Brasil
doente
A tristeza é
enorme, mas ainda cresce! E cresce para o alto, causa formigamento nas pernas,
cólicas intestinais, hiperacidez no estômago, refluxo e coriza... E turva os
olhos, chama as lágrimas e finaliza em enxaqueca.
– É uma virose –
diagnosticou Ademir Hamu, confirmado por Abdalla Amuy e Ciro Ricardo.
Talvez um laxante
resolvesse, mas o distúrbio é de tal ordem que não se pode arriscar, o paciente
corre risco de vida – o que um professor radiofônico condena, conclamando o
populacho e os locutores a “nunca mais“ falarem assim, pois o certo é risco de
morte”. Os da locução, contaminados por discrepâncias gramaticais e violência
contra a regência, dizem amém e acreditam piamente que não existe “margem”, no
singular.
O festival de
esquisitice, bancado nos palácios federais, em Brasília, não havia chegado ao
ápice na semana anterior, não... O mestre-sala dessa alegoria carnavalesca
ainda tinha muito o que girar, sem reverências nem arte, mas com a
indisfarçável associação deletéria com eminências pardas poderosíssimas! Seus
bafejadores palacianos não se cansam em articular anomalias que envergonham a
Nação e corroem o Erário. Os negócios na bacia das almas resultaram em sangria
que não se estanca. E esta não é do interesse do senador que preside o partido
dos déspotas descarados.
E nós, do
populacho anônimo e quase que totalmente ignaro, ficamos por entender um monte
de coisas. Uma delas foi o fato de a Comissão Parlamentar de Inquérito do
Senado, a que investigou o famigerado “rombo da previdência”, ter concluído que
não existe tal rombo. Inexplicavelmente, a Rádio CBN noticiou isso – mas parece-me
que foi uma vez só. A tevê – por todos os canais – decidiu também omitir-se
sobre isso. E o Merlin Meirelles continua a vociferar quanto à urgência de se
aprovar tal reforma.
Poxa! Não lhes
bastava a reforma trabalhista, essa que extinguiu benefícios arduamente
conquistados? O fantoche remunerado com o teto salarial e agraciado com as
mordomias de praxe falou no rádio e na tevê... E falava com a hiena que ri,
tentava convencer, “principalmente os jovens em seu primeiro emprego”, de que o
Brasil se moderniza etc e abobrinha!
Nas horas
anteriores a essa pantomima, o dono da caneta e do destino de seus áulicos,
aquele que só age em detrimento do bem-estar da Nação e da Pátria, “canetou” e
nomeou um apaniguado de Sarney para a Polícia Federal – e uma de suas primeiras
medidas foi substituir o superintendente da PF em Curitiba, sem sequer tentar
disfarçar quanto às ordens recebidas de seus padrinhos. Depois, correu até a
Procuradora Dodge, cortejando a titular da PGR para mascarar um possível acordo
de harmonia entre as instituições.
Mas o xou não
havia acabado, não. Outra canetada temerária e o manda-brasa humilhou sua
assessoria de comunicação ao transferir para o ministro-chefe da Secretaria
Geral da Presidência, o encanecido Moreira, que de Franco só tem o nome, as
incumbências naturais do órgão de comunicação.
Ora, ora! Nada
disso causa espanto. Há poucas semanas, a imprensa divulgou gastos
extravagantes do casal-presidente com o famoso cartão corporativo, aquele
cartão de crédito confiado a detentores de cargos importantes. O chefe, ao que
parece, não gostou. E um general, figura importante no mais alto gabinete desta
malfadada república, “decretou” sigilo sobre os gastos da família presidencial.
Ou seja: no atual
governo, ministros e chefes de agências têm o poder de violar a Constituição e
as leis que deveriam ser muito bem aplicadas por eles próprios. Mas o que
esperar de um governo que institui, de novo, a escravidão no país?
Sei não... Receio
que a cura esteja ainda distante.
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Luiz de Aquino é jornalista e escritor,
membro da Academia Goiana de Letras.
12 comentários:
A cura, meu caro cronista, está muito distante. E nós, a plebe ignara, estaremos à deriva neste barco já quase naufragado, timoneado por loucos, psicopatas e corruptos. Parabéns por se expressar com tamanha sabedoria e muita coragem!
Pertinente e muito boa a sua crônica. Como você mesmo o disse, nada disso causa espanto! Continua tudo como dantes! Parabéns!
E... Será que temos alguma chance de cura?
O início da crônica é perfeito. Resume tudo. O Brasil doente. A tristeza é enorme, e ainda cresce.
Como sempre, muito atual e inteligente.
Parabéns, Luiz. Bela crônica, palavras atentas.
Bela crônica, poeta! Que cantemos um grito de basta, na consciência de cada OLHAR, assim como o beija flor na condução do pingo d'água ao incêndio e no beijo de esclarecimento ao irmão.
Belo texto, como todos com que nos presenteia.
Parabéns!
Luiz de Aquino, você sabe dizer as palavras certas, no momento certo.
E o endereço é o coração do leitor que o admira!
E terrível mas o Povo pediu esta maluquice quando aceitou as mentiras de um Capitão do Mato que deu início a este descalabro.. Pra completar elegeu como Deus um Juiz analfabeto em Leis e que acha o nosso país, País de Tupiniquins e o diz no Exterior , realmente parece que o único Jeito seria irmos para as ruas e exigirmos a volta da Presidenta eleita e a revogação de todos os Atos pós Golpe..
Meu caro tio, são belas suas palavras a cerca do que estamos vivendo no país. Infelizmente herdamos o pior do DNA do povo europeu, cada dia que passa aumenta minha vergonha de ser brasileiro. Até quando seremos escravos dos políticos corruptos? Até quando vamos aceitar tudo o que eles nos empurram guela abaixo? Como podemos aceitar um STF protegendo e acobertando tamanhos despropósitos? Maracutaias e políticos sendo comprados a olhos vistos, tudo muito normal!!!! Cada povo tem o governo que merece é estamos pagando caro por isso!
A politicalha (e não a política) é esse rasgo miserável e sem sintonia. Um tapa na cara de todos nós cidadãos. Loas, pois, Luiz de Aquino.
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