Vênus de Milo - obra da Antiguidade, encontrada em 1874 no Monte Esquilino |
Sinais dos tempos... Quais?
Sim... Quais? Que
tempos são estes, em que um segmento da sociedade, ocasional e oportunamente,
se emerge em nome de uma moral reinante nas cercanias das paróquias
inquisitoriais?
Vejamos... Vivemos
a falência de importantes valores morais, mas não se aplica tal oposição à
hipocrisia, ao cinismo e ao descaramento que conduz “ilustres” políticos –
parlamentares e ministros, capitaneados por autoridades do Executivo e do
Judiciário – à ostensiva defesa, em atos e palavras, sem sequer se corarem!
Adotam atitudes
que equivalem a indisfarçáveis confissões de culpa!
Expressam votos
“técnicos” que carimbam a decisão com a evidente destinação da atitude assumida
– e, repito, não se envergonham por isso!
E então, numa
mostra de arte bancada por um banco na capital mais ao sul, Porto Alegre,
artista desta época dá ares atuais à arte mais refinada do milenar Kama Sutra.
E a moralidade da famigerada (de triste memória) TFP se expressa em defesa “da
família, da moral e dos bons costumes”!
À falta de
sustentação filosófica, apelam para os clichês de “combate aos comunistas” (o
que me remete a um provérbio da roça da minha infância: “Depois da onça morta,
qualquer vira-lata quer mijar no couro”).
Na Renascença, a
par com o rigor da Santa Inquisição (merece maiúsculas? Não, salvo pela mera
identidade com uma fase da História), Michelangelo concebeu nus, em pintura e
escultura, admiráveis até hoje!
Outra mostra, com
atores em movimento, expõe um homem grisalho nu e uma mãe estimula a filha
criança a tocar o homem.
Vozes a favor e
contra elevaram-se e ganharam admiradores e contestadores. Divulguei alguns
vídeos, sem opinar. Seria necessário? Mas fui acusado de “divulgar o
indesejável”. Uai! Minhas práticas sexuais, como as de quem quer que seja, de
John Lenonn a Chiquinha Gonzaga, de Madame Satã a Fábio Júnior, são itens
individuais. E esta mesma humanidade, há três mil anos, pratica muita coisa no
quesito sexo que, quando adolescentes, pensamos que nós os inventamos.
Desde que os
textos ganharam formas e imagens poéticas, o erotismo virou literatura. Cínicos
são os que torcem narizes a isso, mas enchem o mundo de filhos – como os
religiosos que “condenam” os fiéis, mas lambuzam-se de luxúria com mulheres (e
homens também, uai!) em suas intimidades.
E aparecem os
pregadores da “moral cristã” ou das doutrinas “judaico-católicas”, dos
preceitos difundidos por pastores e padres em colheitas seletivas no Antigo
Testamento, estimulando seus “fiéis” a demonstrarem que “destruir a família é
meta do comunismo, desde Marx e Engles”.
Poxa! Como
manipulam a História e deturpam tudo! Digam, pois, que Platão era comunista
dois mil e tantos anos antes de Marx, pois ele sugeria uma “república” em que
as crianças eram transferidas pelos pais ao Estado para se formarem
trabalhadores braçais, profissionais de ofício e até o ápice de poetas e
filósofos – a estes cabendo o governo.
E o sexo fora do
preceito religioso de “papai e mamãe, e só para a procriação”, tão enfatizado
pelos religiosos e falsos moralistas, escapa das artes plásticas, em duas ou
três dimensões, da literatura, do teatro e do cinema.
No paralelo, essa
estranha “ideologia de gêneros” que contesta a ciência e diz que “todos nascem
sem sexo, a escolha vem depois” – e nisso, pelo que se propaga, até mesmo
poderosíssima empresa de alimentos e cosméticos pega carona por conta de um
antigo trocadilho do vulgo em tono das palavras “homo” e “omo”.
Que tempos, hem?
Tempo de péssima escolaridade! E este texto sai no jornal justo neste 15 de
Outubro de 2017, Dia do Professor – desta vez, consagrado à heroína de Janaúba,
Minas Gerais, a professora e mãe Helley
Abreu Batista, por ter conseguido, indiscutivelmente, conter o número de
vítimas de um ato de insanidade.
Aos moralistas de plantão, só um recado: deixem as artes em
paz, escolham vocês, caso sejam pais e educadores, como educar seus filhos para
serem felizes e bons cidadãos, livres e determinados, em lugar de erotizá-los
antecipadamente ou de impor diretrizes às suas identidades sexuais.
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Luiz de
Aquino é escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
3 comentários:
Pois é!
Sempre pensei na estética como fundamento da Arte e não consigo vislumbrar um simples arremedo dela naquela "exibição" tão discutida. Tenho meus princípios e me recuso a aplaudir o que não gosto, só porque dizem ser manifestação artística. Perdoe-me Paulo Freire, mas a tal da midiatização passa longe de mim. Alienada ou não, sou mais eu!
Bem moderna e lúcida a sua visão. Vi manifestações artísticas horríveis, nesses vídeos por aí. Pornografia, deveria ser apenas em salas para adultos. Demais manifestações, nu e erotismo, acho normal. Ainda que a definição de normalidade seja vazia. O radicalismo dos moralistas sem moral, está como sempre foi: acusam a esquerda de querer acabar com a família, como você tão bem mencionou. Agora a acusam também de querer tornar natural a pedofilia. Tais reações beiram a histeria, que está se ampliando de modo coletivo. Não estou gostando do que estou vendo. Que tudo possa voltar à normalidade.
Parabéns pelo seu artigo no DM "Sinais do tempo...Quais? ". Leitura imperdível!
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