Ouvindo
rádio
Aqueles
tempos após a II Guerra Mundial trouxeram mudanças radicais, sim. Contavam os
professores (era o meu tempo de criança, os professores tinham um papel
importante na vida das pessoas) que as guerras ensejavam grandes mudanças na
tecnologia, na medicina e nos costumes.
Partiu
de escritores e artistas americanos, chamados de beatniks (neologismo originário do inglês beat em fusão com uma partícula russa – nik – que aparecia em termos como Sputnik, lunik e outros),
o movimento que contaminou a juventude – e o mundo nunca mais foi o mesmo
Falei
do Sputnik – o satélite artificial soviético que assustou o mundo com o seu bipbipbip
captado nos observatórios do mundo. Aquele aparelho é o símbolo máximo das
novidades da época, mas, pelas ruas, os rádios a pilha se espalhavam
rapidamente – como as calças rasgadas preferidas da juventude de agora. Os
primeiros rádios pareciam um tijolo, pela forma de paralelepípedo e pela cor
ocre dos estojos de couro grosso que os revestiam. O minúsculo fone de ouvido,
assessório importante, chegou para durar mais que os rádios.
Pois
é! Ouvia-se muito rádio. O rock and roll
conquistava o mundo e a bossa nova também entrou na onda; nos estádios, os
rádios eram indispensáveis. Os modelos menores, na dimensão de um maço de
cigarro, eram trazidos nos bolsos das camisas. Notícias, música e radionovelas
eram os motivos mais expressivos para os aficionados.
Era
também o tempo dos grandes locutores. Mulheres e homens de vozes envolventes,
com ótima dicção e uma busca incessante pelas melhores formas de texto e fala,
com correção gramatical e vocabulário apropriado, capazes de ampliar o
conhecimento dos ouvintes sobre quaisquer assuntos.
O
rádio ainda é uma força no segmento da comunicação, mas hoje divide esse papel
– essa importância – com outros veículos. O lamentável, para quem conhece um
pouquinho da história desses últimos 60 e poucos anos, é presenciar a
decadência do nível de aprendizado e da qualidade profissional que temos hoje.
Os
apresentadores, âncoras, repórteres e outras personagens do mundo radiofônico
(podemos incluir os da tevê) são orientados por excelentes instrumentos de
trabalho, como o Manual de Redação da CBN (que ganhei de presente do meu filho
Lucas). Infelizmente, os profissionais da rede noticiosa não leem o livro. Ou,
se o leram (ou os que o leram) não assimilaram nada!
Regras
gramaticais das mais simples são ignoradas solenemente. O uso abusivo de
“muletas” – como a partícula “aí” – é uma tônica constante, com repetições
insistentes. Palavras como “inclusive”, “insistem” e “interativo”
transformam-se em “enclusive”, “ensistem” e “interativo”; e é corriqueiro
falarem “indentidade, por exemplo.
Um
repórter tenteou quatro vezes e não conseguiu pronunciar “poliomielite” – no
que foi auxiliado pela locutora-apresentadora que, justificando (?) o erro,
finalizou com a frase “tudo bem, tá dado
o recado” (ah! O verbo estar, para eles, perdeu a primeira sílaba). Outro
repórter, com a ênfase que se aplica em notícias de política, destacou que um
candidato seria entrevistado “entre
as 14 até as 16 horas”.
Noções
de geografia e de história? Nada! Há poucos meses, na mesma CBN de Goiânia, uma
repórter noticiou: “A polícia encontrou um corpo de mulher num córrego da
Marginal Cascavel”.
Tudo
isso poderia ser evitado se os profissionais respeitassem o que recomenda o
Manual da própria rede. Ou que tivessem aprendido as regras ensinadas em sua
formação escolar. Nas nada disso é levado em conta. Nem mesmo fato de, nas
manhãs das segundas-feiras, um professor de Português prestar seus serviços à
emissora.
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Luiz de
Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.