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sábado, outubro 31, 2020

Poema de reencontrar M. A.

 Poema de reencontrar M. A.


 


Eu ligo
e acho-te pronta e disposta
para a Lua Cheia.

Feliz,
ouço-te e sinto
antigos arrepios.

Encontro-te
e renascem cenas
tão nossas!

Acho que é tempo 
de renovar universos.


& & &

 Poeta Luiz de Aquino, da Academia Goiana de Letras.

sexta-feira, outubro 30, 2020

Ambíguo

 

Ambíguo

Ambíguo
um bi-
go.

 


Tentando entender
o ser
humano:

 


entende
não
desiste.

 

* * * 

 Luiz de Aquino, poeta. Da Academia Goiana de Letras.

 

 

quinta-feira, outubro 29, 2020

Bel

 



Bel

 

Bel! Que bela, 
lembra sino, e sino soa 
à toa, à toa, menina boa! 

Que bela, Bel! 
a sua sina, menina 
sob o céu!

Um sorriso, duas fotos acima...
Um mel, menina Bel!
(Não resisti à rima...)

Enfim, resumo-me feliz, 
embriago-me de anis. 
Amigo seu, este... Luiz!

* * * * *


Poeta Luiz de Aquino. Da Academia Goiana de Letras.

quarta-feira, outubro 28, 2020

Amar em si

 


AMAR EM SI

 

Se houver silêncio, 
haja o toque de olhares 
à busca do mágico e das cores; 
e o calor das mãos 
a explorar a pele e esta, 
imóvel, acolha a carícia 
e reaja em arrepio.

 



Se houver vontades 
(inevitáveis vontades), 
agiremos de pleno 
em gestos e instintos, 
em arrulhos ou gritos 
(ou ainda silentes, 
feito melodia em prece).





* * * *

Luiz de Aquino, poeta. Da Academia Goiana de Letras.



terça-feira, outubro 27, 2020

Estafeta

Estafeta

 

Chego assim, 
em silêncio e ternura, 
feito um anjo.

 

Trago de mim 
azul plácido de lago 
e ar de candura.




Eriço-te a pele, 
beijo-te a boca 
com sede.

 



Esqueço a viagem 
e instalo-me aí 
onde me esperas.
 



* * * * *

Luiz de Aquino, poeta, da Academia Goiana de Letras.

segunda-feira, outubro 26, 2020

ANIS



Anis


 

Brilho azul de estrela tatuada,
réplica maior da que te orna
a pele, ao alto.

 

Sensuais desenhos
de sensível pena,
fere a derme, tinge o sonho

 

em azul de céu:
estímulo à alegria,
encanto ao poeta...




* * * * *


Poeta Luiz de Aquino da Academia Goiana de Letras.





domingo, outubro 25, 2020

Almíscares

 

Almíscares



 


 

Em luz de olhar um verso
irreversível
de amor e âmago apanha-me.

 

Deixo-me solto e aceito
o laço que abraça-me
e, terno, prende-me.

 

E há lábios de carmim e calor,
atentado fatal e sonhado:
beijam-me e me embriago deles.

 

* * * * *


Luiz de Aquino, poeta, da Academia Goiana de Letras.

sábado, outubro 24, 2020

Moreninha

 Moreninha

 

Morena jambete chocolate,
cuia dourada, índia nativa,
brasiliana!

 

Olho essa moça como quem apenas vislumbra
a obra. Mas não é estátua, não é pintura:
move-se! 

Mexe-se em falas e olhares, 
gestos nobres de quem fala e, falando, 
sabe!

 

Cravo, sapoti, doce trufa, noturna
no olhar de mistério e feitiço.
Prende-me!


Menina com passarinho - Dinéia Dutra (capa
de meu livro Menina dos Olhos, 1987)


* * * * *


Poeta Luiz de Aquino, da Academia Goiana de Letras.

sexta-feira, outubro 23, 2020

A Musa dorme


 

A Musa dorme, acorda poeta

 

Rosa deitou ao chão uma toalha rosa
e no vão das peças do piso
vi uma rosa em tons de rosa. 

Aos olhos de quem é luz e mar 
apenas o tecido absorvente aparecia 
e era o mero tecido rosa. 

Não era a Musa, mas a executiva. Não era  
momento de olhar a rosa sobre o solo 
frio e concreto, sem alma. 

Então a Musa adormecida e calma 
despertou a cor da alma. 
E a Musa se fez poeta.


* * * * *


Poeta Luiz de Aquino, da Academia Goiana de Letras.


quinta-feira, outubro 22, 2020

Preferência

 



Preferência

 

 

Gosto de você. Mais do que viajar
de nuvem. Viajar de nuvem é fácil,
qualquer poeta de redondilha
voa fácil, feliz.

 

Eu, não: só me sinto feliz
se na minha nuvem preferida
está você, copiloto e parceira
de vida inteira.


* * * * *


Luiz de Aquino, prosador e poeta, da Academia Goiana de Letras.



quarta-feira, outubro 21, 2020

Se chover

 


Se chover

 

Ponho um carinho
nesse seu céu
de sorriso e bonança.

 

Deixo descer
do azul e das nuvens a chuva
que lhe dá carícias.

 

Pouso meu beijo,
silêncio e tesão,
na sua boca de pétalas.


* * * * *

Luiz de Aquino, poeta e prosador, da Academia Goiana de Letras.

terça-feira, outubro 20, 2020

Enquanto chove



Enquanto chove

 

 

Há essas mãos de que gosto
e me afagam.  
Essas mãos com que sonho


Ganham meu corpo
fazem meus hormônios 
se agitarem.

 

Delicadas, macias, nervosas e tensas.
Aconchegam-me o extremo do sonho,
tocam-me o rosto, o peito.

 

Aquecem-me a pele,
os pelos, o talo rijo
e inquieto.

 

Mãos tateantes,
rítmicas e precisas:
conduzem-me ao ápice.

 

E convidam-me
à comunhão dos corpos
no bem-estar nos lençóis.


* * * * * 

Luiz de Aquino, poeta, membro da Academia Goiana de Letras.

segunda-feira, outubro 19, 2020

VERTIGENS




 

Vertigens

 

Veio morna e tensa como um beijo:
quente, úmida, capaz!
Pelos eriçados. Pele. Um calor
maior nas axilas, seios e virilhas.
Acendeu-me o sangue e a pele.

 

Queira, amada, que eu diga
em som de voz
o que me sugere a alma, o coração
e os sentidos.
Sonhei um canto de glória.

 

Beijava bocas: simples, carnudas, perfumadas.
E bocas de cheiro típico, as de duplos lábios
não de horizontes, mas vértices
retilíneos e perfeitos, um rubro botão
no ápice, a pulsar em cio...

 

Sonhei-nos juntos e quero brincar de pés.
Pés lisos, limpos, macios, a se tocarem
íntimos sob mesas sociais
ou na intimidade secreta
dos lençóis, a sós.

* * *

Fiz beijos concisos, úmidos,
nas polpas de cada dedo em simetria,
sinistro e destro, até saber-te eriçada
desde , à raiz dos cabelos.

Assim, sabemo-nos amantes.

 

Sonhei desenhos animados. Sou teu Tom,
teu Jerry, teu gato de animação,
frágil, cheio de dengos. Faz-se a música
de fundo, música de orquestra e ágil,
feito a Primavera, Vivaldi...

 

* * *

 

Solta-te, amada eleita, e dá-me tua palma
de graça e carícias, seda de cheiros e tatos.
Quero-te devota e única, a mostrar-me a voz
de traduzir sentidos e ânsias
que nos ligam, nos pedem − e cedemos.

 

Fiz escritos. Escritos meus
não com tinta, mas hormônios;
não em laudas de celulose, mas
na pele que me liga aos sonhos
e os quer reais.

 

Mãos. As tuas nas minhas,
na minha pele, no rosto,
nas coxas, nos braços... no ventre,
nas costas, no íntimo das dobras naturais, 
virilha e joelhos, axilas e mais.

 

Mãos. Carícias íntimas, sob tecidos,
sobre a pele quente e úmida
de hormônios cálidos e agitados.
Mãos de afago e tesão, armas fortes
na busca de gozos.


* * * * * * 


Luiz de Aquino, poeta, da Academia Goiana de Letras.

domingo, outubro 18, 2020

Clave de Lua

 


CLAVE DE LUA 



Cantar é tão longe

como o encontro efêmero

num verso travesso

acontecido infeliz.

 

Cantar é tão doce

como o encontro esperado

e demorado

num pentagrama, dois por dois.

 

Cantar é a clave

de sol crescente

em fundo de lua

cheia de amor

perfeito pra nós.

 

Cantar é te ver

cantando esperanças

para os meus sentidos.


* * * * * *


Poeta Luiz de Aquino, da Academia Goiana de Letras. 



sábado, outubro 17, 2020

Esperar Virgínia

 



Esperar Virgínia

 

 

Pele e palavra — lavra fluente
em conceitos, sementes de dor
e quimera.

 

Mergulhei nos teus olhos
minha sonda de sonhos,
naveguei madrugadas.

 

            Houve um tempo— que efêmero! —
            de fundirmos o néctar das salivas
            ao mastigarmos o mesmo morango.

...telefone, além do tempo,
a emendar noite e madrugada.
            Quanto plano de esperar Virgínia!

 

(Tens isso tudo

que me atrai e atiça).

 

* * * * * *


Poeta Luiz de Aquino, membro da Academia Goiana de Letras.


sexta-feira, outubro 16, 2020

Loba, mulher

 


Loba, mulher

 

Há qualquer coisa parecida
com o descobrir-se,
qualquer coisa como
um sol que se faz outra vez
no mesmo céu.

Há um velho nascer,
não nos meus olhos, mas
em mim – (de todo)
como se fosse eu o monte
sobre o qual lua e dia
revezam-se no que se diz
novo.

Sou eu, feito nova,
desabrochando em mim
ainda que Loba!

* * * * *


Luiz de Aquino, poeta, da Academia Goiana de Letras.

quinta-feira, outubro 15, 2020

Vida de ensino e certeza

Imagem: Inernet

 

VIDA DE ENSINO E CERTEZA

 

Vida feliz, esta
de quem acorda cedo, apressa-se
a correr, alcançar o ônibus, 
pedalar ladeira acima, correr
ladeira abaixo, sob sol ou chuva,
pular o bueiro, o córrego, a cerca
escapar do cachorro...

 

Vida feliz, esta,
a de quem já fazia tudo isso
por décadas quando aluno,
pertinaz andante, teimoso estudante
sob o sol ou a chuva, à lua ou à luz
das lâmpadas eventuais das ruas
teimosamente desassistidas.

 

Sempre os mesmos desafios,
a luta pela comida, a roupa pouca,
o preço do gás, o custo do passe,
as horas perdidas, viagens de pé,
caminhar constante, o rumo correto,
chegar à escola, ler e ouvir; o rumo
correto é destino, futuro!

 

Diploma na mão, os sonhos no peito,
os sonhos na mente, pré-ensino,
pós-graduação, salários menores
que a mínima carência. As metas
deixadas p’ra além, o amanhã,
amanhã de incertas, de dúvidas
e dívidas, e salários minguados.

 

Amanhã, as ruas de jovens,
moços entusiastas, profissões
em profusão, novos sonhos
a realimentar futuro, futuros!
No peito, a alegria que brota nos olhos
de velhos mestres ensinantes:
“Meu aluno! Minha aluna!” – repetem...

 

Os olhos dos moços percebem
no velho sorriso um ricto talvez
familiar ou esquecido. Passado?
Para quê, o passado? E vão-se eles,
os moços que sonham. Empreendedores,
acadêmicos, sonhadores de novos rumos,
O ensino, não; rende pouco...

 

E o velho sorriso na boca do mestre, na face
da mestra teima em ficar; que pena, pensa,
que aquela criança agora barbada, agora
maquiada, perdeu as lembranças. Ainda assim
o sorriso é comum no mestre, na mestra.
Ninguém lhe toma a alegria vivida.
A missão, afinal, foi cumprida.


 * * * * * * *


Poeta Luiz de Aquino, da Academia Goiana de Letras.


quarta-feira, outubro 14, 2020

De Pastor

 


De pastor

 


Sete dias na semana
sete cores no arco-íris,
sete vezes eu te amei,
sete vezes te perdi.


 

Se te peço que me voltes
faço um voto de franqueza:
sete vezes vou jurar
ser só teu a vida inteira.


 

Num momento, sete instantes,
vinte e uma noite dessas,
fiz voltar meu sentimento.



Vi teus olhos, vi teus beijos,
quis nascer, não consegui. 
Vou te amar mais sete vezes.

 

* * * * * *


Poeta Luiz de Aquino, da Academia Goiana de Letras. 

terça-feira, outubro 13, 2020

Rumo só


 

Rumo só

 


Arde o coração,
a voz se faz em vibrato,
eriçam-me os pêlos
e os olhos brilham mais.
O corpo inteiro se agita
transmudado:
é o desejo.

 


Aí,
é lembrar você,
porque não tenho
outro interesse,
outro endereço,
outro adereço.

 

* * * * *

Poeta Luiz de Aquino, da Academia Goiana de Letras.

 

segunda-feira, outubro 12, 2020

O gozo que te cala


 

Ilustração de Roos. para o livro Isso de Nós (1990). 


O GOZO QUE TE CALA


 

É de ver como dói
esperar por teus passos
no corredor.
É de ver a esperança
de teu rosto sorrindo
à porta entreaberta
até desfazer-se
no beijo sonhado.


Cada peça de roupa
caindo silente
é pedaço das almas
gêmeas
que alimentam desejos
insatisfeitos
até que encontremos
no suor comum
orgasmos retidos
de todos os dias
do até agora.

 

            É de ver como gosto
            de gostar do gozo
            que te cala o pranto.

 

* * * * * *

Luiz de Aquino, poeta, da Academia Goiana de Letras.

domingo, outubro 11, 2020

MADRUGADA DERRADEIRA

Pág. 79 de meu livro De mãos dadas com a Lua, 1984.


Madrugada derradeira


 

O sino que canta,
a garrafa que cai,
o corpo que dança
e a noite se esvai.

 

Na rua não cabe
a angústia dos dias.
Os passos são fracos,
não há mais destino.

 

Por mais que se espere
não haverá desta vez
uma luz no final
da madrugada.

Ilustração: Dinéia Dutra, 1984.


* * * * * *


Luiz de Aquino, autor de prosa e poesia. Da Academia Goiana de Letras. 


sábado, outubro 10, 2020

O TEMPERO DELA

 



O tempero dela

 

 Ela marca minha vida

e há de ser o tempero dos meus dias
para sempre.
Nascemos adultos numa noite aí
entre sons
e vivemos amores entre problemas
até nos sentirmos
vencidos por nós mesmos.

 

Faltam coisas para a nossa igualdade
como o bife
acebolado com o tempero dela,
“a marca do amor nos nossos lençóis”
(*)
e minha presença
no cotidiano.


 

Mas somos únicos
na intimidade que deixamos existir
em justificativas
nos nossos passados tão distantes
e somos iguais
na plenitude do amor maduro
de agora.


* * * * * * 


Luiz de Aquino, poeta, da Academia Goiana de Letras.

(*) De Chico Buarque, in Trocando em miúdos.