Rompante
desnecessário
A
sociedade anda mal: omissa, alheia, depressiva, arrogante, desinteressada,
rude, pagã, mal-educada... E esse é o resultado do mal-estar que assola os
indivíduos da espécie – insegurança, medo, desconfiança, avareza, egoísmo, mesquinhez...
Obviamente que há grupos organizados com grandeza de propósitos, grupos esses
em que, felizmente, predomina o afã pelo bem-fazer, pelo desejo de interação e
a força da solidariedade – princípios esses que norteiam a caridade (não a
caridade soberba de quem apenas oferece esmolas, mas de quem quer ver a
melhoria latente em cada semelhante).
O
ser humano, aqui e alhures, perdeu o discernimento, não se constrange por ser
medíocre e não se peja por ser apanhado em mentiras, haja vista o tom dominante
nos meios em que o dinheiro e a política – as mais expressivas faces de poder –
regem os destinos de quase todos.
Tem
sido assim nas campanhas políticas dos três níveis de governos, no Brasil, nas
relações interpartidárias da velha Europa, nos comitês esportivos que “fazem
chover” nas Copas do Mundo e nos Jogos Olímpicos. E foi assim nas mais recentes
campanhas políticas em quase seis mil municípios brasileiros, mas nada como se
soube, se viu e se leu quanto à sucessão de Barack Obama, nos “isteites”.
A
América (o país) parece bastante familiarizada com as falsetas praticadas por
Republicanos e Democratas. Suas campanhas lembram grandes encenações, eventos
do faz-de-conta holyoodiano (engraçado isso de se produzir uma palavra com a
raiz da língua inglesa finalizada por sufixos do nosso bom e familiar
português). – Uma pantomima!
Volto
aos nossos cenários o ambiente brasilis,
com os flagrantes das falsetas da campanha presidencial de 2014. Aprendemos
naquelas várias séries de fatos, de ambos os pretendentes ao Palácio do
Planalto, que não se constrange mais quando se é flagrado em mentiras que não
convencem sequer uma folha de papel em branco, onde nós, escribas, forjamos
emoções, criamos personagens e fatos, inventamos verdades (sim, porque criar
verdades é ofício de autores literários, roteiristas e teatrólogos, mas os
políticos têm nos suplantado nisso).
E
surgem Cunhas, Renans, Jucás e Falcões a lançar na mídia – essa mesma que eles
dizem odiar e culpam-na pelas mazelas que deles somente noticiamos – suas
bravatas inaceitáveis pelos ouvidos que formam a opinião pública, mas que se
unem às más intenções de seus pares e essas safadezas acabam se tornando leis,
que o Judiciário se vê obrigado a aplicar.
Talvez
estimulado pelos maus exemplos do presidente do Senado, o alagoano Renam, o
secretário goiano da Segurança Pública insurge contra ações da Polícia Federal
que quis ouvir policiais suspeitos de formar e integrar grupos de extermínio o
que o dr. José Eliton desmente com firmeza e fervor. Tudo bem, pode não haver
grupos – mas há pessoas exterminando pessoas, mas as polícias estaduais não
sabem quem são as que exterminam (sabem, sim, quem são os mortos).
Reação
como aquela de veemente defesa de um oficial sob suspeita constrange-nos – a
nós, goianos, que nos empenhamos por demais em melhorar esta terra, esta
sociedade e a nossa imagem, tão avacalhada lá-fora. Recordo-me do ministro
Henrique Hargreaves, da Casa Civil do presidente Itamar Franco, que se desligou
espontaneamente do cargo para permitir a livre investigação.
O
coronel comandante do Policiamento da Capital, pelo que se sabe, foi absolvido
em alguns processos, mas outros há em andamento. Imagino que seja do interesse
dele responder – e livrar-se – das demais suspeitas, sim! Mas a defesa
ostensiva, com tom de mero corporativismo, isso não cai bem na opinião pública,
sobretudo quando a nação em peso deposita esperanças na Polícia Federal com uma
das principais ferramentas para se limpar as instituições públicas.
Torço,
como bom goiano e bom brasileiro, para que os nossos policiais militares
indiciados pela Federal provem inocência e reassumam seus postos, precisamos
muito deles. Mas gostaria de ver as autoridades de nosso Estado contribuindo
para essa tão sonhada depuração. Ainda que haja, em todo grupamento humano – e
as instituições policiais não estão isentas – uma faixa de 5% de profissionais
incorretos, tais instituições merecem nosso respeito, sim, e espero que não se
detectem mesmo grupos de extermínio em nossas polícias.
A
defesa prévia, ao meu ver, não é um procedimento que vem engrandecer nossas
autoridades.
*****
Luiz de
Aquino é escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
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