Bolha
verde-amarelo
“Bolha”
já foi gíria para
designar “bobo”. Aprendi, nas
experiências de repórter, que
“bobo é quem segue o bobo”.
designar “bobo”. Aprendi, nas
experiências de repórter, que
“bobo é quem segue o bobo”.
Ao
longo daqueles 21 anos da ditadura, havia um rigor quanto ao uso dos símbolos
nacionais. Existe lei específica que define quais são esses símbolos –
bandeira, brasão, selo e hino - e como usá-los, porém o foco popular é para com
a Bandeira do Brasil e o Hino Nacional Brasileiro.
Havia
um rigor para se cantar o Hino e também para se portar ou hastear a Bandeira.
Porém, o povo nas ruas desde aquele comecinho de 1984 popularizou tanto nosso
Pavilhão quanto o nosso Hino. Desde a campanha pelas Diretas-Já, que mostrava a
nossa vontade de votar para Presidente a bandeira ganhou simpatia popular – e o
PCdoB chegou à Praça dos Três Poderes, num daqueles eventos, com uma imensa
flâmula verde e amarelo sob a qual centenas de pessoas passeatavam festejando a
perspectiva da democracia e da liberdade, que nos foi negada desde aquele
primeiro de abril de 1964.
Houve
uma passeata em que o Presidente Fernando Collor pediu que nos vestíssemos de
verde e amarelo para demonstrar apoio a ele – mas trocamos as cores nacionais
pelo preto, numa evidência de que não o queríamos mais – e isso foi como a
“turma da pipoca” atrás das tropas que desfilaram naquele 7 de setembro, em 1991.
Não demorou para que o processo de impeachment fosse apreciado no Congresso.
Mas
em junho de 2013 começou uma nova moda – o verde e o amarelo nas ruas. A ideia
inicial era evitar as bandeiras de partidos, tentando mostrar que queríamos
soluções independentemente da hipocrisia das tais agremiações fisiológicas. E
em lugar dos partidos, surgiram algumas organizações “patrióticas” que prometiam
coisas por um Brasil melhor, “livre da esquerda” e dos riscos de “se tornar
Cuba ou Venezuela”. Com isso, Cuba virou a Bruxa Madrasta e a Venezuela, o Lobo
Mau.
E a
massa ignara deixou-se seduzir pelo canto das sirenes, ops! Sereias! Abriram-se
as gavetas e as camisetas que se vestiam em dias de jogos da Seleção
tornaram-se uniformes de campanha. E, de
repente, essa gente que não sabe sequer o que é um conceito político ou
diretrizes partidárias entendeu que tudo o que levava vermelho era “coisa de comunista”
– e assim o PT também deixou de ser “trabalhista”.
Neste
domingo, 19 – Dia do Índio e, para os militares, Dia do Exército – os
torcedores do presidente trapalhão saíram às ruas. Curiosamente, e
coincidentemente, nas cidades onde aconteceram carreatas em prol do fim do
isolamento para se conter a expansão do Coronavírus dirigiram-se a uma unidade
do Exército – em Brasília, sem constrangimentos, a escolha recaiu no Quartel
General. E também coincidentemente foi para lá que o presidente Jair foi, após
almoçar com os três filhos na casa do zero-três Eduardo. Saudou os presentes e
resolveu discursar, usando como palanque uma caminhonete da PMDF.
Sem
modéstia, o PR (como gosta de escrever o FHC, ex PR) falou como se reagisse a
algumas faixas – todas iguais, sugerindo que foram confeccionadas numa mesma
origem – que pediam “Intervenção Militar com Bolsonaro no Poder”. Outras
propunham “AI5 Já” – e Bolsonaro não as contestou. Preferiu dizer que estava
com eles, que queriam o melhor para o Brasil, que os três poderes precisam
entender que são submissos ao povo e que não queria negociar nada!
Claro,
claro... A massa em carrões de luxo foi ao delírio, entendendo que o presidente
se comprometia com suas propostas – a de intervenção militar com Bolsonaro no
poder e AI5 já! A massa em verde-amarelo absorvia os perdigotos de seu líder,
que tossia e se limpava com os punhos e palmas das mãos – e estendia mãos aos
do povo e também a militares e assessores, constrangendo-os (talvez).
De
São Paulo, um vídeo de quase 30 minutos, de um grupo chamado Jornalistas
Livres, mostrava a luta “democrática” de mauricinhos da década de 1980 e
“patricinhas” da década de 1970. Os propósitos “da luta” eram os mais
“democráticos” – a volta ao trabalho para tirar os “vagabundos” das suas casas
e “movimentar” a economia, porque “essa desculpa de Coronavírus não cola mais”
e outras pérolas do gênero.
Uma
das primeiras entrevistadas usava máscara com a inscrição AI5 JÁ e admitia ter
álcool em gel no carro. E as duas últimas estavam sem máscaras, mas admitiam
que as usariam caso saíssem do carro: “Estamos aqui lutando pelo Brasil” diziam
elas, e a que dirigia ainda valorizava “Meu filho não sabe que estou aqui,
seria um problema”.
E
tome verde-amarelo!
As
reações, mesmo durante as carreatas, não demoraram: panelaços em todas as
cidades onde elas ocorreram e mesmo em outras, justo nos instantes em que a
televisão – ou as redes sociais – mostravam o que se passava. Pelas redes
sociais, começou a circular o chamado “Fora, Bolsonaro”. As reações, em todos
os quadrantes, não foram nada simpáticas.
Resumindo:
os patriotas de verde-amarelo que fazem carreatas pró-Bolsonaro e contra a
quarentena da Covid-19 são, sem dúvida, empresários em defesa de seus
interesses diretos, sem qualquer preocupação com a classe trabalhadora – essas
pessoas que, trabalhando, enchem as burras dessa “classe”. Mas atrás deles há
outros, igualmente vestidos com uniformes de torcida e, algumas vezes,
embrulhados na bandeira do Brasil como se o manto pátrio fosse um xale da vovó.
Esses são os imbecis que se alinham aos magnatas pensando que, assim, se confundem
com os “poderosos”.
* * * * * * * * *
Luiz
de Aquino, da Academia Goiana de Letras.
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