Que as ruas não se calem!
A
população brasileira, espalhada por todo o território nacional desde os
marcantes anos de Juscelino Kubitschek na Presidência da República (e,
pleonasticamente, na construção de Brasília), saiu às ruas e às rodovias.
Novidade? Só mesmo para os moços na casa dos 20 anos e os adolescentes. A
última grande marcha nacional se deu em 1992, quando se deu a partida na
máquina do impeachment.
Antes
de 1992, o Brasil havia se movimentado sob a chamada “Muda, Brasil!” e a
campanha “Diretas Já!”, lá por 1985, 1984... E, sob um mesmo chamado, em 1968,
“o ano que não acabou”, como o definiu Zuenir Ventura. Pois é, 1968 foi o ano
em que a estudantada francesa (sempre nos lembramos do levante francês), bem
como a mexicana, a norte-americana, a japonesa, a tcheca e tantas, tantas
outras mostraram-se inconformadas. E os policiais agiram em todos os
movimentos, reprimindo e arrebentando para prender depois. Os movimentos
brasileiros, unidos pelo clamor estudantil em protesto pelo assassinato de um
jovem estudante no Rio de Janeiro, precipitaram a edição do AI-5 (os governos
militares apelidaram de Ato Institucional sua atitude de rasga-constituição; e
a cada vez que assim agiam, numeravam o arbítrio).
Os
gritos e as exigências são, agora, como velas acesas; e no meio disso aí, a
denúncia de que pelo menos duas agências espiãs norte-americanas atuaram no
Brasil ao menos até 2002, com sua parafernália instalada em Brasília e capaz de
rastrear comunicações estrangeiras de quaisquer origens, em especial as de Irã
e China. Se, estando em Brasília, espionavam chineses e iranianos, deixariam de
“ouvir” e “ver” brasileiros? Santa ingenuidade!
Estas
semanas têm sido, sim, um inferno astral para a presidente Dilma Rousseff. E
gritos pontuais (considerando-se a diversidade das queixas), mas uníssonos em
todas as passeatas, mexeu-se no transporte coletivo, na saúde, nos
procedimentos médicos, na formação acadêmica dos médicos, no marasmo
conservador dos políticos (sempre a evitar reformas que tornem rígidos os procedimentos
eleitorais e comportamentais de governantes e parlamentares) etc. e tal. Até
mesmo o desgastado tema da reforma agrária parece ter ganhado corpo, ao menos
nos movimentos da última quinta-feira.
Em
meio a tudo isso, incomodam-me alguns conceitos emitidos por algumas
autoridades. Numa das maiores cidades de Goiás, uma autoridade da Secretaria
(municipal) da Educação sugeria que se fechasse única biblioteca da cidade; enquanto isso, em Caldas Novas,
o prefeito Evandro Magal atendeu a um apelo da presidente, Professora Marília
Núbile, e cedeu um imóvel para sediar a Academia de Letras e Artes (parabéns,
Magal! Obrigado, Magal! Há 24 anos esperávamos por isso. Parabéns, Marília!).
Em
Goiânia, também na última quinta-feira, o tema do nepotismo voltou a agitar o
Ministério Público que, até então, continuava sem informações sobre os
familiares de Conselheiros empregados na Corte, bem como valores salariais
destes e de comissionados lotados no órgão (o TCE negara-se a atender aos pedidos do MP). Em Aparecida de
Goiânia, o ex-prefeito Freud de Melo ofereceu à Academia Aparecidense de Letras
um amplo salão para as reuniões e eventos da entidade, atendendo a uma sugestão
da professora Maria de Lourdes Primo. Obrigado, Freud! Obrigado, Lourdes! Parabéns,
confrades!
Os
movimentos de rua, ainda que enfatizem demais as questões da Educação, ainda não
conseguiram sensibilizar os políticos sobre o caos escolar em todos os níveis
de escolas e de governos. “Quosque tandem”, minha gente?! Até quando?!
Receio
que os clamores se aqueçam ainda mais. Muitas medidas foram idealizadas e
concebidas ao calor das marchas, mas a omissão ante graves problemas podem
inibir o alívio por atitudes válidas já adotadas. Redução da jornada de
trabalho, solução acerca do “fator previdenciário” e medidas sérias para a Educação
já se tornam exigências nada desprezíveis.
* * *
2 comentários:
O marasmo do "tudo bem" via marketing ruiu. As primeiras manifestações foram contra o governo, especialmente o federal, e as de ontem em sentido oposto, à favor do governo que lá colocaram (em sua maioria), porém com graves críticas e amplas reivindicações. Sua crônica foi bem informativa.
Teresinha Pinheiro Lacerda enviou o link de um blog para você:
Nosso poeta goiano está sempre "conectado" com nossas realidades. Sua sensibilidade confere esta característica de permitir que veja bem o muito q o correr dos dias nos dá e deixa de herança para a memória,Bjs., poeta.
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