Conversa
de boteco como não há mais
Esta geração que
já atingiu a sétima década – ou seja, já se marca pelo prefixo “sex”- tem
lembranças das graves mudanças sociais da adolescência, notadamente quanto ao
progresso dos métodos contraceptivos, permitindo a (antes) tão sonhada
liberdade sexual. Sim, aqueles anos de 1960-70 foram de transformações e
preparação para tempos melhores, no que toca ao comportamento humano entre os
gêneros. Pena que...
Sim! Nada acontece
sem gerar resultados no azul e no vermelho. Vivemos (já sou septuagenário)
aquelas transformações, lutamos por liberdades, valemo-nos de slogans e até mesmo de ideologias
políticas que nos permitissem combater o conservadorismo que restringia o
alcance da liberdade – individual, sexual, ideológica e capaz de praticar o
respeito às diferenças.
Infelizmente, em
todos esses itens restam sempre os ranços da discriminação (o que chamam, às
vezes erroneamente, de preconceito). Sei de uma senhora, em idade de poucos
anos a menos que a minha, que não gosta de homossexuais nem de pretos. A uma
amiga que a rotulou, respondeu: “Não é preconceito, não – é conceito”.
Putz!, diria o
saudoso Henfil nas páginas do Pasquim, o grande jornal nanico que se tornou
porta-voz dos nossos anseios. E viva os eufemismos, hem?
Enfim, os gays
puderam assumir sua sexualidade, os pretos ergueram suas cabeças, os velhos –
que não eram respeitados – ganharam até um estatuto. E lá pelos últimos anos da
década de 80 e boa parte da seguinte, a última do século passado, muito se
falou e se conceituou sobre a ética. Sei de mim, que já passara de 40 anos, que
aqueles valores éticos – não os códigos profissionais, mas os que regiam as
relações generalizadas – eram praticados em casa, ensinados na escola e
disseminados nas tropas de escoteiros e bandeirantes (na época, não havia
escoteiras, as garotas adolescentes, chamadas de meninas-moças, eram mantidas
afastadas dos meninos adolescentes, apelidados de rapazinhos).
Sei bem que
aqueles valores eram por nós mantidos como esteios ou vigas mestras de nossas
vidas adultas. Em 1970, foi-me fácil processar uma das unidades da disciplina
Educação Moral e Cívica, a da Axiologia, com fundamentos na educação em
família, no aprendizado das escolas e nos preceitos escoteiros.
Em suma, a minha
geração deveria ter por padrão um comportamento menos desleixado do que esse
que norteia nossa política. A nação está decepcionada, machucada, magoada com
os representantes que elegeu, pois a prática da corrupção sem qualquer
escrúpulo, às claras, à luz do dia ou dos holofotes, os argumentos nojentos que
os políticos e seus asseclas tecnocratas vociferam nos noticiários de rádio e
tevê seriam motivo para represálias sociais e legais em qualquer outra parte do
mundo, mas tornamo-nos um povo contaminado pela liberdade desde aqueles anos
chamados de “redemocratização”.
Desenvolvemos como
item do respeito ao próximo a supervalorização do individual sem o competente
limite ao direito do outro. Ou seja, toleramos alguém ser errado e até
criminoso sob o argumento da “escolha individual”, mas omitimo-nos ante os
males que essa liberdade individual exacerbada cause a terceiros.
Fui claro ou tenho
de dar nomes a Temer, Meireles e à caterva que os bajula?
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Luiz
de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
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