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domingo, fevereiro 18, 2018

Folia pós carnaval (o direito de espernear)

Folia pós carnaval



Pronto! O mago do Planalto (o palácio, não a região central do país) mexeu a poção de seu nefasto caldeirão de maldades e surpresas desastrosas e a fumaça esverdeada revelou: intervenção verde-oliva no Rio de Janeiro (o Estado, não a cidade). O cenário foi adrede preparado: o governador pôs os pezões na salmoura e o bispo cricri, que ainda não compreendeu sua função na Prefeitura da capital, a decantada Cidade Maravilhosa, foi para o frio europeu para aprender segurança pública numa agência espacial....

Bem! O Pezão não sabia que haveria carnaval no Rio de Janeiro este ano, ninguém lhe comunicou. Então, ele não cuidou de um plano de ação para a segurança pública. Crivela se esqueceu de combinar com os austríacos – ou tentou combinar, mas o jeitão europeu não é dado ao nosso jeitinho – e não conseguirá, em momento algum como ele transportaria para a nossa tropicália os recursos de segurança da Europa Central – e também da Nórdica – se lá não há carnaval, não há crioulos nem mulatas dançarinos, não há sequer a ideia do que vem a ser o nosso carnaval e, ainda, lá não há favelas nem comunidades, marcas fortes da encantadora Belacap (esta eu saquei da memória distante, mas esse epíteto durou muito pouco na antiga capital do Império e dos tempos republicanos do Catete).

Então o mago Marum (sim, esperavam o Merlim?) inspirou seu colega Cotonete, ou Algodão Doce, que soprou ao ouvido do Drácula, que chamou o Abominável Homem tropical que não larga o osso e, como quem fizesse mágica, anunciou: “Vou decretar intervenção federal na Segurança Pública do Rio de Janeiro”.

Cricri deve ter se estrebuchado todo! Afinal, o curso de Segurança que ele foi fazer em seis ou sete países em pouco mais de uma semana não lhe valeria nada! O líder Maléfico preferiu designar um general e fim.

Bom! Nenhuma crítica a tal medida que, no primeiro momento, pareceu-me a saída honrosa para o vexame que o temível inquilino dos palácios brasilienses passará se rejeitarem a reforma constitucional que transformará a previdência num tormento inigualável para os pobres. Ele vem perdendo alguns votos a cada dia e aqueles 28 que faltavam há algumas semanas hoje já se tornaram 40.

Então, como a emenda assim pareceu também a alguns parlamentares que não se alinham com o puxa-tapete (e também porque sua inseparável sombra, o banqueiro da Fazenda, deve ter ficado uma fera), ele anunciou, analisando: “Enquanto vigorar a intervenção, não se pode realizar qualquer reforma constitucional; por isso, assim que as bases me acenarem com os votos necessários para aprovar a reforma da Previdência vamos suspender a intervenção para proceder à votação, em seguida vamos reativá-la”.

Ora... isso teria de se aplicar à Câmara para as duas votações. Depois, o mesmo procedimento no Senado – ou seja, ele suspenderia a intervenção por duas vezes e a reativaria para cumprir o prazo previsto no decreto da última sexta-feira, dia 16/02/18, que se encerra no dia 31 de dezembro de 2018 – o último deste malfadado governo.

Não fui o único jornalista brasileiro a rir desse anúncio. Alguns recuperaram a compostura e falaram seriamente nas rádios e nas tevês, mas eu continuo rindo.

Para que, então, serve a Constituição? Ele quer reformá-la para piorar a Previdência dos pobres (a dos poderosos é imexível), mas esbarra num impedimentozinho à toa e anuncia que vai driblar a Carta Magna!

“Mon Dieu”, diria De Gaulle! “Que país é este?”, perguntaria Francelino Pereira, que presidiu a famigerada Arena e governou Minas. “O que dirá o Supremo?”, perguntarão milhões.

Mas as semanas virão e o garotão que preside a Câmara, aquele que não sorri nunca, conferirá o termômetro das vontades parlamentares. O jeito é esperar.


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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.

3 comentários:

Sueli Soares, professora e advogada. disse...


Bom dia!, poeta querido!

A Constituição Federal já nasceu condenada ao desrespeito, lembro-me bem. Não quero, agora, justificar o que acabei de afirmar, preferindo silenciar e aguardar "o andar da carruagem". Há poucos anos, também me lembro, comentei com você que estava muito temerosa e, a cada ataque à Lei "Maior", aumentava o meu temor. A tragédia no Rio de Janeiro começou a ser desenhada na década de 70 e agora atingiu o ápice. Silêncio!😥💜

Mara Narciso disse...

Quando um presidente abandona o "ponto de honra' do seu Governo, que seria a Reforma da Previdência, em nome de uma Intervenção Federal, que eu soube, é inconstitucional e que não pode ser suspensa a menos que o problema seja resolvido, é sinal que vem coisa por aí. Desagradável certamente, como têm sido as ações desse Governo. Na minha inocência, parece uma estratégia política para arregimentar a classe média perdida, ou acabar de vez com as eleições. Espero não ter de ver a Ditadura voltar, ainda que a censura a GRES Paraíso de Tuiti em sua reapresentação seja uma mensagem límpida de que tudo mudou.

Mara Narciso disse...

Quando um presidente abandona o "ponto de honra' do seu Governo, que seria a Reforma da Previdência, em nome de uma Intervenção Federal, que eu soube, é inconstitucional e que não pode ser suspensa a menos que o problema seja resolvido, é sinal que vem coisa por aí. Desagradável certamente, como têm sido as ações desse Governo. Na minha inocência, parece uma estratégia política para arregimentar a classe média perdida, ou acabar de vez com as eleições. Espero não ter de ver a Ditadura voltar, ainda que a censura a GRES Paraíso de Tuiti em sua reapresentação seja uma mensagem límpida de que tudo mudou.