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quarta-feira, março 31, 2021

Alumbramento

Alumbramento

 


Luz: olhos de certeza,
faróis de sorrisos navegantes.

 

Mar: sorriso feito espuma
de ondas cantantes.

 

      Ouço-te: crio castelos 
      de reencontros, 
      desperto 
      emoções esquecidas (porque sorris).

 

*  *  *

 Luiz de Aquino, poeta.


 

terça-feira, março 30, 2021

Pés. Pele. Cor





 

Pés. Pele. Cor



Sensíveis os pés. Cores, não:

há beleza no que se diz branco,

há beleza no que se tem por negro.

Pés são estrutura, e pele, e

unhas.

e sentidos,

harmonia e reação.


                Pés: tato e tesão.









Luiz de Aquino


segunda-feira, março 29, 2021

Falando das coisas

  

Falando das coisas

 

Falar das cores,
das dores, das flores.
Conclamar
luas, serenatas, ruas,
lágrimas tuas,
tuas pernas nuas.

Quem sabe eu pudesse
falar das tardes secretas,
encontros clandestinos,
cupidos e setas.


Talvez eu falasse
do café da manhã, do sol
e do preço do álcool, do custo
das coisas no supermercado, sinal
fechado, mendigos, estacionamentos,
do preço do dólar, do cheiro
das ruas e do cheiro
do teu perfume entre os lençóis.

            O que tem pro almoço,
            o que trago da rua,
            o que faço da grana
            que não sobrou?


Quem sabe se à noite
a gente se esvai
e sai por aí, sem rumo,
sem fumo, sem vela, sem tela,
sem tempo pra casa?


Que pena! Não sei,
eu juro!,
não sei falar do cotidiano. 


                Só aprendi a falar de amor.


 *  *  *

Poeta Luiz de Aquino





 

domingo, março 28, 2021

Louvar amiga


Cantiga de louvar amiga

Para a poeta Sandra Falcone; fevereiro, 1999.

 


O fato de achar-me em tantos,
um convite, o feriado em Santos.
As frases brotadas do peito,
um viver de poeta, o jeito.

A voz musicada em meiga  
(e falávamos de Veiga); 
elegante em traje e saltos,
vem da Metrópole ao Planalto.

Quer flores, não de um jardim,
mas as que brotem de mim.
Esparge lírios e incenso
e planta à volta amor imenso!

* * * 

Talvez eu construa, 
numa forma antiga, 
uma flor-cantiga 
de louvar a amiga.

L.deA., Sandra e José J. Veiga

 

 *  *  *

Poeta Luiz de Aquino

sábado, março 27, 2021

Espumas


Espumas

 

Um mar de verdes águas
sob azul e alvas nuvens.

Um mar de ondas ágeis,
assim o mar. Ágeis ondas ritmadas,
rompem-se no preâmbulo.

Correm léguas, feito eu;
feito línguas, lambem praias.
E beijam a terra, na carícia que se estende.

Feito um manto sobre a areia.

 *  *  *

Poeta Luiz de Aquino

 

sexta-feira, março 26, 2021

Até a alvorada

 


Até a alvorada

 

Mágoas, dores, insônias 

— como não?
Bares, noites, infâmias
— por que não?

 

Dá-me as mãos de carícias
e o beijo de amar-me
e não serei mais estranho.
Dá-me a voz de acalanto
e a paz da alvorada
e não serei mais tão triste.

 

Dá-me os dias teus
e não seremos mais sós.

 

 

Poeta Luiz de Aquino

 

quinta-feira, março 25, 2021

Falar comum

 Falar comum

 


É comum se falar de sorrisos, 
de mãos, de olhares. 
É comum se falar de encontros 
e desencontros 
e é comum se falar de amores 
frustrados, nascentes, silentes, 
buscados, emergentes, inocentes.

É comum o encontro de olhares; 
e o brincar de sorrisos. 
As mãos, 
entrelaçadas, 
são mais fáceis de encontrar 
e te dou minhas mãos para acariciares.

Dá-me os teus olhos e deixa que eu brinque 
com teu sorriso. 
Mais tarde, quem sabe?, os pés 
de nós dois a tatear-se 
dirão melhor que nossas vozes. 


*  *  * 

Poeta Luiz de Aquino, 
da AGL.

 

quarta-feira, março 24, 2021

A rosa


A rosa

 

A rosa, essa rosa que alguém colocou
no meu peito...
A rosa, essa rosa rosada,
puxada para o rubro tênue, rosa
choque talvez.

 

A rosa, essa rosa que enfeita
e perfuma
a mão que me afaga o peito,
enfeita o carinho, realça o momento
em que chego tímido
propondo te amar.

 

*  *  *

Poeta Luiz de Aquino


 

terça-feira, março 23, 2021

Do tempo e da tarde




 
Do tempo e da tarde

 


O tempo passou pelos meus dedos
e nasceram palavras, sistematicamente criadas
no rigor dos tipos.
As palavras ficaram assim, enfeitadas
em negro na alva quadratura do papel 
-- mas as palavras não eram estas impressas
e eram palavras que forjei no vazio
miúdo e doído
entre vísceras que eu não sabia existirem.

Lá fora, gritam e correm pessoas
e são muitas pessoas
querendo buscar outros rumos e trocar pessoas
pois não há como acreditar e não se faz futuro
sem crença.

Essa gente não quer mais ser guiada:
lá fora, há mãos crispadas e punhos erguidos,
há gritos de ordem e os soldados também gritam
— mas os soldados gritam em silêncio,
não lhes é dado gritar com a boca aberta e a força dos pulmões.

 

Lá fora há discursos inflamados e pequenas intenções
inconfessáveis.

 

E enchemos de silêncio nossa tarde 
enquanto cremos mais nos nossos corpos assim
tão comungados. 


*  *  *

Poeta Luiz de Aquino




segunda-feira, março 22, 2021

O gozo que te cala

 O gozo que te cala

 

É de ver como dói
esperar por teus passos
no corredor.
É de ver a esperança
de teu rosto sorrindo
à porta entreaberta
até desfazer-se
no beijo sonhado.



Cada peça de roupa
caindo silente
é pedaço das almas
gêmeas
que alimentam desejos
insatisfeitos
até que encontremos
no suor comum
orgasmos retidos
de todos os dias
do até agora.

 

            

            É de ver como gosto
            de gostar do gozo
            que te cala o pranto.

 


*  *  *

Poeta Luiz de Aquino,
da AGL.


 

domingo, março 21, 2021

O sonho e o vento

 

O sonho e o vento





Voei meus anseios
nos ventos de março
que levam as águas
pra longe de nós.

 

Na noite, o frio do vento
machuca-me as costas
e pede o abraço
do teu calor
antes que amanheça.


*  *  *

Poeta Luiz de Aquino


domingo, março 14, 2021

Nós, Poetas!

Ao nosso Poetariado!

        Hoje, 14 de março, aniversário de Castro Alves, era o Dia Nacional da Poesia, até que, por lei, transmudou-se para 31 de outubro, aniversário de Carlos Drummond de Andrade. Eu continuo festejando este Dia Nacional da Poesia, sem prejuízo da outra data que, Deus me permitindo, comemorarei também, até os meus últimos dias.
        Assim, escolhi este poema e, com ele, abraço todo o Poetariado Nacional Brasileiro. L.deA.


Arte de Pádua, 1983

 

Nós, Poetas!

 

Repositórios de insultos
e estímulos, ou de que mais apelidem
clamores de ouvintes,
de poetas,
de leitores.
Adormecemos em nós imagens novas,
palavras velhas,
excitações momentâneas, pedras
de se edificar o tempo
até porque o tempo
semente de suaves copas,
frondes grávidas de ternas sombras.

Somos seiva de fartas florestas,
pastos de estelares insetos,
fontes de dessendentar noctívagos.

Poetas somos alma eterna
e corpo vívido de encantar sereias,
domar demônios,
amansar angélicos fantasmas
de nossas não menos etéreas
fantasias do quotidiano.

(Talvez desvios das certezas falsas,
de condutas ditas certas.
Apesar dos dias).

* * *

Poeta Luiz de Aquino

 

sexta-feira, março 12, 2021

Fim de semana



 Fim de semana

 

Nega, que bom! É sábado, é noite
Fechei o quiosque, não vendo mais nada
até o domingo virar segunda
outra vez.

Nega, que bom que é você,
esse cheiro de flor, esse cheiro
meu Deus!, esse cheiro de amor
esse cheiro de fêmea
chamando meus beijos,
meus dedos, meus olhos,
tudo de meu nessa pele sua.

Que bom que é cerveja, Nega, e é de noite
e é quase domingo
e é bom mais ainda
que a gente se ama.


É bom sermos nós.
Esta noite, Nega, a chuva refresca
e chove demais, de fazer corredeira,
entupir a sarjeta...

 

Nega! Nega!
Nega, meu bem!
Acorda! Será que esta noite
eu durmo de novo
com saudade d'ocê?

 * * *

Poeta Luiz de Aquino



quinta-feira, março 11, 2021

Chapéu

 


Chapéu *


 

Era escuro e fazia vento
enquanto o beijo
(eu amava).

 

A esplanada tem píncaros
e grotas; artificiais
(faltava luz).

 

E ventava, era escuro e eu;
benfazejo
de tanto beijo.

 

Úmidos e quentes,
e ainda doces, os beijos
(vestiam renda e branco).

 

O vento levou meu chapéu
claro e novo.
Era fundo o escuro…

 

Pedi beijos mais;
voltei a sonhar e fui feliz
E o chapéu? Ah, era noite!

 

Luiz de Aquino, poeta.


(*) Poema pensado num papo
com Carlos Brandão

 

quarta-feira, março 10, 2021

Feitio de sorte ou morte

 


Feitio de sorte ou morte


 

Magia mais forte é mandinga,
feitiço e feitio
de mudar a sorte.

 

Não há regular-se ante o tempo
nem inventar o amor insensível:
amor é poção de morte.

 

Ou de doer (quem não fenece
é poeta).


* * *

Poeta Luiz de Aquino


terça-feira, março 09, 2021

Começo



Começo

 

Um beijo molhado,
gostoso, suado,
melado, sonhado,
tardio esperado,
tão pleno da ânsia
do eterno desejo.

            Que bom esse beijo...!

É dado com tempo,
de acender paixões,
despertando vulcões,
jamais esquecidos,
excitando libidos!

            Adormecer lembranças. E nos fazer
            amantes!


* * *

Poeta Luiz de Aquino

segunda-feira, março 08, 2021

Coordenados



Coordenados

 

 



Meu corpo meridiano
segue o seu Greenwich
e temos pés na Antártica,

 

Corações cálidos no Equador;
cabeças em Europa; o teto
é geleira Groenlândia.

 

Nossos braços paralelos
enlaçam mundos de raças
e línguas.

 

Somos planeta
em translação ao sol
de Cupido.

 


Poeta Luiz de Aquino



domingo, março 07, 2021

A moça chegante

 

A moça chegante


 

Vi chegar a moça de preto
e era preto o que mais havia
entre as moças antes vindouras.

A moça chegante
sorria ofegante e dizia o nome
Anamélia
ante a poesia de anestesia
rebrotada ao som dos passos.

Ansiei a alvorada
para não doer mais.



* * *

Poeta Luiz de Aquino

 

sábado, março 06, 2021

Cantiga de cantar Maria

 

Cantiga de
cantar Maria

 

Seja pouco este tempo
para te imaginar.
Seja pouca esta vida
para te sonhar.
Sou eu o teu jeito
melhor
de sorrir e de ver
que há coisas
para nós.


Sou eu a tua espera
e és minha na esperança
do encontro constante
e há o teu jeito
e há tua voz
e há minha voz
a te chamar
Maria.

 

Poeta Luiz de Aquino