Depois dos fatos nocivos e a cena acima (foto: Polícia Federal), não vejo como preservar o respeito a Temer na presidência. |
Aviltamento
Primeiro ato: Houve
um tempo em que comunismo era uma palavra tão perigosa, tão apavorante e temida
que era o bastante para fazer as crianças dormirem mais cedo, os ricos tremerem
de medo e os católicos parecerem mais fiéis (maridos também). Era o tempo da
comunicação incipiente, a notícia de um evento no Leste Europeu ou na Ásia
levava semanas para chegar aqui (quando chegava) e o fato passava por
tradutores meticulosos e ainda pelas censuras dos políticos e dos militares.
Hoje, fala-se
muito em manipulação das notícias e a culpa é do sistema Globo, como se não
houvesse concorrentes. Era o tempo das madames empoadas desfilando em “família
com Deus pela liberdade”. Para aquelas pessoas, liberdade era o direito que
elas, somente, tinham de produzir, faturar e viajar, importar sem ônus, pagar baixos
salários e assegurar para si e seus descendentes o melhor da vida brasileira.
O comunismo
acabou, como regime, mas sobre-existe como filosofia, não passa de um conceito
abstrato e de uma utopia sabidamente imprópria, mas as carências sociais
continuam. Há pessoas que se preocupam, seriamente – sem vinculação
ideológico-financeira – e que insistem em buscar soluções que minorem as dores
da expressiva parcela de brasileiros miseráveis.
Segundo ato: Ao longo
da vida política brasileira, sempre se falou em corrupção. Os portugueses
colonizadores vigiavam seus mandatários na colônia, vigiando-os de perto.
Muitos caíram em desgraça por, efetivamente, apropriarem-se de parcelas
“clandestinas” dos minerais explorados em Minas e Goiás. A vinda da Família
Real (com toda a corte) em 1808 mudou a vida brasileira, que logo passou a
Reino Unido e, na sequência, fez-se independente. O império foi marcado pelas
inevitáveis mudanças, veio a renúncia de Pedro I, os nove anos de regências e,
por fim, a emancipação precoce de Pedro de Alcântara, aos 14 anos, que governou
por 49 anos e a nação conheceu muito da luz inovadora do Século XIX. Já se
tinha planejado e pronto para se aplicar o III Império quando se fez esta
malfadada república, inaugurada com um golpe em que até o dito autor – Deodoro
da Fonseca – não sabia de nada.
Terceiro ato:
Naquele 15 de novembro, em 1889, nasceram todos os males que nos afligem hoje.
Deodoro, feito líder, foi escolhido presidente da República, tendo por vice o
mentor daquela coisa. Num lampejo de consciência, talvez, Deodoro renuncia dois
anos após e restaria ao segundo marechal o mandato tampão – porém, Floriano
impôs, “no grito”, que ficaria quatro anos, pois “fora eleito para quatro anos”
– e a cúpula corrupta ou medrosa da república aceitou. A alma brasileira
comete, talvez inconscientemente, uma breve vingança ao apelidar Florianópolis
de “Floripa”. O marechal, no dizer dos mais antigos, “certamente se remexe no
túmulo” cada vez que assim se fala.
Foram tantos e tão
variáveis os desmandos da República Velha que o Brasil, “desaguou” na revolução
de 1930, liderada por Getúlio Vargas, que ocupou a cadeira da presidência por
quinze anos, foi deposto, voltou pelo voto e morreu, dizem que de suicídio, com
uma carta-testamento que (dizem) estava escrita por algum assessor desde uns
dias antes do fatídico 24 de outubro de 1954.
E aí vieram a
tentativa de golpe em novembro de 1955; outra em agosto de 1961 e, por fim,
vitorioso, em 1964, quando se definiu que “as elites civis estão falidas”.
Foram 21 anos de ditadura por revezamento, a distensão ou abertura, a passagem
do poder aos civis, um vice improvisado como titular, um inconsequente eleito
pela massa, o impeachment, outro vice que aplicou com eficiência um plano que
acabou com a inflação, um eleito com pose de príncipe, outro com as marcas do
povão, uma mulher que engrandeceu a ala feminina, mas que caiu por prepotência,
num golpe armado sob definições ditas legais.
A falseta ficou
clara quando, num arroubo de bondade, o presidente do Senado propôs e o
presidente do Supremo Tribunal aplicaram uma atravessada na lei, afastando a
presidente sob apenas meia punição, já que o impedimento implicava suspensão
dos direitos políticos.
Até uns meses após
a investidura estranha – mas calçadas em preceitos legais – do vice escolhido
por Dilma cuidei, sempre, de preservar o respeito à pessoa que ocupava o posto
de Getúlio e Juscelino, mas Temer não se faz por merecer. Além das suspeitas
das conspirações tão decantadas antes, vieram as denúncias que ele não consegue
refutar senão perante a Câmara em que dezenas de deputados são investigados, o
Senado com membros já em vias de serem condenados e que se mantêm fiéis ao
presidente sob as propinas que já não mais se escondem, tudo custeado pelo
povo, sem chance de alívio enquanto perdurar essa coisa.
Francamente, é
difícil manter o respeito.
*****
Luiz de
Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
Um comentário:
Atravessamos agora a fase do Lulopetismo. Marcada pelo populismo exacerbado, pelo "poder a qualquer preço ",pela institucionalização da corrupção. Pelo aparelhamento do estado com finalidade de proteger as ilicitudes. Temer participou de tudo. Ė continuidade. "Tudo que é mal começado é mal acabado ". Dizem os mais antigos.
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