Festa do Divino e mais...
Congadas, Folias, Pastorinhas, Cavalhadas, Novenas... É plural, sim a Festa e as Festas em torno do Divino Espírito Santo, em Pirenópolis, desde os tempos de Meia-Ponte. Coisas das gentes de lá, parentes sanguíneos de mim, amigos de olhares e falas, parceiros de serenatas eternizadas em memórias e escritos tantos...
Bom! Bão! Bão dimais da conta! Melhor ainda no tempo em que a cerveja não amargava tão cedo, e se bebida bem cedo, na manhã, quando a pimenta no caldo de mocotó ajudava a expurgar o sabor da ressaca. Éramos muitos, entre primos e amigos, nativos e “de fora” (estes, levados por nós e nossos amigos, só para vê-los encantados com as cores e os sons de Pirenópolis).
Numa dessas aí, levei lá um amigo novo, muito magro... Agora, é amigo velho e rabugento, mas continua magro... Mais magro, até! Encharcou-se de encantos pelas ruas tortas, pelos pisos de pedras mal niveladas, pela lua que enfeitiça, as serenatas mágicas e pelas festas. As festas na Festa do Divino. Ano passado, ele e eu ganhamos títulos honoríficos. Agora, somos cidadãos pirenopolinos!
Falo de Jorge Braga, palhaço inato, parceiro de alguns ofícios (ele no traço, eu na escrita) e irmão de copo e confidências saudáveis. Em pouco, de provável e curioso turista tornou-se apaixonado pela terra e suas cores. E desde as festas de 1979, fez-se mascarado. Destoa da prática por ligeiros pecados – o primeiro deles foi quando amarrou o cavalo à porta de uma venda, aproximou-se do balcão, tirou a máscara e pediu cerveja. Onde já se viu? Mascarado não tira a máscara! Ou melhor, não tirava.
Interrompo esta história para contar... Foi numa comunidade do Orkut (Pirenópolis é bom demais!), uma moça de Niterói, Luciana Danielli, pedia informações: tinha reserva numa pousada da Rua Aurora... Como sou dado a puxar assunto ou esticar conversa, respondi-lhe:
“Rua Aurora... Minúscula calçada junto aos casarões, faixas de relva entre as calçadas e a pista central, pavimentada de pedras de quartzito das pedreiras que circundam a cidade. Rua inclinada, que a direção do trânsito estabeleceu declive, liga o Alto do Bonfim ao Largo do Rosário, rua de confortáveis pousadas e restaurantes que desafiam a força de vontade dos que lutam com a balança. Rua de antigas serenatas, ouço do tempo acordes de cordas e clarividências de metais maviosamente soprados em harmonia, ritmo e berço de poemas inesquecíveis. Ah, Rua Aurora! Poderia dizer dela Rua da Saudade, mas seria injusto com tantas outras velhas ruas da tricentenária Meia-Ponte do Rosário, a Pirenópolis dos últimos 120 anos, cenário e ambiente de boas lembranças.
Mas, manhã de domingo, tendo eu perdido a festa de lançamento de novo livro de Adriano Curado (foi mais uma festa), cheguei um tanto jururu a Pirenópolis. E ali, como sempre, meu primeiro encontro é com o primo Luiz Antônio, que me confidencia (e eu não guardo o segredo):
– Jorge Braga sai de mascarado.
Não estranho: nestas últimas 32 festas, se ele faltou foi pouco. Não é bom mascarado, porém. Já disse que ele tira a máscara, mas é preciso vê-lo. Um Dom Quixote na magreza, mas inábil com as rédeas. Consegue perder as orelhas e até os chifres da máscara de boi e tem sorte por não ter atropelado alguém.
Jorge lamenta:
– Curucucu (é como chamamos, em Pirenópolis, os mascarados da festa) tá com a bunda toda esfolada.
– Ano que vem, siô, você se cuide. Proteja aí os ossos com uma ou duas fraldas geriátricas.
* * *
10 comentários:
ADOREI A RECEITA REALMENTE É DE AGUA NA BOCA, QUANTO A DE HOJE SOU DEVOTA DO ESPIRITO SANTO DEVE SER LINDA ESTA FESTA EM SUA CIDADE PENA QUE MEU MARIDO NÃO É DE VIAJAR .
Luiz bom dia, saudades
Essa crônica do Divino precisa ser publicada no Overmundo... é importante...
bjs
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Sinva
Grande Poeta!
Já marquei com o meu filho, Marcus Vinícius, ida m inha a Pirenópolis. Ele vai com a família, sempre que pode.
Quando pintar o programa, eu aviso.
Abraços
Fernando
KKKKKKKK,
Eu acho que o Jorge Braga vai lhe dar o troco com umas daquelas charge que só êle sabe fazer.
lagodinho
Perfeito... Amei sua descrição da Rua Aurora, que também, é minha Rua da Saudade.
Sobre o Dom Quixote, (Curucucu)...Jorge Braga, Perfeito, admiro sua coragem de ser homem /menino... Menino que se veste de homem, e de mascarado onde vive a alegria no iluminar de um belo sorriso.
Este Dom Quixote a quem se referiu esta sem seu Sancho Pança, por isso suas batalhas contra os moinhos de vento, são solitárias, contudo ainda persistente. Quem sabe uma bela “Dulcinéia de Toboso”, ainda entre nessa historia, e de muitos outros sorrisos outras festas do Divino se tornem mais que só SAUDADE.
Parabéns amei, tudo, principalmente as fotos.
Beijo e Cheiro.
Luciene Silva
Os gordos fazem sofrer os cavalos, e os magros sofrem na retaguarda desguarnecida e ficam esfolados. Aqui em Montes Claros também tem esse tipo de festa, mas não tem mascarados.
Através de você viajei a Pirinópolis e na volta saboreei a rosca de moranga. Tenha um excelente fim de semana.
Esta crônica relamente está DIVINA! Encerrei meu domingo com uma FESTA.
Um fortíssimo abraço!Marília.
Oi, Luiz...
Que interessante você ter colocado a foto do moço Jorge Braga , heim? Foto & Fama não combinam!! Foi muito bom ter estabelecido a compração foto & fama (oral) !!!! Eu já havia idealizado um moço Ermitão....E agora, Luiz? O que eu faço com a imagem idealizada? rsrsrsrsrs
Oi, Luiz...
Que interessante você ter colocado a foto do moço Jorge Braga , heim? Foto & Fama não combinam!! Foi muito bom ter estabelecido a compração foto & fama (oral) !!!! Eu já havia idealizado um moço Ermitão....E agora, Luiz? O que eu faço com a imagem idealizada? rsrsrsrsrs
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