Prazer em festejar
(Esta crônica é de 8 de março de 2015. Republico-a por conta do indiscutível ineditismo de um texto de três anos, neste país sem memória e, tristemente pior, sem mais
valores sobre os quais se sustentam nossos costumes. L.deA.)
No decurso da semana, ouvi notícias desencontradas sobre o estado de
saúde de Fernando Alonso após o acidente que sofreu durante um treino. Diziam
que ele despertou sem lembrar-se de sua vida real, isto é, sentia-se como um
adolescente que corria de kart e que sonhava ser um piloto de Fórmula 1. No dia
seguinte, a notícia era sobre a reação um tanto indignada do atleta,
ridicularizando os dois jornais que divulgaram tal versão.
Perfeitamente normal, a brabeza do campeão. Quem gosta de ser
considerado sem-memória? Isso de se perder no tempo deve ser igual a estar no
meio do mato sem saber das referências para se sair dali. É indispensável a
consciência de nossa história e do espaço geográfico.
Há algum tempo, uma senhora mal-humorada publicou no Facebook algo
parecido com isso: “Amanhã é meu aniversário. Não me deem parabéns, eu não fiz
nada, não realizei nada, apenas me desejem feliz aniversário porque dar
parabéns em aniversário é burrice”. Fiquei a imaginar... E viajei num espaço
que só eu conheço, um misto de memória e imaginação, buscando saber como teriam
sido as tais festas pagãs da antiguidade – essas que nos deram o Carnaval, a
Páscoa, o Natal... Sei que elas se ligavam à geografia e ao registro temporal
dos antigos, que essas festas associavam-se às mudanças de estações (os
solstícios e equinócios).
Todos festejamos aniversários de nascimento, de namoro, de casamento e
de muitas outras ocorrências de menor monta nas vidas individuais, mas de forte
significação social. E conheço pessoas de comparável mau-humor (tomando por
referência a senhora que recusa parabéns) ante datas, aquelas que acusam o
comércio de marcar o calendário com o Dia das Mães e o dos Namorados e até o
Natal.
Eu gosto muito de datas assim. E o comércio faz muito bem em nos lembrar
disso e nos sugerir que presenteemos as pessoas: trocar presentes é gesto de
grandeza social e emocional. E, convenhamos, o que seria de nossas vidas sem o
comércio? Não precisei viver toda a vida para concluir que “coisas supérfluas”
dependem do momento e das nossas atividades, e não de uma lista que alguma
autoridade setorial tenta nos impingir. Para mim, batom é quase sempre
supérfluo (mas é lindo ver uma mulher bem maquiada!), como um dicionário que
tanto me serve há de ser superficial para aquela senhora que prefere sapatos a
livros.
Tudo isso, queridos leitores, só para manifestar minha alegria neste 8
de Março, o Dia Internacional da Mulher (este dia pode bem ser supérfluo, pois
sou dos que reverenciam a mulher todos os dias, mas se a humanidade se concentra
para festejar, quero festejar junto!). Como quero lembrar também que o próximo
dia 14 é o Dia Nacional de Poesia (o dia de nascimento, em 1847, do poeta
Castro Alves) e também o 21 de Março (equinócio de Primavera no Hemisfério
Norte e, obviamente, de Outono para nós), Dia Internacional da Poesia.
E entre estas datas de alto alcance social, vou festejando cada dia no
âmbito das relações pessoais nos aniversários de amigos e parentes, é claro!
Festejo o bom estado de Fernando Alonso, o campeão, e os aniversários diários
de tantos que me são queridos! Festejar é celebrar, comemorar (lembrar junto).
Ah... a vida seria muito sem-graça se não festejássemos tanto!
***
Luiz de Aquino é jornalista e
escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
Um comentário:
Alguém mal humorado haverá de querer desancar toda e qualquer comemoração. Posso não presentear, mas o dia do aniversário é o momento daquela pessoa. Vale tudo para manifestar que estamos felizes com a sua existência e devemos sim, festejar a sua vida.
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