Pérsio Forzani, o mais expressivo e decantado artista plástico de Pirenópolis, despediu-se da matéria ontem, 6 de dezembro, 2021. A notícia bateu como um murro de baixo pra cima, feito um murro no queixo para arrancar a cabeça; lembrei-me de de um dos nossos últimos encontros. Aqui está a crônica, enfeixada por um poema especial para a festa aí narrada e que, caso eu me disponha a produzir um novo livro de poemas, este não será olvidado.
Quando a Tocha Olímpica passou por Pirenópolis (2016), Pérsio foi um dos indicados a portá-la, com solenidade... |
Pérsio, o de Pirenópolis
Imagino que quase todos os jornalistas tiveram, ao escolher o ofício, o mesmo estímulo que eu: a curiosidade ante o fato e o desejo de contá-lo. Mas isso, feito sem o efeito da boa escrita, é coisa de fofoqueiros. A diferença está justamente no amor ao texto.
Desculpem-me os leitores por essas costumeiras divagações quando me ponho a escrever. Produzir uma crônica é um dos meus grandes prazeres e não posso simplesmente imaginar que um gol é apenas um pênalti, sempre o concebo como uma articulação demorada, ziguezague que começa lá na área de defesa, evolui-se no meio do campo e se conclui na área adversária, no excitante desafio a zagueiros e goleiro, no balé de corpos e pernas, no malabarismo improvisado em frações de segundo para ver balançar a rede e erguer-se a torcida... (Poxa! Até para pedir desculpas eu divago; tudo bem, a culpa é da Copa do Mundo!).
O que me motiva, hoje, é Pérsio Forzani, artista plástico com documentos que nos mostram um homem de 79 anos. Na sexta-feira, dia 4 deste junho de 2010, Pérsio foi homenageado em Pirenópolis, sua cidade de nascer e viver sempre. Não se tratou, porém, de uma festa antecipada das oito décadas, mas dos setenta anos em que Pérsio se dedica à arte de desenhar e pintar. Luiz Antônio Godinho, ao telefone, passa-me um recado:
– Você também está escalado para saudar Pérsio...
Quem exigia? José Nominato Veiga, idealizador da festa que envolveu desde este poetinha até o prefeito Nivaldo Melo, passando por pessoas de destaque na cidade, como o artista Elder Rocha Lima e o desembargador Joaquim Henrique de Sá.
Pois é! Pérsio, de tanta vivência, tem no olhar um brilho instigante: é a luz da juventude. As pernas, imobilizadas e contidas pela pólio na tenra infância, não o impediram de jogar futebol quando menino, como contaram os amigos e o vice-prefeito Tassiano Brandão, companheiros naquela infância. Falou-se lá em outros números: são mais de três mil telas espalhadas pelo mundo, a maior parte mostrando Pirenópolis. Num só projeto, há cerca de vinte anos, Pérsio reproduziu quatrocentas casas históricas da cidade. A encomenda foi do saudoso professor José Sizenando Jaime para sua obra em dois volumes sobre as vetustas construções da antiga Meia-Ponte do Rosário.
Pérsio Forzani (o homem que pinta poesia)
Espalho-me ao tempo
ao sol que define os dias,
à Lua que benze as noites.
Nos anos mais verdes,
colhi serenatas plantadas nas ruas
de pedras, sem régua ou compasso.
Ouvi versos cantantes
e acordes dolentes; vi moças bonitas
nas janelas, silentes...
Era um tempo de estrelas
e risos sem censura. A gente vivia
vertigens, e era feliz.
Sol, luar, orvalho!
No verde, mais luz; mais vida
sob os astros.
Meus olhos desenham os morros,
perfis sob azul infinito, moldados
aos traços das línguas dos rios.
A ponte, o amor clandestino.
Carmo, Bonfim, Matriz do Rosário,
Lembranças de eu-menino...
Meus olhos colheram paisagens,
Memória transforma em saudade,
Pincel faz arte e riqueza.
Terra e gente meia-pontense:
Hino e presépio, história em imagem:
Hino e presépio, história em imagem:
Obras de Pérsio, joias da terra.
Luiz de Aquino, poeta e admirador, esperançoso de reencontrá-lo no outro Plano. |
* * *
3 comentários:
Letras, pincéis, palavras e cores são narrativas poéticas que se fundem em Pérsio Forzani e Luiz de Aquino. Para nossa sorte.
Quando a escrita se mistura com a emoção vira isso aí: uma obra com o poder de nos levar às lágrimas! E é maravilhado com tanta poesia que ainda consigo gritar: BRAVO!
Que beleza de poema para uma otima homenagem! Nela dois artistas se reencontram, um das tintas outro das letras e com elas fazem arte.
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