Sobre o canto dos pássaros,
a voz da mestra
a voz da mestra
A propósito da crônica da
última semana neste espaço,
recebi outro texto da professora Mara Rúbia, ensinando-me e
a todos nós um pouco mais sobre sabedoria:
recebi outro texto da professora Mara Rúbia, ensinando-me e
a todos nós um pouco mais sobre sabedoria:
Muito interessante a discussão que você
levantou sobre o tema e que, com esperteza, a intitulou como – Os pássaros, o
saber e o trabalho.
Como a asa é importante para o pássaro, assim é
o leitor para o escritor. Portanto, a literatura para ser democrática me
permite opinar acerca de seu texto. Há apenas uma parte nele que não achei tão
viável ou pertinente, já que no título você evidencia os pássaros, o que, com
certeza, gera boa expectativa no leitor ou pelo menos perspectiva de uma
discussão positiva sobre esses seres. A parte é:
“Não entendo como sabedoria o fato de os
pássaros reagirem, sobrevivendo, às tempestades. O homem fez e faz muito mais,
sempre. Não há sabedoria nos pinguins que navegam banquisas no caminho das
correntes marinhas que buscam o Norte e, à medida que o gelo se reduz e some,
nadam na mesma corrente em busca de regiões menos frias – isso é o instinto. É
como mariposas circulando lâmpadas. Como não há sabedoria nas andorinhas que
migram do rigor dos Invernos em busca dos Verões no hemisfério oposto.”
Em mim gerou uma forte sensação de crítica ou
talvez de depreciação das ações dos bichos. Poderia discorrer sobre o que,
então, faz os tais pássaros e outros animais agirem de forma “bonita”, “sábia”,
apesar de agirem apenas por instinto...
A discussão trata tão somente de como nós e os
animais agimos ante “as tempestades” da vida. Obviamente que o homem é o que
pensa, portanto, o que faz, inventa, domina...
A sabedoria que levantamos sobre os mesmos é
figurada e você bem entende sobre figuração – vive de literatura diária.
Em se tratando de racionalidade é claro que
entre o homem e os animais aquele detém a sabedoria, pois pensa, calcula,
raciocina; porém nem sempre a utiliza efetivamente. Nesse sentido, o homem é
posto como esperto, inteligente, mas, às vezes, não põe em prática a sabedoria
que lhe permite discernir qual o melhor caminho a seguir, a melhor atitude a
adotar nos diferentes contextos que a vida lhe apresenta. Ter sabedoria por ser
pensante, contudo não utilizá-la quando necessário, não define o homem como um
ser que utiliza a sensatez, a ponderação, reflexão, perspicácia, tino, senso e
discernimento.
Aristóteles descreve sobre a sabedoria prática,
da habilidade para agir de maneira acertada, processo nem sempre utilizado pelo
homem, que constantemente age de forma insensata, extravagante, estúpida...
Após o nascimento da dialética entre nós (por
causa dos pássaros, não pelo saber e o trabalho), quero dizer que amei a
crônica! Abraço ao escritor querido, Mara Rúbia”.
E sob esse ensinamento sábio, retiro a
minha petulante contestação à sabedoria dos animais. Ao que chamamos instinto –
e que falta nos faz esse instinto, tantas vezes! – e a professora Mara Rúbia
diz ser sabedoria, curvo-me como mero fazedor de figuras a que apelamos com
ares de poeta, quando, no fundo, recorremos a substitutivos por nos faltarem o
essencial. Obrigado, de coração!
* * *
2 comentários:
A tréplica me deixou confusa. No geral, nem animais, nem homens são sábios.
O poeta conterrâneo Oscar Baptista, em seu belo soneto "Alma de poeta", quase garante a sabedoria dos pássaros:
Asas ao vento abertas, a gaivota
Parte, buscando a ausente companheira
Roçando as plumas na azulada esteira
Pousa, distante, na deserta ilhota.
Ali, dos mares na amplidão remota,
Oculto pela encosta da pedreira,
Tem ela o ninho, pendurado à beira
Dágua, entre a relva que viçosa brota.
Quando a procela, nos brutais arrancos
Açoita, irada, do rochedo os flancos.
E os ventos uivam com fragor profundo.
Ela, em seu ninho, sem temores, quieta,
É a vera imagem da alma do poeta
-Tranquila, em face das paixões do mundo.
Postar um comentário