Relendo Márcio Borges
Sou
de uma juventude diferente da que temos agora. Claro, vão-se já os anos de meio
século, era o tempo das grandes mudanças, o pós-guerra marcando fundo nossas
ideias, opiniões, gostos e atrevimentos. Os Aliados, vitoriosos, deixaram por
conta da sociedade americana a vez de fazer graves mudanças – e surgiram os
“beatniks” (a definição, segundo algum desses dicionários eletrônicos, é “substantivo de dois
gêneros - indivíduo que rejeita o conformismo burguês, os seus costumes e valores
convencionais, assumindo uma filosofia de vida e um comportamento pessoal
exóticos para o padrão médio”).
O desdobramento
fez com que surgissem os “hippies” e, num modo mais comportado – porém
revolucionário em sua arte – os Beatles. E as novidades espalhavam-se pelo
mundo afora, na literatura dos pioneiros beatniks (grupo constituído a partir
de escritores americanos) e na poderosa mídia que “fazia a cabeça” do mundo – o
cinema da América.
Em muitos pontos
do mundo surgiram os inovadores. No Brasil, tivemos a bossa nova na década de
1960, que juntava grandes exemplos desde Chiquinha Gonzaga, Pixinguinha e Noel
Rosa, em cuja esteira despontaram alguns baianos, como Caetano e Bethânia, Gal
e Gil e Raul Seixas... Chico Buarque bem representa, entre os cariocas, a marca
dessas mudanças.
Algo de altamente
revolucionário acontecia, também, na ainda bucólica Belo Horizonte: um grupo de
jovens pouco-mais-que-meninos, apaixonados por música, ideias, cinema e poesia (e,
inevitavelmente, as essências filosóficas que bem marcam as artes) e tornou-se
referência. Tudo em torno de uma família, uma irmandade liderada pelos pais
maravilhosos que geraram onze meninos geniais, aos quais juntou-se aquele que
se dizia “o filho número 12”. Refiro-me aos irmãos Borges, de Dona Maricota e
“sêo” Salomão, ao excelente “letrista” Márcio Borges e ao prodígio Lô Borges...
O número 12 era o Bituca, aliás, o crioulo que o Brasil e o mundo conhecem como
Milton Nascimento.
Conheci Márcio
Borges em Bento Gonçalves, no Congresso Internacional de Poesia, edição de
1997, e trocamos livros. Não tenho dúvida que ganhei na troca, pois trouxe
comigo, com um belíssimo autógrafo, o seu “Os Sonhos não Envelhecem”, que li
apressadamente e me prometi – “Vou escrever sobre este livro”. Não sei o que
houve, sinto que não escrevi ou, se escrevi, não publiquei, e me senti devedor
a mim mesmo.
O que fiz, então?
Tirei o livro da estante e o reli, estes dias. Às anotações, a lápis, de vinte
anos atrás juntei outras, atuais. E o livro, de que eu já gostara em 1997,
tocou-me ainda mais, na maturidade atingida após a marca dos 70 anos. Desta
vez, a leitura se fez mais mágica, eu consegui fazer paralelos entre os fatos
narrados, memorizando o que vivera eu aqui nas marcas cronológicas de Márcio
Borges.
Só para
exemplificar: em 2005, estive em Três Pontas, a convite da minha amiga querida,
a dra. Adélia Maria Batista, que nos levou (Mary Anne e Lucas também) à casa do
pai, então viúvo, de Milton, o Bituca. Sentimos saber que o cantor estivera ali
até poucas horas antes, ou seja, perdemos a chance de um bom encontro (eu o
conhecera aqui, por volta de 1985, na companhia dos irmãos Barra – Rinaldo e
Marcelo).
Amei revisitar o Clube da Esquina e, desta vez, pude sentir com mais nitidez a magia do amor de amigos e do carinho de irmãos. Não repetirei nada do livro, somente recomendo aos meus queridos leitores, geralmente pessoas que também amam a boa música e, como eu, idolatraram os meninos do clube da rua Divinópolis, no bairro de Santa Tereza, em Beagá, que não percam o prazer e a riqueza dessa obra!
De minha parte,
estou com muita vontade de saber o que foi feito de Márcio desde aquele outubro
de 1997.
Meu abraço franco
e amigo, querido Márcio, irmão de Lô e de...
******
Luiz de Aquino é jornalista e
escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
Um comentário:
Beto Guedes é montes-clarense, hoje com 67 anos, e, como você sabe, fez parte do Clube da Esquina. Uma vez, na casa da Tetê Guedes, irmã de Beto e muito amiga da minha Tia Ninha, eu vi e ouvi o trio Beto Guedes, Lô Borges e Fernando Brant. Há outros como Toninho Horta, Túlio Moura e Ronaldo Bastos. Ainda hoje tocam muito nas estações de Rádio de Montes Claros. Gostei de recordar.
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