O
Brasil instituiu, por lei e costume, que o dia 14 de março, data de nascimento
(em 1847) do poeta Castro Alves, como Dia Nacional da Poesia. E a UNESCO, órgão
das Nações Unidas para a Educação e a Cultura, há cerca de dez anos instituiu o
21 de março o Dia Internacional da Poesia, considerando o início da Primavera
no Hemisfério Norte. Assim, o poetariado brasileiro ganhou a semana inteira...
Poetariado
é uma expressão bonita. Sou desconfiado demais com neologismo, gosto de sentir
como acontecem; irritam-me expressões modernosas como “digitalizar”,
“empregabilidade” e, dia destes, uma jovem coleguinha escreveu-me
“usabilidade”... preferi não responder. Mas volto ao termo: poetariado. Ouço-a
e leio-a em textos de pelo menos dois poetas – Valdivino Braz e Brasigóis
Felício – em referência aos vates, especialmente aos mais próximos; e o termo
foi, certamente, pensado como analogia a “proletariado”, palavra usual até 1964
e proibida no “índex” das fardas
distantes do processo racional que se instalou no país... Ah, não é o
tema!
O
poetariado goianiense sempre esteve atento a datas, movimentos e eventos afins.
Ao tempo de Miguel Jorge na presidência da União Brasileira dos Escritores de
Goiás, os eventos eram muitos. Foi ele quem instituiu premiar escribas,
artistas e mecenas com um troféu bem goiano – o Tiokô (palavra carajá para
“boneca”) e coube a Gina Cogolli, artista italiana radicada em Goiância,
conceber a estatueta. E foi também de Miguel Jorge o surgimento de uma prática
bonita e bem lembrada – as exposições de poemas-cartazes. Era assim: um artista
plástico produzia um cartaz ou tela a partir de um poema; o texto era
transcrito na peça e a coleção era exposta em pontos estratégicos da cidade.
Estreei nessas mostras em 1977, com um cartaz do artista plástico Da Cruz.
Aidenor
Aires, tempos depois, trouxe-nos outro evento muito bonito: Setembro da Poesia.
Antecedendo a UNESCO, ele usou o calendário que nos dá a Primavera sulista. Ao
longo do mês mais belo do ano (claro: nasci em setembro, uai!), o poetariado
local percorria escolas em rumorosos eventos, juntando turmas nos ginásios
(quadras cobertas) ou auditórios, proferindo palestras e realizando debates,
mostrando poesia em cartaz (com ou sem ilustrações) e, ao término do projeto, o
lançamento de uma antologia poética (tenho algumas na minha estante).
Nestes
trinta e cinco anos de intensa atividade no meio cultural, tenho participado
com muito zelo e alegria destas datas marcianas (do mês, minha gente! Sou
lunático, mas não vou além do astro prateado). Ano passado, numa breve atuação
na Câmara Municipal, promovi um belíssimo sarau (sem modéstia); éramos cerca de
trinta bardos a mostrar poesia. Kaio Bruno, jovem poeta, líder do grupo Letra
Livre, promete um sarau especial para o Dia Internacional.
Com
as escolas estaduais em greve, as municipais e as particulares, parece-me,
deixaram o 14 de março passar esquecido. Ou, ao menos, os professores com quem
me relaciono e os poetas do meu convívio preferiram deixar-me à margem. Mas,
como os tempos são outros, fiz a festa nas redes sociais da Internet, com
ênfase para o Facebook. Publiquei dois poemas meus –Dia de Castro
Alves e Sou poeta –; uma leitora
acrescentou o vídeo de um terceiro da minha lavra – Beijo Sonhado (coincidentemente, todos do meu livro Sarau) e,
assim, fizemos a festinha virtual com muita interação, de poetas e leitores de
todo o Brasil.
Pois
bem: no meu blog, mantido há cerca de seis anos e com mais de cem mil visitas, coleciono
milhares de opiniões sobre poemas e crônicas; para um autor, nada é mais
gratificante que os comentários, de qualquer natureza, dos leitores. O mesmo se
dá em momentos como esses, das datas comemorativas da Poesia – deliciei-me com
as leituras dos amigos e os comentários, as novidades postadas...
Bem:
entre esses comentários, o que definiu-me, por ser poeta, como alguém que vive
“rezando a vida”. Emocionou com essa definição e a partir dela resolvi contar
esta ligeira história de um dia desta semana. A autora é a professora Adelaide
Alvarenga, amiga minha desde os tempos em que, menina-moça, cantava Non ho l’eta ao violão, os cabelos a
cobrir-lhe graciosamente parte do rosto (recordar esse tempo, Adelaide, é, sim,
rezar a vida!).
* * *
5 comentários:
Amigo poeta, que belo registro. Um bom domingo. Abraço do Luiz Delfino
Luiz,poeta.
Bela crônica sobre poetizar.
Pessoa falou em saber florir.
Bom dia, poeta Preferido Luiz de Aquino. Belíssimo texto! Muito obrigada por compartilhar informações tão atualizadas. Graças a DEUS e principalmente a você, que é o meu preferido poeta, ou poeta preferido?! certo? errado?, não sei!rs, enfim,passei na U.E.G para o curso de letras, Português e Ingles, "basicamente" lendo seus textos e tentando corrigir-me... Parabéns! Seu blogger cada dia melhor! Ainda preciso estudar muito, para escrever em nosso idioma oficial, Português.Ireci Maria, sua leitora e amiga.
Rezar a vida é de fato uma definição original e completa. Veja, poeta, como o ambiente faz o não leitor de poesia. A minha mãe lia muito, mas dizia não entender os poetas. Assim, o gênero não foi despertado em mim, exceto mais recentemente. Aprendi a ler poemas em voz alta e lentamente para poder ver o ritmo, a métrica e a rima. Passei a compreender e a admirar ainda mais os seus pares. Aos poemas musicados, - o que lhes acrescenta mais valor -, sempre disse: caso os poetas não tivessem sido inventados teriam de sê-lo, e logo. Viver sem poesia não dá.
Esta crônica está inspiradora.
Sua iniciativa de divulgar o dia dedicado à poesia no face foi ótima!
Infelizmente parece que as escolas não acontecem, a politicagem não deixa...
Mas, li seus poemas postados e Beijo Sonhado é o meu predileto; é delicado, simples e tem sua identidade como poeta, enaltecer as relações humanas de um modo ousado e romântico sem vulgaridades. Obrigada por rezar a vida em sua poesias e assim nos proporciona esta " oração" quando lemos.
Abraço.
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