BECAPE DA MEMÓRIA
Comentando com o autor
O escritor Herondes Cezar, nascido em Piracanjuba, berço de Léo Lynce e João Accioly, traz-nos um livro de memórias em que revive lembranças da infância na zona rural, até que a família se muda para a cidade. Estudante, comerciário, professor e bancário, bacharel em direito e crítico de cinema - tais vivencias vêm a ser ingredientes para o exercício perfeccionista da escrita. Devorei o livro em três ou quatro etapas, a poucas horas de intervalo e deliciei-me.
Seguem, pois, para o autor, as minhas impressões, considerando que nascemos a intervalo de poucos dias e em municípios vizinhos, naqueles tempos do término da Segunda Guerra Mundial.
Herondes, concluí a leitura! Excelente, meu amigo!
Suas memórias foram tão nitidamente registradas que
nos passam, a todo passo, uma plasticidade incrível! Tanto nos cenários
dominantes de sua infância quanto nas andanças por Nova Iorque, seu talento de
narrador conduz o leitor pela mão, como um parceiro de cada aventura.
Solicitei-lhe o livro por dois motivos - a minha
curiosidade em lê-lo e uma certa ansiedade por re-encontrar o nosso bom e velho
amigo Zé ("Pinto às ordens", lembra disso?). Não resisti à tentação
de ler para minha mulher a história dos livros emprestados.
São muitas e muitas passagens maravilhosas! Você
tem um poder de realçar as pessoas... Bem, uma surpresa, que me encheu os olhos
de lágrimas, foi o texto sobre mim. Fiquei entre rir e chorar, não consegui
lê-lo em viva voz - passei o livro para Mary Anne, que gostou muito!
Minha mulher é filha de um locutor que marcou época
em Goiânia, Antônio Gregório, conhecido na intimidade por Gorinho ou Gorim. Ele atuou em “O Azarento”, no qual você foi peça importante
para viabilizar o set em Piracanjuba.
Um registro: no período de 1962 (ano em que entrou
em vigor a LDB que tirou o Latim do ginásio e flexibilizou demais os currículos
escolares) até 1972 (quando os militares impuseram uma reforma do ensino que
uniu o primário ao ginásio, criando o Ensino de Primeiro Grau, e acabou com
Científico e Clássico, pondo em seu lugar o Ensino de Segundo Grau), o nome Colegial
saiu do circuito; só em 1996, com a nova LDB do FHC, foi que surgiram os nomes
Ensino Fundamental e Ensino Médio.
Dei boas risadas em alguns momentos...
Especialmente na sua gafe com Ronaldo Cagiano, hehehehehehe. Emocionei-me com
suas lembranças de fatos comuns em nossas vidas e com pessoas também comuns
tanto na sua quanto na minha jornada, como Roberto Fleury Curado, Willy Pereira
da Silva, Prof. Gomes Filho (prefaciou o meu primeiro livro), Prof. Hélio
Furtado do Amaral, Taylor Oriente e tantas mais! A Magda, de sua mocidade em
Piracanjuba, é a cantora Maguinha?
Você conta também do Concurso Sérgio Porto de
Crônicas, em que o Roberto Fleury me colocou no júri. Notável como você
descreveu o Roberto de um modo tão sucinto e pleno, ao mesmo tempo. A
propósito, uma das vezes em que o Zé Pinto o citou para mim foi com a revista Ficção
em mãos, que você lhe passou para que ele me entregasse. Ainda a tenho aqui nos
meus alfarrábios.
E, moço, como você reuniu coragem para aquela
"campana" no Pier 16, hem? Ah, eu não ficaria sozinho num lugar
daqules, numa cidade desconhecida, jamais! Teria ido não só ao Cirque du
Soleil, mas até ao Beto Carreiro!
E, enfim, seus artigos de crítica... Olha, eu
gostaria muito de detalhar mais passagens, especialmente de sua infância, mas
(poxa) estou falando com o autor e já o aborreço demais por realçar alguns momentos.
Seus artigos são, igualmente, de leitura gostosa, deslizantes
- e cheia de visgo, pois prende-nos atá a última palavra. Aqui, quero dizer,
nos artigos, sai de cena o cronista, o homem da narrativa, dando a vez (e a
voz) ao crítico, o analista, o observador por excelência. Neste item, meu
amigo, não tenho o que comentar, é seara em que sou estranho (e isto me lembra
um provérbio da nossa infância, que você recorda na voz de sua mãe: Boi em
pasto alheio berra como vaca). Não tenho envergadura para tal apreciação – já o
Lucas, meu filho mais novo, é, como você, apaixonado por cinema.
Porém, fora do livro, quero dizer, feito uma feliz
pichação na parede de lado, aquela carta da Sevilha Nogueira para você. Um
depoimento desses, meu caríssimo, vale por um diploma registrado no MEC! Meus
parabéns!
E, ainda, devo dizer que senti falta do inestimável
autógrafo! Mas não o cobro, o mimo daquele texto sobre o poeta de boa memória
vale por ele (mas não sei porque acham que tenho boa memória).
Hidrolândia, 19 de julho de 2020
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Luiz de Aquino, da Academia Goiana de Letras
2 comentários:
Poeta como é delicioso apreciar sua escrita da escrita.Atiça a vontade de ler o que você leu.
Abraços
Meu amigo Luiz, com esse texto tão superlativamente generoso, você me deu a alegria de acreditar que valeu a pena todo o esforço para contar a história de pessoas que a vida colocou perto de mim nos meus mais de 70 anos de existência. Mas tenho plena consciência de que as minhas experiências pessoais se desvanecem diante da grandeza das figuras humanas com as quais tive a sorte de me relacionar, por laços de sangue ou de afeto. Receba o meu agradecimento de coração.
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