Um
pacote de sacanagens
As pessoas que temos em contato nas mídias sociais, essas que todos os dias nos enviam algumas imagens e até mesmo vídeos a título de bons-dias e boas-noites fazem a festa, literalmente, em ocasiões como a Páscoa, o Dia das Mães e o dos Pais e, sobretudo, no Natal. O efeito é que o tempo que gastávamos (antigamente) para enviar cartões de Boas-Festas (personalizados) é agora multiplicado para que limpemos os “caches” de computadores, tablets e celulares. Mas não nos queixemos: triste mesmo é sentir-se só.
A solidão malfazeja (sim, porque muitas
vezes precisamos, nós próprios, de estarmos conosco, apenas) conduz à depressão,
ao pânico e, claro, à baixa autoestima. Ou se tem habilidade para relacionar-se
bem com os próximos ou se gasta muito – compra-se, é o termo – para angariar
companhias sem os sentimentos de afeto, respeito ou amor-amizade.
Essa capacidade, hoje, é o que se tem por inteligência
emocional, mas dizíamos jogo-de-cintura e os mais refinados exibiam-se com a expressão
francesa savoir-faire.
O Brasil dos parvos assumidos elegeu a
desqualificação. E o fato repetiu-se no varejo dos Estados. O presidente da
República não tem nada de savoir-faire – nem de know-how. Curiosamente,
as duas expressões se traduzem da mesma maneira, saber (como) fazer, mas sempre
aplicávamos o francês para o modo civilizado de contornar situações, e o inglês
para o conhecimento técnico.
Lembro-me do mise en scène de
Fernando Collor ao final das tardes descendo a rampa. Ele fazia aquele forfait
com certo glamour e criou-se um novo status em Brasília: “Fui
convidado para descer a rampa com o presidente”. Mas as saídas de Jair para o
trabalho, nas manhãs, quando ele faz que atende jornalistas sob a proteção de
seguidores fanáticos (aqueles que cercam os poderosos como as moscas em torno
do doce... ou das fezes) nada têm de glamour, mas sim de – agora é hora de uma expressão
nacional nada chique – barraco. Muito barraco!
Na semana passada, sob o calor das
acusações graves que ameaçam o seu filho Zero-Um, senador pelo Estado do Rio, ele
perdeu as estribeiras. Não foi surpresa alguma. Surpresa foi a sua fala de arrependido
(disse ele) no dia seguinte. Chamou esse jornalista de homossexual por ter
indagado o presidente quanto às suspeitas sobre o senador Flávio, fez referências
chulas aos pais de outro jornalista que lhe perguntou sobre o empréstimo de 40
mil reais ao famoso Fabrício Queiroz - inconveniente para o clã dos Bolsonaro).
Em Goiás, a coisa vai muito mal, também.
Não basta ao governador fazer coro às maldades e ignorâncias de seu líder, o
presidente – ele comete também das suas. Por exemplo, uma de suas primeiras
medidas foi mandar desligar os radares para acabar com a “indústria de multas” –
a Justiça Federal suspendeu medida idêntica de Bolsonaro, mas a de Goiás se faz
de mouca, já que é cega.
Emenda Constitucional para aniquilar com a
verba vinculada da Educação teve apoio maciço dos deputados antipovo que, em
maioria arrasadora, constitui a Assembleia Legislativa. Não bastasse isso, o
presidente do Legislativo, atendendo à orientação do Palácio Pedro Ludovico,
ajeitou o calendário legislativo para satisfazer o governador Caiado. Deputado
eleito pela legenda que deveria representar a força da oposição não se satisfez
em votar (como vem votando desde o começo) com a vontade do Executivo, mas teve
o capricho de tecer loas ao discurso do emedebista que é o líder do governo (DEM)
na Casa de Leis.
O pacote de maldades ainda não estava
pronto. O ano legislativo só se encerraria com o fim das licenças-prêmios e dos
quinquênios do funcionalismo. E, para fechar toda a sacanagem com lacre de
chumbo, convidou os amigos deputados para um banquete em Palácio e retardou do
dia 20 para o 23 (e quase ninguém confia) o pagamento do salário e da segunda
parcela do 13° salário ao funcionalismo.
Mais, ainda: de imediato, lançou uma
campanha publicitária para justificar os cortes, tentando jogar a população
contra o funcionalismo estadual.
Quero encerrar sem mais adjetivos. Mas não
consigo conter um grito, apenas:
– Essa culpa eu não carrego!
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Luiz de Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
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