(05/02/1957 - 1°/07/2025)
Em 1978, quando preparava meu primeiro livro - O Cerco -, alguém, num barzinho da rua Sete, quase esquina com a rua Dois, chamou "Jorge Braga" e eu vi aquele sujeito magro, de 21 anos, dirigir-se à pessoa que o chamara. Esperei uns minutos e cheguei perto:
- Poxa, rapaz, eu vejo as suas charges, vejo o seu nome e imaginei um senhor de pelo menos 35 anos...
- Ele riu: "Já me disseram que meu nome é nome de velho, fazer o quê?
Capa de DaCruz, 1ª edição, 1978.
Falei-lhe do livro que preparava e disse que queria que ele o ilustrasse. Era o primeiro livro que ele ilustrava, o meu primeiro... E também o primeiro que o Prof. Gomes Filho prefaciava. Outros companheiros, como Roberto Fleury Curado e Dionísio Pereira Machado também brindaram-me com breves trechos de... digo hoje: de boas-vindas ao mundo literário.
Desde então, nasceu entre nós uma amizade bem maior que os meros encontros em botecos. Participei de quase todas as suas obras, revisando-as. Aquele meu livro de estreia foi reeditado por mim em 2003, festejando o jubileu de prata; e Jorge zelou para produzir novas ilustrações do livro, com o capricho de redesenhar ilustrações para os mesmos contos. Deixou-me dezenas de caricaturas, de que conservo algumas.
Quando lancei meu livro (em Pirenópolis, a 6 de outubro de 1978 - véspera do 251° aniversário da cidade) - ele não pôde ir, estava de plantão profissional; na semana seguinte, levei-o a Pirenópolis e ele, de imediato, conquistou a cidade, ao tempo em que se encantava por ela (foi para O Cerco que ele concebeu um centauro goiano - desenhou um mascarado das Cavalhadas com o corpo de um cavalo; e a partir de 1979, passou a integrar aquele bando de mascarados que agitam a cidade a cada ano...
Da mesma forma, conquistou meus familiares: a casa de meus tios Ruth e Totozão (Antônio Godinho) era como se fosse a sua casa, em Pirenópolis. E em Caldas Novas, a casa de meus pais era igualmente sua (tinha até a cama de sua preferência; caso ele lá chegasse e houvesse hóspedes - coisa comum, na morada de dona Lilita e siô Israel - Jorge não se constrangia:
- Ei, caboclo, escolhe outra cama que essa aí é minha.
Nos últimos anos, por razões que me escapam por demais, distanciamo-nos, mas sem perder aquele sentimento de afinidade. Vivemos muitas pequenas aventuras juntos - umas de bons sentimentos, outras de muitos risos. Houve outros, talvez de grande intensidade, mas acredito que os amigos com quem ele dividiu a amizade mais aconchegante éramos eu, Ademir Hamu (o mais antigo de seus amigos em Goiânia) e o Tucano (Marcos das Neves).
Jorge deixa em nós um rasto forte, profundo e inapagável de amor amigo, de companheirismo e muita produtividade.
(Gyn, 1° de julho, 2025, 11h20min).
Um comentário:
Que linda homenagem, Parceiro!
Onde quer que o Jorge esteja, ele está feliz e orgulhoso dessa demonstração de amizade.
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