Meu amigo Benevides de Almeida emociona-me com esta crônica, que recebi como um primeiro passo dele no sentido de nos proporcionar um livro de memórias de sua experiência de cidadão e jornalista histórico. Ele se refere a um vídeo que pode ser visto em https://www.facebook.com/conhecagoiania/videos/1809948369239774/?pnref=story). Obrigado, Bené!
L.deA.
L.deA.
A Campininha que o meu amigo Luiz
de Aquino não conheceu
Benevides de Almeida (*)
Li o post do amigo Luiz Aquino falando da nossa Goiânia dos
anos 60/70 -https://www.facebook.com/conhecagoiania/videos/1809948369239774/?pnref=story - período em que ela atingiu o maior percentual de crescimento físico com a antiga
empreiteira Encol salpicando o centro da cidade de prédios que não
ultrapassavam os 15 andares. O goianiense estufava o peito de orgulho. Afinal,
isto aqui estava virando cidade grande. Quando foi anunciada então a construção
do edifício Aquarius Center (Av. T-63, Setor Bueno), fora do triângulo do Manto de Nossa Senhora –
formado pelas avenidas Paranaíba, Tocantins e Araguaia, com a Praça Cívica no
vértice - que chegou à marca dos 20 andares, o goianiense foi à loucura. Está consolidado:
ninguém mais segura Goiânia.
Mas isto é do tempo que tem como referência a
chegada do Luiz de Aquino a Goiânia, que o acolheu como filho adotivo e ele
correspondeu como filho legítimo. Luiz não é como um desses bastardos que
aportaram por aqui para ficarem ricos e receberam títulos de cidadania,
passando a ocupar posições de destaque nas galerias dos grandes vultos
goianienses no lugar dos verdadeiros heróis da epopeia da nova Capital: os
construtores – serventes e pedreiros. Estes foram arregimentados pessoalmente
por Pedro Ludovico para a edificação dos primeiros prédios públicos e que aqui
ficaram ao final de suas jornadas profissionais. Eles sim, tornaram-se
goianienses não por lei elaborada nas conveniências de interesses políticos,
mas por mérito que não precisa de citação num papel emoldurado pendurado na
parede. A grande homenagem que se presta a eles vai durar milênios. Está
personalizada pelos chamados “negrões da praça Cívica”, monumento dedicado às
três raças que participaram o erguimento de Goiânia.
É claro que há exceções neste contexto das
concessões de cidadanias, algumas das quais chegaram a ser rejeitadas pelos
homenageados devido a nuanças de trivialidade que adquiriram por passarem a ser
distribuídas como milho dentro do galinheiro. Os que fizeram jus à honraria de
serem agraciados com o gentílico goianiense merecem todo nosso respeito por
terem sido, realmente, comprometidos com o desenvolvimento desta cidade.
Conheço alguns.
O repórter Benevides na 24 de Outubro, que ainda terminava na Praça Joaquim Lúcio (era o tempo de Fusca, Vemag, Simca...). |
Eu quero falar mesmo é da Campininha, a
Chacrinha, como a chamavam os esnobes de Goiânia que o Luiz não conheceu, bem
antes de 1963, época em que ela começou a se confundir com o perímetro urbano
de Goiânia em todo o delineamento da fronteira oeste da Capital. Foi quando a
prefeitura impregnou a cidade com o jargão na propaganda oficial do município: "Goiânia
constrói cinco casas por dia".
Quero lembrar a Campininha do Atlético de
Fabinho, Epitácio e Pitinho. A Campininha do bar do Chiquinho de Castro (mais
tarde prefeito de Goiânia); do Bar do Chico, quase em frente ao primeiro, na 24
de Outubro; do Bazar Paulistinha rodando os rocks doidos do Little Richard,
também na 24 de Outubro; da paquera dos adolescentes em frente ao Colégio Santa
Clara, do meio dia à uma hora, quando as meninas saíam das aulas, com destaque
para as lindas filhas vestidas de azul e branco do José Luiz Bittencourt, que
veio a ser governador de Goiás; das jardineiras-de-bico fazendo lotação na
linha Campinas - Goiânia; do ônibus papa-fila levando as normalistas para o
Instituto da Educação na Vila Nova; do cine Tocantins; dos prostíbulos da
Avenida Bahia; da rádio Difusora; do Campinas Palace Hotel; do coreto em estilo
colonial (parece) da Praça Coronel Joaquim Lúcio; do Mercado Municipal; do Cine
Eldorado com suas 55 luminárias afixadas no teto; do vai-e-vem dos engraxates
nos fins de semana; do 5º. Distrito Policial, cuja guarnição composta de alguns
policiais militares conhecia todo mundo (quem, dos campineiros antigos, não se
lembra do soldado Jorge, que pegava os menores zanzando pelas calçadas dos
prostíbulos da avenida Bahia e os entregava aos pais?); da velha matriz em
frente o Santa Clara; do Lindomar Castilho(era Cabral na época) e do Josaphat
Nascimento soltando a voz nos bares da cidade-mãe ou no programa "A Hora
da Sineta" apresentado pelo Omar Barbosa, no auditório da Rádio Difusora;
do Zé da Folha, figura popular que executava Violetas Imperiais assoprando
folhas de ficus, comuns na
arborização das ruas; das acanhadas dependências do Sesc de Campinas antes de
ir para a rua Rio Grande do Sul; da menina Rosa, por quem me apaixonei aos 12
anos e ela por mim, mas ambos tínhamos vergonha de nos revelarmos um ao outro,
o que era motivo de risadas e chacotas pelo resto da turma: Adilson, Antônio,
Edson, Waldir, Edvaldo, Donato, Silvinho, Alair, Dete, Waltinho, Jurandir,
Osterninho, Petrônio e muitos outros; do campo do Vasquinho, quase no final da
24 de Outubro; do raspadinho paulista; do pirulito na tábua; dos hipnotizadores
de araque que todos os anos se apresentavam nas novenas da Praça da Matriz e a
molecada fingia que estava sob o controle deles, que acreditavam nisto, para
delírio dos adultos; do Posto Guimarães, que durou meio século ou mais na 24 de
Outubro; dos ensaios da fanfarra do Liceu de Campínas para disputar com a do
Liceu de Goiânia na Parada da Independência...
Paro por aqui, viu, Luiz? É coisa demais para
se lembrar! Um ano de Campinas dá para se escrever um livro. Essas
reminiscências tiraram minhas emoções do sério!
*****
(*) Benevides de Almeida é jornalista, aposentado, testemunha viva da história desta cidade.
Um comentário:
O jornalista Benevides de Almeida foi, para todos os que desfrutamos de seu convívio, o repórter-símbolo nesta Goiânia dos anos 70 e 80, principalmente! Ouvi de muitos jovens colegas que se inspiravam nele para obter as melhores informações, para cativar fontes de referência e principalmente para dar ao texto "o tempero" que o Bené tão bem sabia aplicar em suas reportagens.
Tive-o como companheiro na Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Goiânia, como editor na Folha de Goiás (que se escrevia, erroneamente, Goiaz) e pude usufruir de riquíssimas trocas de informações sobre a realidade e a história de que jamais um bom jornalista pode prescindir!
Por isso a minha alegria ao merecer dele esta crônica, que complementa o meu depoimento sobre os cinemas goianienses da nossa juventude (aliás, Bené sempre foi excelente nessa coisas de complementar informações sobre praticamente tudo do nosso quotidiano!).
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