A milícia da bandeira
Ricardo Kotscho começou assim seu artigo "O Jair que há
em nós": Bolsonaro dá voz ao que há de pior nos brasileiros:
“– Cala a boca! Cala a boca! Cala a boca!’ Apoplético, Bolsonaro
já desceu do carro aos berros nesta terça-feira, chacoalhando um exemplar da
Folha nas mãos, e partiu para cima dos jornalistas no ‘cercadinho’ do Alvorada,
o seu palanque permanente para falar aos devotos da seita e atacar a imprensa” (veja mais em https://noticias.uol.com.br/colunas/balaio-do-kotscho/2020/05/05/o-jair-que-ha-um-nos-bolsonaro-libera-o-que-ha-de-pior-nos-brasileiros.htm/).
Muita coisa aconteceu nos quatro dias entre a terça-feira e este
final de manhã domingueira em que paro para formalizar um tiquinho do que
pensei estes dias, ante uma avalanche de bobices e trapalhadas do “mito” e de
seu rebanho fiel e cego.
Órgãos de investigação localizaram quem-é-quem na “cabeceira” do
gado – aquele que se disse detentor de três graduações, que morou “no país
dessa bandeira aí” (dos EUA ou de Israel? Pelo grau de ignorância, é bem
provável que na terra do Tio Sam, a preferida pelos ignorantes que se embriagam
da alegria de “subservir”, atuando em
atividades nas quais os americanos nativos não põem as mãos nem os pés). E
ficou sabido que o homem, um tal Renan Sena, era remunerado no ministério da
Mulher e Direitos Humanos, sob as ordens de Dona Damares. Outra, aquela da foto
em que pareceu ser a imagem “consagrada” da Morte, uma tal Marluce, empresária
de Palmas (TO) que, ante a situação de total inadimplência e negativação,
abandou seus afazeres e foi para Brasília assumir papel de agitadora no séquito
bolsonarista – e, na primeira ocasião após o 1° de Maio em que agrediu
verbalmente enfermeiros em manifestação, foi mentir para o presidente no
cercadinho do Alvorada.
Outra das lideranças desse
acampamento é Sara Winter, “ex feminista” que defende bandeiras neonazistas. Na
Avenida Paulista, paisagem obrigatória paulistana, um grupo apresentava um
esquete, há pouco, neste domingo 10 de maio, ridicularizando as mortes que
enlutam onze mil famílias e dezenas de amigos das vítimas irreversíveis desta
pandemia, com apologia ao líder “nosso presidente”.
No meio, a malfadada performance da
atriz ex global Regina Duarte, ora num emprego temporário na cúpula federal
como titular da subpasta da Cultura, agregada ao ministério do Turismo. A
propósito, manter a Cultura atrelada ao Turismo é algo como fazer de cada
segmento uma paisagem e de cada ator da diversidade cultural brasileira uma
árvore, um pássaro, um jacaré ou boto, pirarucu ou mico-leão-dourado... Coisas
de que o Sinistro do Meio Ambiente odeia, tanto quanto o presidente e o
Sinistro da Economia também odeiam.
A eterna namoradinha do Brasil, diante dos anos
acumulados – tantos quanto os meus – tornou-se numa espécie de ressaca moral
(os notívagos irresponsáveis e, algumas vezes, carentes nas madrugadas entendem
bem do que estou falando). Ou: “Regina não é mais aquela,
tarilaralarilaaaa...”. Isso quanto à aparência da senhora-propaganda de “arroz
e feijão Cristal, pureza em forma de grãos”.
Aliás, seguindo as boas práticas de propaganda,
a indústria goiana devia mudar tudo, ainda que a protagonista atual, a filha de
Regina, não esteja – ao menos até agora – comprometida com as desditas da
famosa mãe.
E, agora quase concluindo, vimos que os drones
são instrumentos de grandes revelações. Manifestações do sábado, 9 de maio,
figuraram-se nas cenas dos drones como uns raros gatos pingados tentando
sensibilizar os incautos contumazes. Debalde...
A bandeira do Brasil, tão bela e amada em
grandes momentos de nossas vidas, no esporte e no civismo, foi rebaixada a
papel de bombom. Sim, aquele papel celofane, brilhante e colorido, sedutor aos
olhos da criançada que adora doces.
E, de fato, cores e brilhos são sempre um
grande atrativo. Desde a minha infância, os invólucros coloridos dos bombons
associavam visual a sabor – coisas irresistíveis, como tremular “verde-louro
dessa flâmula”. Contudo, a julgar pelos propósitos confessos em seus
estandartes e faixas, o que se propunha eram coisas em indiscutível afronta à
Carta Magna – fechamento do Congresso e da Justiça, golpe militar com Bolsonaro
– e, de quebra, em algumas faixas era expressa a vontade bolsonarista de
exterminar a esquerda. Para eles, que sequer sabem o que é comunismo, toda
pessoa que se lhes oponha ou que não manifeste falas e atitudes favoráveis ao
“mito” é “comunista”.
Enfim, o triste de tudo isso: embrulham-se em
belíssima embalagem, a nossa bandeira, e se sentem bombons. E, com isso,
maculam nosso lábaro duas vezes – ao fazer dele a sua capa, quando não passam
de bombons de merda!
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Luiz de Aquino, da Academia Goiana de Letras.
Um comentário:
Pertinente: na mosca!
Abraços.
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