Minha fala na Câmara Municipal de Goiânia,
quando da concessão do titulo de Cidadão Honorífico a Antônio Almeida, presidente da Editora Kelps, em 24/11/2011 (L.deA.).
O tempo e a teima
O tempo é o mais justo, perfeito e, por isso
mesmo, previsível ingrediente de nossas vidas. Ou, talvez, o homem, animal que
costumo qualificar como “bicho sapiens”, tenha conseguido medir o tempo com uma
exatidão quase que irreparável.
Mas até mesmo no tempo – esse tempo com que se
faz a história, não o tempo do sol e das chuvas, do frio e da canícula – esse
“bicho sapiens” interfere!
Ao tempo dos nossos pais, o tempo era grande,
disponível, preguiçoso... Hoje, mal nos damos conta de como crescem as crianças
e como se tornam, muito rapidamente, ágeis operadores da parafernália
eletrônica!
Nós, os que passamos dos cinquenta anos,
sabemos que a vida mudou muito nas últimas décadas! Vivemos as infâncias
sofridas e sem muitos recursos de lazer fabricado, como os brinquedos vários
que, a este grande sertão do Planalto Central, demoravam para chegar. Então,
restava-nos a criatividade de transformar mangas, chuchus, pontas descartadas
dos carpinteiros e até mesmo carretéis vazios em peças de invencionice
infantil.
Era um tempo em que as crianças se tornavam
mão-de-obra bem cedo, auxiliares dos serviços gerais de pais e mães. Em muitos
casos, aquelas crianças viviam somente para repetir as vidas de seus pais e
mães; e em uns casos poucos, as crianças sonhadoras, ambiciosas, curiosas e
inquietas fugiam da rotina que lhes era imposta, procuravam outras terras e
fusos, costumes e falas...
Ah! A história dos homens está cheia de
exemplos.
E entre estes há os que sequer precisaram se
aventurar em terras distantes, muito estranhas. São os que, num dado momento da
vida, escolhem a mudança imediata, geralmente para uma cidade próxima ao seu
rincão de origem – quase sempre a capital do
Estado.
Foi o que fez Antônio Almeida. Deixou que os
sonhos criassem asas, mas dominou-os de modo a permitir-lhes o voo possível,
sempre. A migração foi de curta monta – de Palmeiras de Goiás para Goiânia. O
tempo, esse forte elemento de todas as vidas, exigiu trabalho; muito trabalho.
E o crescimento aconteceu de modo especial, as providências exigindo pressa.
Kelps e a porta de sua sala nunca foi fechada durante o expediente.
Família grande, de muitos irmãos; os pais
regendo a vida de modo a não permitir a dispersão “dos meninos”; o empenho pela
sobrevivência mas, também, a garra, a determinação: sobreviver era pouco;
crescer se fazia indispensável!
A pequena Gráfica Pirâmide, realizando
trabalhos de encomenda como cartões e “santinhos” de candidatos, ou panfletos e
notas fiscais, um dia atreveu-se a publicar livros. E já se vão quase trinta
anos desde aquela remota aventura – o livro Travessia de Gente Grande, do poeta
Ademir Hamu; em seguida, aconteceu o meu De Mãos Dadas com a Lua. E de lá para
cá, centenas, milhares de novos títulos, colocando Goiânia como uma das cidades
onde mais se publicam livros.
A hoje Editora Kelps é uma referência nacional,
com repercussão em vários pontos do mundo.
E isso, analisando agora, porque um dia o jovem
Antônio Almeida – que a gente prefere chamar de Antônio da Kelps – sonhou que
devia crescer.
Cresceu e, com ele, cresceram também os irmãos, porque seus pais nunca permitiram que
se soltassem das mãos uns dos outros; cresceu, cresceram e ajudaram incontáveis
escribas – sejam eles ensaístas, ficcionistas ou poetas – a crescerem juntos.
É assim, meu caríssimo Antônio Almeida, que te
vejo esta noite: o dono dos sonhos que voaram em bando, uma revoada de sonhos
vários. Hoje, Antônio, Goiânia lhe traz o gesto de gratidão, o diploma da
cidadania honorífica, que a Câmara lhe outorga e que, se fosse possível, traria
as assinaturas de todos os editados pela sua... ou melhor, a nossa Editora
Kelps.
Deus te guarde!
* * * * * * * * *
Luiz de Aquino, da Academia Goiana de Letras
9 comentários:
Bela homenagem. Que ele esteja em paz.
Maria Helena Chein disse...
Belo discurso para o querido homem dos livros! Você traçou o objetivo de sua fala e, com sua escrita única, testemunhou a vida e os sonhos do homenageado, hoje, no recanto bem próximo de Deus. Você sabe que gosto demais de suas crônicas!
Que beleza de homenagem.
Muito bom poeta você em todos momentos tece um texto forte e
Belo em sua descrição. Este sim foi pra um homem forte para a história de cumprir sonhos - publicar.
Belo discurso. Parabéns Luiz!
Uma bela homenagem!
Luis que homenagem linda e ricas merecida.Abs forte com a admiração constante da sua extrema sensibilidade
Ninguém poderá arrancar de Antonio da Kelps esse feito. Nem mesmo a morte. Quanta delicadeza nessa homenagem, Luiz, e em especial , a reedição dela.
Bela homenagem! Merecida. Esteja em paz Antônio da Kelps, fará falta.
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