Escrito de Luiz de Aquino no catálogo de Lata D´Água na Cabeça, de Rosy Cardoso. |
Rosy, o som do arco íris
Luiz de Aquino e Rosy Cadoso |
Eram, eu penso, meus quatro ou cinco anos, o período
em que mais aprendi canções para cantar nos saraus em casa e nas serenatas com
meu pai. E algumas marchinhas carnavalescas ficaram, indelevelmente, em minha
memória. E há poucas semanas despertei para uma delas – Lata D’Água na cabeça -
título que minha amiga Rosy Cardoso,
artista plástica e poetisa, escolheu para sua mostra de telas, concebidas sob a
temática da mulher lutadora, libertária e forte!
Estive algumas vezes em seu ateliê, acompanhei, um
tanto à distância, o empenho na feitura dessa mostra, que ela mesclou com seus
versos colados no chão para nosso deleite. Quero dizer que nossos olhos não se
encantaram somente ante a força de cores e formas de seus quadros, mas também
pelo lirismo de seus versos. Uma melhor observação encontra o liame forte entre
escrita e pintura – inevitavelmente, a verve poética está nas telas, como a
força pictórica é realçada também na poesia.
Nestas últimas semanas, pois, dei-me com um convite
que me honrou, a princípio, e fiz-me orgulhoso a seguir, ao ver o feito e o
efeito na iniciativa de Rosy Cardoso. Respondi ao convite produzindo o texto,
que transcrevo aqui, para o seu belíssimo catálogo:
Lata D´Água na Cabeça... |
Arte é o modo como
alguém colhe do céu e dos horizontes o perfume do ar e das folhas, o impacto
das rochas e o frescor do solo e, como quem brinca de semideus, obtém novas
formas e cores, novos sons e movimentos, novas palavras e expressões, e enche
olhares e amorena corações ao acalentar as almas admiradoras.
Sei de artistas
sóbrios demais, meditativos, silentes no processo de concepção e criação, mas
sei dos que vociferam felizes ao captar a magia divina que lhe toca o peito,
contamina o sangue e seduz o olhar para, empós, entre falar e cantar, delineia
formas, processa cores e cria tons. Sinto isso quando aprecio uma tela ou
escultura e, num ponto abstrato além do objeto, percebo a energia e sei bem – o
que vejo é um dínamo, uma bobina de energia que transporá o tempo de cada vida,
a expandir bondade por gerações à frente no tempo.
A arte não se
separa em gêneros – ela é o espírito das obras de todos os conceitos, das
letras à dança, em imagens de forma, cor, doçura e música.
Rosy Cardoso, que
acolhe as pessoas na esteira do olhar e na música do riso, concebe poesia e
define o sentimento em lápis e pincéis. Expande-se em arte porque a alma vai
além do corpo, espalha-se em projeções da aura. Ela mesma, em poesia, define-se
“pés no chão, descalça... garupa na moto, cabelos ao vento”. Sem dúvida, a liberdade
é-lhe vida e bandeira, como sentimos na leitura de suas telas, no sabor de seus
poemas.
Sentir a mulher,
amiga e parceira, restrita a conceitos que tolhem e aprisionam, incita-a a
acender a lanterna, e a luz é alarma e convite: “Uma cigana e uma cigarra /
cantam”. Ela escreve e pinta para despertar o canto e a dança, e lembra que
“Mulheres inteiras brotam da terra”, “constroem histórias” e “conjugam o
infinito”!
Recita nas telas
esses reclames, arregimenta vontades e esparge ternura, carinho, amizade e
coragem! Porque sem isso, ah, ninguém constrói! E a arte pede temperos.
De pé, Rosy Cardoso e Jô Sampaio; sentados, Sônia Elizabeth, Ivanor Mendonça, Luiz de Aquino e Zanilda Freitas |
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Luiz de Aquino, poeta (da Academia
Goiana de Letras)
Um comentário:
Parabéns à Rosy e a você, por nos enriquecerem, os pobres mortais!🔏🏡⏳
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