A poesia e a AGL
Vem aí, em data a ser escolhida pelo presidente Hélio Moreira, duas eleições para novos membros da Academia Goiana de Letras. Alguns equívocos de um passado não distante trouxeram ao seio da Academia pessoas notáveis da sociedade goiana, expressões da vida pública e científica, juristas e outros notáveis. É bom tê-los entre nós, mas nota-se que a familiaridade fica prejudicada pelo distanciamento que esses têm para com o ofício literário em sua essência.
É com alegria que os temos no nosso meio, sim. É bom conviver com quem fez história e (ou) faz a diferença. Contudo, é um tanto incômodo, para as duas partes, quando se trata do “modus faciendi” das letras e os temas ou as técnicas são postas diante de leigos. É como ouvi-los falar de termos gregos ou jurídicos ante a nossa sempre curiosidade. A diferença está em que os escribas de ofício familiarizam-se facilmente com as palavras, sejam elas gírias ou calões, enquanto os técnicos embaraçam-se no entendimento dos conceitos literários.
Existem, pois, duas vagas, que são disputadas, a primeira delas, por Iúri Rincón Godinho e Edival Lourenço – o primeiro, autor de vários livros e editor feliz por assinar, nesta condição, mais de 200 títulos; o segundo, atual presidente da União Brasileira de Escritores, ficcionista talentoso. Ou seja, ambos dignos de integrar o mais elevado dos sodalícios literários do Estado. Já me manifestei, desde outro pleito, em favor de Iúri e, obviamente, torço por sua vitória. Se acertar, comprometo-me antecipadamente com o voto em favor de Edival noutro escrutínio.
A outra vaga (ambas as vagas eram ocupadas por poetas, respectivamente Helvécio Goulart e A. G. Ramos Jubé) tem como candidato, até agora, o poeta Gabriel Nascente. Em sã consciência, aconselho qualquer pretendente a não disputar com o poetinha de “Um balde cheio de flores pra Manuela não chorar”. É que “Gabriel, o menino gato” (a expressão entre aspas foi título de um artigo-crônica que escrevi num dos aniversários de nascimento e literário do poetinha, há uns vinte anos)... Eu dizia, Gabriel já deveria estar investido da imortalidade goiana há muito tempo! Aos sessenta anos de idade, ele conta quarenta e quatro anos de estreia em livro e de prática poética ininterrupta, juntando publicações aqui, em todo o País, pela América afora e até mesmo no Velho Mundo. Gabriel é mais um orgulho das nossas letras e não pode mais ficar fora desse fechado clube de letras que é a AGL.
Expresso, assim, meus votos em público, como tem sido do meu feitio desde quando fui aceito entre os que temos na conta de “a nata” dos escribas da nossa terra. E estejam todos muito bem certos de que não falseio meu propósito, ou seria um pusilânime, como seria do gosto dos que aguardam qualquer falha minha para afiar suas línguas. A esses, a saliva ejetada é pouco.
Voltando ao patamar nobre do ofício das letras, exalto aqui dois esboços de poemas da lavra de uma acadêmica de Letras da Paulicéia. Refiro-me a Mariana de Ramos Galizi, que aqui esteve por quatro dias, na semana passada, buscando rastros de Bernardo Élis para seu trabalho de conclusão de curso. Ela foi carinhosamente recebida por nós, ou seja, por José Fernandes, Leda Selma (foto ao lado), Maria Helena Chein, Maria Luiza Carvalho e Patrícia Chanely (estas duas, do grupo Várias Marias e um Poeta), pelos cantores André Lopes e Regina Jardim, a Ludmila e o ativista cultural Luiz Antônio Godinho (em Pirenópolis). O primeiro poema evoca a viagem e faz trocadilho com o antigo topônimo Meia-Ponte:
A palavra é a ponte, meio-inteira do Rosário,
ponte-áerea, Congonhas- Santa Genoveva,
pontes que nos mostram fontes e montes,
de carinhos, poesias e lembranças,
trazem estupefação e amor
como se os transeuntes fossem de outrora
e já assim o soubessem.
Algo de fraterno,
mágico e eterno,
mostras do atemporal auxílio moderno,
união de pontes e pontos pela palavra,
pela concepção,
busca e admiração do belo.
O outro alude a um belíssimo exemplar de lobo-guará, atropelado por algum veículo veloz na rodovia:
Vi um guará estatelado,
bem no meio do que divisa
a bela vista do cerrado.
Contraí por dentro um gemido
pelo assassínio desavisado
pela bela selvagem vida
arrancada sem querer
mas brutalmente
de quem atravessou pro lado errado.
Meu carinho aos três escribas que se propõem a integrar nossa Academia! E o mesmo à Mariana, com um beijo especial e de curta duração (é o meu modo de lhe pedir que volte logo).
Luiz de Aquino é escritor de verso e prosa, membro da Academia Goiana de Letras. E-mai: poetaluizdeaquino@gmail.com Eu e Mariana