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terça-feira, outubro 24, 2023

Goiânia, 90 anos

Em 1960, com 154 mil habitantes, sem a construção do Centro Administrativo.


Goiânia, 90 anos: memórias


de dois terços desta história!


 

Era 31 de julho, 1963. Faltavam 55 dias para o aniversário de 30 anos da cidade quando cheguei a Goiânia, para ficar. Vinha de minha terra natal, Caldas Novas, mas morava no Rio de Janeiro desde 1956; desembarquei na Estação Rodoviária, atualmente um quartel dos Bombeiros, na avenida Anhanguera, em frente ao Lago das Rosas.


Tomei um táxi até a Rua 96, limite sul do asfalto da cidade; o táxi, na realidade, era uma charrete. Eram muitas charretes para o transporte de pessoas, além de carroças para os fretes de pequeno volume. Os dias posteriores seriam para as descobertas. Eu completaria 18 anos em 45 dias, e esse tempo foi o bastante para palmilhar todas as ruas do Centro e do Bairro Popular: o espaço entre a Avenida Paranaíba e a Rua 67, que se tornou Avenida Independência; e o antigo aeroporto, que virou bairro. e o bosque do Botafogo, onde se instalou o Parque Mutirama, em 1969. O Bairro Popular tinha três grandes referências: o Estádio Olímpico, o Mercado da Rua 74 e a Escola Técnica Federal - hoje, Instituto Federal de Goiás. O eixo central da área mais nobre da cidade era a Avenida Goiás, em cujo término está a Estação Ferroviária; logo após, na década de 1950, surgiu o Setor Norte Ferroviário.


Vivi o Liceu, com sua fanfarra que ostentava um título honroso – Banda Marcial – que disputava hegemonia com sua similar do Colégio Pedro Gomes, conhecido também como Liceu de Campinas. Nossa juventude era pontilhada de festinhas de garagem, bailes no Jóquei Clube (em sua antiga sede), nos clubes do Sindicato dos Bancários e no oitavo andar da sede do Banco do Estado de Goiás.


Nos cinemas, os homens só entravam trajando paletós; as mulheres, sempre em trajes de rara elegância: eram muitas as lojas de moda feminina, ao longo da Avenida Anhanguera; os homens vestiam ternos confeccionados pelas várias alfaiatarias em tecidos comprados na Casa Hudersfield – as roupas feitas não eram muito aceitas. Conheci Campinas, mas evitava as festinhas campineiras, pois o bairrismo era forte e eu não queria me meter com confusão; já bastava a rivalidade entre Liceu e Pedro Gomes e Vila Nova versus Atlético.


Mauro Borges, filho de Pedro Ludovico, era o governador; o prefeito, Hélio de Brito, era médico de ampla referência. A arquidiocese da capital era dirigida pelo bispo Dom Fernando, auxiliado pelo jovem Dom Antônio; a guarnição do Exército era o quartel do 10° Batalhão de Caçadores (depois, 42° Batalhão de Infantaria). Vila Nova, Atlético, Goiânia e Goiás eram os quatro times da capital e para disputar o campeonato bastava incluir os clubes de Anápolis. A pizzaria pioneira era a Capri (depois se chamou Bagainha), os hotéis de maior referência eram o Bandeirante e o Presidente, já existia o Bolonha (restaurante italiano), a Churrascaria Campestre (na Av. Araguaia com a Rua 3) e a Kabana (Av. Goiás com Rua 5).


Havia o Teatro Inacabado, sempre em construção, mas já usado para apresentações, por seu diretor Otavinho Arantes, e o Teatro de Emergência (colado ao Jóquei Clube, demolido por exigência do “regime militar”, que alegava serem os atores “um bando de comunistas”; o meio literário, até então crescendo timidamente, era sacudido pelo GEN – Grupo de Escritores Novos. Na música, as referências eram ao maestro Jean Douliez e à magistral Belkiss S. Carneiro; e os conjuntos de bailes e os boêmios das serenatas...


Para os colegiais, a preocupação era com os vestibulares nas Universidades Católica de Goiás, formalizada em 1959, e Federal de Goiás, em 1960, ambas instaladas nas cercanias da Praça Universitária, no bairro Botafogo, que se tornou Setor Universitário. E tinha ainda uma escola isolada, não inserida em universidade, da esfera do Estado: a Escola Superior de Educação Física de Goiás, conhecida como Esefego.


São muitas as lembranças... e a saudade! Mas resumo: em 1960, a população de Goiânia era de 154 mil habitantes; em 1963, estimava-se em 210 mil. O quanto a cidade se expandiu e refletiu nos municípios vizinhos (a atual Região Metropolitana) é do conhecimento e da percepção dos leitores bem informados – dentre os quais, receio incluir-me sem o risco de ser flagrado em erros.

Goiânia de hoje: somos 1.500 mil habitantes. 


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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da UBE de Goiás e da Academia Goiana de Letras. 
Especial para o jornal O Hoje.