Hidrolândia:
Colégio
adota meditação escolar
A experiência tem início na Escola Robert W. Coleman, em
Baltimore, nos EUA. Em lugar de deter o
aluno ou aplicar-lhe suspensão, escolheu-se encaminhar o aluno para uma sessão
de meditação.
“Trata-se de um programa escolar
chamado Holistic Me, uma iniciativa em
parceria com a ong Holistic Life Foundation que reúne meditação de atenção plena com profissionais
especialistas em comportamento. O resultado foi tão impressionante que, desde
que implantou o projeto há dois anos, a escola de Baltimore não realizou uma
única suspensão” (revista Galileu,
no endereço: http://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2016/09/esta-escola-substituiu-detencao-por-meditacao-e-o-resultado-foi-incrivel.html).
Muitas escolas brasileiras adotaram esse procedimento,
inclusive o Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro. Mas o destaque, para nós, é o
Colégio Vicare, em Hidrolândia, na região metropolitana de Goiânia). Em seu
segundo ano de funcionamento, a escola vem realizando inovações continuadas em
benefício da melhor qualidade de socialização e aprendizagem, proporcionando
excelente projeção para a “cidade das jabuticabas”.
A iniciativa é da diretora Sirlene Gonçalves Xavier (foto),
psicóloga e psicopedagoga, que escolheu, no leque de práticas de meditação, o mind fulness, isto é, mente plena, com
vistas a atingir o propósito “menos estresse, mais saúde”. Segundo ela, o
propósito é “estar presente no que se faz”, pois, a “atenção plena é a conexão
com o que se faz agora”.
O procedimento, nas escolas brasileiras, é mais amplo
do que o experimentado na escola de Baltimore, pois não se limita, aqui, a
encaminhar para meditação um aluno indisciplinado ou desatento, mas aplicar a
meditação a todo o corpo discente. A aceitação tem sido generalizada, e a
reação mais comum está na iniciativa de cada aluno no sentido de chegar à sua
escola com a antecedência necessária para participar da meditação.
No Vicare, em Hidrolândia, onde a fase infantil
(escola maternal) tem nenéns com meses de vida, ou seja, com idade inferior a
um ano, a assistência personalizada já inclui também esses pequeninos seres, de
modo que as novas práticas pedagógicas ocorram, para a criança, de modo
absolutamente natural – e o propósito é facilitar, cada vez mais, os processos
de ensinamento e aprendizado.
Percebe-se, aos poucos, o quanto a escola pode ser, de
fato, o segundo lar do alunado. Atrativos como instalações renovadas, arejadas,
confortáveis e acolhedoras associam-se ao procedimento de professores e
funcionários, tudo voltado para o bem-estar do estudante e a facilitação do
aprendizado por todos os métodos utilizados – e o Vicare se destaca, ainda,
pelo uso apropriado da mais moderna tecnologia da informação.
Assim, o ensino acadêmico está aliado às práticas
esportivas e de artes e cultura – como música, teatro, desenho e pintura,
futsal, vôlei, basquete e outras práticas, sob a orientação entusiasmada do
médico Luiz Fernando Martins, que cuida, também, da realização mensal de
palestras variadas das quais alunos e familiares participam, assistindo a
explanações de vultos notáveis, de Goiás e do Brasil, além das rotineiras
reuniões de pais e mestres.
Meditação:
Caminho
para o equilíbrio
Muito se fala
quanto às práticas conservadoras nas escolas brasileiras. Os mais radicais
teimam em afirmar que os métodos são, hoje, os mesmos de 400 anos atrás (se
houvesse escolas no Brasil há quatro séculos) e muito pouca coisa se agregou às
metodologias que, a rigor, não passam de teorias que se estudam para obter o
grau de professor, mas, na prática, tudo aquilo é esquecido até mesmo na
retórica.
Nas últimas
décadas, com o advento da tecnologia de ponta, os celulares e computadores
assumiram a rotina na vida nacional, mas esses aparelhos e suas variantes são
apenas os terminais de uma ciência que se transforma a cada instante, a ponto
de tornar-se obsoleto qualquer aparelho após poucos meses, tantas são as
inovações e as ofertas da indústria especializada.
Já passou, e ainda
bem que passou, a crise que causou constrangimentos e até agressões de alunos a
professores e funcionários, gerando casos em que também os pais causaram
situações constrangedoras, desautorizando ainda mais os já desvalorizados
profissionais da Educação. A saída foi proposta com a mesma rapidez que marca
as reações da cibernética – não havendo como impedir o celular nas escolas, a
melhor escolha é adotá-lo como mais um instrumento pedagógico auxiliar.
São muitas as
escolas que assim procedem e, como era de se esperar, as transformações demoram
a acontecer nas redes públicas de ensino, haja vista a enorme burocracia e a
endêmica e inacabável falta de recursos. O fato é que o quadro didático, que já
se chamou quadro-negro, e os mapas impressos passam à condição de memórias
museológicas, dando lugar a projeções por instrumentos da tecnologia da
informação.
O que não mudava,
então? O modo de se relacionarem professores e funcionários com o corpo
discente, ou seja, os alunos. Em poucas décadas, desapareceu a roupagem formal
dos professores, e o popularíssimo jeans-com-camiseta assumiu os cenários. A
linguagem tornou-se mais acessível – mas era preciso buscar novo instrumento de
motivação e convivência. E, ainda, algo que os professores de todos os tempos tentavam,
mas não encontravam a solução – obter a concentração dos alunos ante os temas e
assuntos explanados.
Atenção e Leitura
Situação comum na
relação entre professor e aluno é a desatenção súbita. Ainda que o aluno seja o
alvo central de uma resposta, o professor percebe, no olhar do aprendiz, o
desvio da atenção. Como se alguma palavra sugerisse uma viagem imaginária, os
olhos se fixam no além e o pensamento voa...
O mesmo acomete um
aluno assim quando, em casa, numa leitura de estudo (ou mesmo de lazer)
continua com os olhos a passear sobre o texto, mas o cérebro já está em outra
dimensão. Há pessoas já fora do universo escolar há anos que admite perder
grande parte de suas leituras por esse desvio de atenção. A ciência, parece,
tem isso na conta do que abreviam como TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção
e Hiperatividade.
Isso, porém, é uma
das descobertas mais recentes e tem auxiliado bastante nos processos de ensino
e aprendizagem. E muitos são os alunos de tempos anteriores, hoje pessoas
grisalhas e mesmo enrugadas, que somente agora descobrem que algumas de suas
dificuldades escolares decorriam de um transtorno então desconhecido – esse
badalado TDAH.
– Meu filho sabe
de tabuada, de contas e medidas, mas se tirarmos as laranjas do cesto e as
colocarmos numa caixa, ele não consegue “matar” o problema – disse a mãe a um
professor de reforço.
O professor sorriu
e abriu o livro de matemática. E pediu ao aluno que buscasse o livro de
leituras (naquele tempo havia um livro de leituras na fase ginasial). Abriu num
conto de Machado, leu um período e pediu ao aluno que o explicasse. A mãe não
entendeu, mas acompanhou o que fazia o mestre.
Em quinze ou vinte
minutos, discutindo aquele pequenino texto, aluno e professor começaram a se
entender. O menino começou, pois, a não levar em conta detalhes que o levavam a
dispersar-se, como o cesto e a caixa. Ao término daquela hora de aula, com a
mãe observando tudo – e esperando que o professor lhe permitisse entrar na
conversa – veio o “veredito”, ou “diagnóstico”.
– Dona Zenóbia,
incentive-o à leitura. Comecemos por gibis de caubói, de super-heróis e mesmo
os infantis, os de Disney e da Luluzinha.
E o professor de
reforço, ainda que de matemática, passou a gastar os minutos iniciais da aula
para um aquecimento interessante – conversar sobre as leituras e o lado
divertido, estimulando a imaginação. E arrematou:
– Entenda, você
resolverá qualquer problema quando o compreender. O que lhe faltava era a
capacidade de atenção
Indisciplina e agressão
A disciplina
sempre foi um dos itens mais fortes num processo de aprendizagem – e um desafio
constante para os professores. E nas novas gerações o direito dos adolescentes
fala muito alto - o quê, quando aliado a um fortuito alheamento dos pais,
complica a vida escolar. Muitos são os pais de crianças, atualmente, que não
castigam os filhos – mas os induzem a “pensar no que você acabou de fazer”. O
método tem demonstrado eficácia. Há o caso de uma menina que, aos quatro anos,
ouviu do pai – que se senta no chão para que a criança não tenha de erguer a
cabeça – que fosse até o quarto, pensar no que fizera de errado. Minutos
depois, o pai a libera: “Pode sair, Marina!”, e a menininha responde que “ainda
não, papai, não acabei de pensar”.
Num lado
extremamente oposto, em famílias com estrutura grupal menos estruturada, temos
pais que ignoram as ações dos filhos e acreditam que cabe à escola educar suas
crianças (talvez o engano provenha do nome Educação para o processo público de
ensino). E a autoridade dos professores quanto à disciplina foi minimizada ao
extremo, ao ponto de atos de violência de crianças e jovens contra professores
ter se tornado notícia comum.
Uma experiência de
Baltimore, nos Estados Unidos, e adotada em algumas escolas brasileiras tem
mostrado resultados excelentes – a meditação. A prática ocupa poucos minutos na
semana ou no dia e é estimulada para que as crianças e adolescentes a pratiquem
em casa. O exercício mental organiza o pensamento, relaxa a mente e o corpo,
prepara para a atenção e o aprendizado.
Uma breve pesquisa
na internet mostra que os colégios que adotaram a prática registram uma
novidade, de iniciativa dos próprios alunos – eles passaram a chegar mais cedo
para os momentos de meditação. As escolas preparam-se para isso, reservando
espaços, adaptando as salas para que cada qual escolha a melhor posição e,
súbito, os alunos estabelecem para si mesmos a disciplina indispensável para
atingir suas metas.
Alunos com o dr. Luiz Fernando Martins, idealizador entusiasta, apoia os métodos aplicados no Colégio Vicare. |
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