A Praça Mestre Orlando, na década de 1950 - retalhos da memória! |
Memórias
tristes (*)
Sim, é Caldas
Novas...
A cidade em que
apenas duas arquiteturas urbanas foram salvas. E, não por coincidência, ambas
criadas pela família Gonzaga de Menezes – a igreja, edificada por Luiz Gonzaga
de Menezes, dando origem ao povoado (em 1850 foi sacralizada) – mas os
desinformados afirmam que a história começa em 1911, o ano da emancipação
política (como se nascêssemos ao completar 18 anos).
Essa igreja tinha
duas torres, até 1928. Os danos do tempo pediram reforma, mas a torre à direita
(de quem a observa) exigia mais investimento e a solução, ante a falta de
dinheiro, foi a amputação. Veja, agora, o que escrevi há poucas semanas no
grupo (Facebook) “Caldas Novas das antigas”:
Artista e arquiteto, S. Prates projetou a reposição da torre. |
A meu pedido, e sobre
uma foto feita por mim, o artista plástico e jornalista Sebastião Prates, um
dos mais notáveis dentre os artistas goianos, acrescen-tou a torre mutilada em
1928... Essa arte é de 1981, o ano em que um padre um tanto afoito, com o apoio
de um Conselho Paroquial intencionalmente montado só com forasteiros, resolveu
demolir a Igreja - a mais antiga das edificações, origem do povoado que se
formou em entre 1848 e 1850, por iniciativa de Luiz Gonzaga de Menezes. Como
jornalista, atuei com dedicação para impedir esse crime patrimonial e histórico
- e venci, graças a Deus!
Foi justamente na
década de 80 que senti cristalizada a invasão da cidade. Ora, éramos todos
descendentes próximos, em primeira ou segunda geração, de pioneiros
adventícios. Por isso, suponho eu, aceitamos passivamente a vinda dos novos
habitantes, que diziam “ter escolhido viver” na minha terra – mas a motivação
não era o amor telúrico, mas a gana ambiciosa da exploração turística.
E deu no que deu... A segunda edi-ficação é o famoso Casarão dos Gonza-ga, sobrado onde nasceu o Dr. Osmundo Gonzaga (tio da minha cunhada Lucinha). E a transfiguração dos imóveis sobreviventes – de residências para comerciais – “enfeiou” a cidade. Dezenas ou centenas de construções que só sobrevivem em velhas fotos em preto-e-branco – ou nas memórias de nós próprios, antes que a senilidade as apague ou o tempo nos vença.
E deu no que deu... A segunda edi-ficação é o famoso Casarão dos Gonza-ga, sobrado onde nasceu o Dr. Osmundo Gonzaga (tio da minha cunhada Lucinha). E a transfiguração dos imóveis sobreviventes – de residências para comerciais – “enfeiou” a cidade. Dezenas ou centenas de construções que só sobrevivem em velhas fotos em preto-e-branco – ou nas memórias de nós próprios, antes que a senilidade as apague ou o tempo nos vença.
Há algumas décadas
a sociedade local não tem sequer a tranquilidade de eleger um bom prefeito – o
último, se bem me recordo, foi Antônio Sanches – um forasteiro que respeitou a
cidade (e não sei de outro que possa ser definido assim). A Câmara Municipal,
na atual gestão, tem apenas um caldas-novense nativo em sua composição – Sílio
Junqueira. Em vias de reeleger-se para mais um mandato, o atual prefeito (que
conclui em 2016 seu terceiro mandato) tripudia sobre a memória da cidade,
ignorando sua história e protelando a reforma do tradicional Balneário
Municipal Pedro Tupá.
Enfim... É ruim
encerrar um ano com este desabafo memorial. É triste, porém, um cidadão
portador das vantagens do Estatuto do Idoso ver sua terra natal ser
vilipendiada em troca do interesse pessoal de um pequeno grupo de empresários e
políticos. Esse mal-estar ensina-me que é compreensível o medo natural ante as
mudanças – é que as mudanças por nós permitidas costumam, muitas vezes,
virar-se contra nós próprios.
A população
consciente de Caldas Novas é mínima... e muito triste.
Mas renovemos
nossas esperanças para este novo ano. Quem sabe os poderosos mudem e passem a
proporcionar alguma alegria ao povo?
(*) Republico esta
crônica, um ano após, na esperança de atingir os brios de quem possa fazer
algo, se é que ainda haja tempo.
***
Luiz de
Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
2 comentários:
Boa noite! Seria maior o prazer de ler sua crônica, se seu depoimento fosse o oposto do que acabei de ler. Estive na sua cidade natal, em agosto de 2012, e resta-me apenas uma bela e triste fotografia. Ao final, sua esperança renovada é sentimento que atingirá seus conterrâneos, porque sempre é tempo. Espero alvissareiras linhas suas!⏳
Ah, querida Sueli Soares, é um sonho que, receio eu, jamais verei realizado!
"Nossos"administradores públicos, não dão a mínima importância ao patrimônio histórico e cultural de nosso país. É triste ver o quão degrada foi esta praça, hoje você não tem sossego nem para sentar e observar o vai e vem das pessoas pois, somos abordados e quase obrigados a entrar nos botecos que tomaram conta do espaço. Sou a favor da modernização das cidades, mas sou radicalmente contra a degradação de nossa história. Imagino como seria bom caminhar pelas ruas do centro da cidade se as fachadas das construções do século passado ainda estivessem à mostra, se a poluição visual do comércio fosse reduzida e pudéssemos olhar para o alto e observar apenas a paisagem urbana com sua beleza aos nossos olhos.
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