Resquícios daquilo
Vão-se décadas desde quando ouvi falar, pela primeira vez, das preocupações quanto ao desmatamento. E naqueles anos 60 do século passado já se defendia o desenvolvimento com equilíbrio – isso que os políticos, agora, dizem ser “desenvolvimento sustentável”.
Sob a tutela de um regime autoritário, muitos “produtores” conseguiram multiplicar suas fortunas à custa de agredir as matas e os caudais. Governantes menores, como os prefeitos de metrópoles e de corrutelas, cometeram crimes ambientais que mascararam com palavras como “progresso” e “desenvolvimento”.
E São Paulo recorreu, na última quinta-feira, 15 de maio, à reserva técnica dos reservatórios de água do Complexo Cantareira – pela primeira vez na História! A que ponto chegamos?
Atualmente, neste ano em que o golpe civil-militar faz meio século, ainda convivemos com mentalidades tacanhas como a dos que manifestam simpatia pelo arbítrio; e há os que teimam em pedir melhorias nas ações dos governos, crentes na máxima que a Carta Magna sacraliza: o poder emana do povo e em seu nome será exercido.
Uma falácia? Talvez: na quinta-feira, dia 8 de maio, um adolescente de 16 anos, à porta da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás percebeu que alguns estranhos imiscuíam-se entre os que pediam melhorias no transporte coletivo. Foi o bastante para que os infiltrados (policiais à paisana) o agredissem, quebrando-lhe alguns dentes.
Resquício de que mesmo? Nota dez para quem disse “da ditadura”. Sei, por informação à boca miúda, que as escolas militares ainda ensinam sob lemas contra o comunismo, e para esses é comunista todo aquele que os contesta, como os que vão às ruas pedir aumento de salários, melhorias no transporte ou na saúde pública e liberdade de expressão integra o segmento dos perigosos – porque é quase certo que os doutrinadores “anticomunistas” de agora sequer definam o que é comunismo.
Comunismo, para eles, é que nem o capeta – a gente nunca viu, não vislumbra sua essência mas combate-o com um vigor fanático e irracional. Eu, pessoalmente, duvido dos dois. São, para mim, figuras literário-ideológicas, e militares e civis que pregam tanto contra eles devem ganhar muito poder ou muito dinheiro às custas da ignorância de seus aprendizes seguidores.
Os direitistas de outros tempos (não vejo razão para, nos dias atuais, falar-se em direita e esquerda no campo das ideologias; isso é mesmo coisa de 30 anos ou mais) fazem circular nas redes sociais um texto panfletário de um pai que sofre, até hoje, pela morte prematura de seu filho de 19 anos, lá por 1970 e poucos, vítima de uma bomba lançada de um carro não identificado – logo, também seus ocupantes não foram identificados. Esse texto atribui à presidente Dilma a autoria da morte do rapaz, que era soldado do Exército e estava de sentinela à porta de um quartel.
Ora: a culpa pela morte daquele moço, e de tantos mais no confronto entre os opositores e os defensores do regime, cabe ao próprio regime. Não preciso discorrer sobre isso. Quem matou aquele jovem e inocente soldado, um militar temporário (ele apenas cumpria o dever legal de prestar serviço às Forças Armadas), foi o mesmo que matou Rubens Paiva e centenas de outros. Ou as “forças instituídas” pelo golpe esperavam que a nação aceitasse silenciosamente o arbítrio?
E vem daqueles, também, a índole assassina que, por enquanto, apenas machucou o menino de 16 anos, no Setor Universitário. Mas eles costumam matar também...
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3 comentários:
Admiro você, por se posicionar sempre! Seu texto lava a alma de muitos! Obrigada!
Luiz, apesar de discordar sobre a existência ou não das ideologias de Direita e Esquerda, achei seu texto um exemplo da análise crítica da vida brasileira nos últimos 50 anos, mesmo que de forma resumida.
Os reacionários, por falta de um discurso convincente, poem seu time de mantras, com titulares e reservas, para "fazer a cabeça" dos jovens incautos e sem senso crítico.
A educação é uma poderosa arma política, para o bem ou para o mal - isso só depende de quem a proporciona.
Minha solidariedade ao jovem atacado covardemente e à sua família.
Abraços!
Quando as vozes estão muito concordantes é preciso ficarmos atentos. Coisa ruim vem por aí. A diversidade continua sendo uma maneira melhor de se fazer política.
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