A foto é anterior a 1928, quando se demoliu a torre à direita; deve ser esta a concepção original da Igreja de Nossa Senhora do Desterro (construção:1848/50) |
Caldas Novas, 166 anos
A sexta-feira, 21
de outubro, neste 2016, marcou 105 anos da Emancipação Política de Caldas
Novas, meu torrão natal. Nasci ali, numa casinha que não existe mais, a poucos
passos da imensa porta da Matriz de Nossa Senhora das Dores – que já foi de
Nossa Senhora do Desterro – num sábado de setembro, em 1945.
A mesma igreja, atualmente. A |
Coronal Bento de Godoy |
Nunca me esqueço
desse aniversário da Emancipação, concedida em 1911, por empenho do benemérito
coronel Bento de Godoy e de outros notáveis da minúscula vila do sul de Goiás,
onde se multiplicavam por mais de mil as nascentes termais às margens (as duas
– não sou estúpido de dizer “margens” para um só lado do rio) do Córrego das
Lavras, assim dito por causa das bateias garimpando ouro (mais tarde se chamou
Córrego das Caldas). Mas chegaram os anos de 1970, 80 e 90... E as minas
desapareceram; surgiram, então, as sondas para cavar as profundezas em busca do
lençol termal – e em alguns pontos brotaram água sulfurosa, também.
Isso é muito de
Goiás, festejar a data da Emancipação Política. Tudo bem, mas é necessário
resgatar o tempo desde a fundação até o benefício dos foros. Caldas Novas,
aquela região das águas quentes, já estava ponteada de várias moradias quando,
em 1848, Luiz Gonzaga de Menezes destinou “um patrimônio” para se edificar a
Igreja em louvor de Nossa Senhora do Desterro.
Acontece um
mal-entendido... Muitos católicos menos informados acham depreciativa essa
denominação, pois não sabem tratar-se, essa versão da Mãe de Jesus, da que se
volta para proteger os viajantes, os migrantes – sim, os que deixam suas terras
de origem em busca de outras paragens. E então, por conta do fraco
desenvolvimento econômico local, entenderam alguns de atribuir à expressão
“desterro” a culpa pela estagnação – e suplicaram a troca por Nossa Senhora das
Dores. Alguns acham que a troca não causaria melhoras (afinal, era “das
Dores”).
Aos Gonzaga de
Menezes e aos descendentes de Martinho Coelho de Siqueira, outras famílias se
incorporaram, antes da festejada Emancipação (em 1911, repito). São sobrenomes
que povoam minha infância – Lopes de Morais, Santos, Pereira, Rodrigues da
Cunha, Ala, Junqueira, Araújo Lima e outras, várias!
Por isso, fiquei
feliz com a saudação do apresentador Chico Pinheiro, no “Bom dia, Brasil” de
hoje, na TV Globo, mas a citação “pelo seu aniversário de 105 anos” soou-me
indevido – indelicado para com os caldas-novenses tradicionais. E
acrescente-se, ainda, que em 8 de agosto de 1889 – ou seja, três meses e uma
semana antes da proclamação da República – nascia em Caldas Novas Leodegária de
Jesus.
Leodegária de Jesus, a primeira celebridade caldas-novense, hoje desconhecida na cidade. |
Poetisa, amiga de
tenra idade da também poetisa Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (Cora
Coralina), Leodegária detém o mérito de ter sido a primeira mulher a publicar
livros de poesia entre os goianos – o primeiro, Coroa de Lírios, em 1906 (aos 17 anos incompletos; morava, então,
na capital, Cidade de Goiás) e Orquídeas,
em 1928. Somente em 1954, oura poetisa, Regina Lacerda, publicaria o terceiro
livro feminino nesse gênero, em Goiás.
Festejo, pois, a
Emancipação – que vem a ser uma espécie de Certificado de Maioridade para uma
comunidade – mas evoco, ao mesmo tempo, a lembrança do período que se estende
desde a fundação, que entendo ser o dia de Nossa Senhora do Desterro, em 1850,
quando a Igreja foi consagrada. Considere-se, ainda, a grandeza do templo, numa
evidência de que havia moradores bastantes para ocupá-lo, e lembremo-nos que a
evocação de Nossa Senhora do Desterro tinha por foco a proteção aos visitantes,
pessoas sofredoras que viajavam de longe para desfrutar dos poderes curativos
das nossas termas.
É assim, pois, que
festejo os 105 anos da nossa Emancipação, mas não me esqueço deste tempo de 166
anos desde que a Igreja de Nossa Senhora do Desterro lembrou aos moradores e
visitantes que o Criador velava pelo nosso torrão – e pelos que ali chegavam em
busca de cura.
A praça Mestre Orlando, antes do surto turístico (foto de 1950, possivelmente). |
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Luiz de Aquino é jornalista e escritor,
membro da Academia Goiana de Letras.
2 comentários:
Olá, sou professora e estou trabalhando um projeto para relembrar a história de Caldas Novas! Gostaria de saber onde posso encontrar um bom acervo com fotos antigas! Poderia me sugerir algo?!
Professora, a senhora não se identificou, fico sem ter como lhe prestar informações. Caso veja esta resposta, escreva-me, diretamente, pelo e-mail poetaluizdeaquino@gmail.com.
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