltados pra dentro
da minha certeza
de ter teu carinho
nos copos curtidos
de cada rodada.

 

Se eu chegar em silêncio
ao escuro do quarto,
ignora-me a fraqueza,
pois que tenho nas mãos
a pureza das noites.

 

*&*

Poeta Luiz de Aquino, da Academia Goiana de Letras.

quinta-feira, dezembro 03, 2020

Quando amo

 


Quando amo

 

É meu este defeito
de me dar inteiro. Quando amo,
digo tudo (o que me passa)
ao ouvido da Amada: digo em forma
de poesia minha dor, minha alegria,
fatos simples e banais,
feito a pura fantasia
das crianças, dos quintais.

 

Penso nela (quando amo) o dia inteiro,
vejo flores e vitrinas, lingeries,
absorventes, analgésicos,
cosméticos. Lembro dela o tempo todo,
sonho estrelas e carinhos, mãos roçantes,
beijos longos, pés ingênuos se tocando.

 

            Quando amo dou-me tanto 
            que espanto a minha Amada.


*&*


Luiz de Aquino, poeta, da Academia Goiana de Letras.

quarta-feira, dezembro 02, 2020

Eu te amo

 

Eu te amo


...no jeito ingênuo
de te sentir boneca de pano
quando te acalento
cantando acalanto
para te fazer dormir de mentirinha.

Eu te amo de sonho
e esperança, te amo acordado
e enfeito de ti
minhas horas mais tristes
para que não mais sejam tristes.

Amo tua voz e teus olhos,
e tuas mãos de amiga,
de irmã que não quero,
de amante ternura,
carinho e tesão.

Eu te amo distante
na imagem-desejo
de estar sempre perto.

Eu te amo contando dias,
os dias que faltam
para ter-te real: em cores,
contato e odores.

Eu te amo demais.
Eu te amo mais.
Muito mais.


Luiz de Aquino (poeta brasileiro), da Academia Goiana de Letras.