a Leste-Oeste...
Ontem,
quinta-feira, 16 de fevereiro, o escritor PX Silveira, sempre atento aos fatos
da historiografia de Goiás, divulgou artigo excelente sobre a persistente,
dispendiosa e inútil questão sobre a troca do nome de uma das mais importantes
avenidas da capital, a Castelo Branco, pelo do memorável líder Iris Rezende
Machado, falecido há pouco mais de um ano, dez meses após transmitir, pela
última vez, um cargo eletivo – o de prefeito de Goiânia, pela quarta vez.
O confrade, numa apreciação incontestável, avaliou assim: https://www.aredacao.com.br/artigos/182545/iris-rezende-e-o-rolo-compressor-das-homenagens. Excelente a análise do autor sobre esse affaire, fruto de práticas errôneas e viciosas. Dar o nome de Iris a um viaduto foi um tanto aquém do mérito; e foi patético o projeto de, no Senado Federal, propor o nome dele para o Aeroporto Santa Genoveva, em total desalinho com a história, posto que ao doar terras para a construção do novo Aeroporto de Goiânia, na década de 1950, o benemérito Altamiro de Moura Pacheco fez constar na escritura, como cláusula irrevogável, o nome com que homenageava sua genitora.
No
enfoque do escritor e historiador, apoio-o com meu desencanto ante o desalinho
de 35 vereadores, que buscam forçar situações para trocar o nome da Avenida
Castelo Branco, nome esse absorvido ao longo de quase meio século. E desde o
falecimento de Iris venho observando, calado, um grave esquecimento: quando
governador em seu primeiro mandato, eleito na retomada das eleições diretas
para os governos estaduais (1982), Iris tirou os trilhos da Estrada de Ferro
Goiás (RFFSA) da área urbana de Goiânia, fixando o fim da linha no então
distrito de Senador Canedo; e anunciou, na ocasião, que o trecho ocupado pelos
trilhos férreos daria lugar a uma grande avenida, uma artéria pública a unir a
ponta dos trilhos a Trindade, atravessando Goiânia no sentido Leste-Oeste.
Essa
é, para mim, a legítima homenagem: Avenida Iris Rezende Machado. Assim,
dignifica-se o homem público que foi vereador e presidente da Câmara, deputado
e presidente da Alego, prefeito (cassado em 1969), governador (após a Anistia),
ministro de Estado da Agricultura, outra vez governador, senador, ministro de
Estado da Justiça e, rejeitado nas urnas no âmbito do Estado – por conta, como
se tem por evidente, do rejuvenescimento do eleitorado e o sumiço dos líderes
amigos pelo interior afora – e, desde 2004, três vezes eleito prefeito da
capital.
Iris e sua mulher Iris |
Eleito, por último, em 2016, recusou-se taxativamente a lutar por mais um mandato em 2020. Transmitiu o cargo em 1° de janeiro de 2021 e faleceu no dia 9 de novembro do mesmo ano, em São Paulo.
A teimosia dos edis goianienses em impor seu nome à avenida Castelo Branco é algo
que nos desperta a hoje decantada vergonha alheia, tantos são as opções
disponíveis. Curiosamente, ninguém aventou trocar o nome de alguma via cujo
titular de hoje já não seja por demais homenageado.
Goiás
tem mania de repetir homenagens à exaustão – sem contar as homenagens que
dignificam figuras questionáveis pelo conjunto de sua obra em vida. Dentre os
homenageados com justiça e louvor, gosto sempre de citar o nosso primeiro
prefeito, professor Venerando de Freitas, que criticava tais repetições. Dizia
ele: “Ainda estou vivo e quero continuar assim por um bom tempo; mas já sou
nome de três avenidas em Goiânia”.
Sob
tais sinais, cumprimento PX Silveira pela lucidez de seu texto e faço votos de
que, decidindo-se a Câmara Municipal por dignificar a grande avenida
Leste-Oeste com a homenagem ao admirável líder, não repita o nome a tantos
outros logradouros.
* * *
Luiz de Aquino é membro da Academia Goiana de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás.
2 comentários:
Crônica à altura do escritor. Argumentações lúcidas e dignas de quem conhece a história de Goiás.
O problema é nossa câmara municipal é integrada, com raríssimas exceções, por pessoas que não têm qualquer compromisso com a cidade e muito menos com o povo. Trata-se de um bando fisiologistas que não exergam nada além de seus próprios interesses.
Postar um comentário