Ana Cárita Margarida Figueiredo |
Poetisa
goi-Ana...
Não, não... não
cuidarei de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, não. Falarei, sim, agora e
aqui, de outra poetisa que também se chama Ana, como tantas goianas Anas
versejantes, ou versejadoras como a velha escriba e doceira vila-boense (sim, é
com hífen), famosa aqui e além-fronteiras, com um sonoro codinome que acho
desnecessário repetir.
A nossa Ana de
agora, ou a minha Ana (já quem escolheu este momento para ela fui eu) também
tem nome grande, dodecassílabo: Ana Cárita Margarida Figueiredo, ou
simplesmente Ana Cárita. Conheci-a há mais de vinte anos, quando o poeta
Ubirajara Galli, presidente da União Brasileira de Escritores em Goiás,
apresentou-me a ela, ao mesmo tempo em que eu conhecia, também por gentileza do
Bira, duas outras poetisas com quem desfrutei companhias pelos dois anos
seguintes, quando fui presidente da UBE – Placidina Siqueira e Avahy Augusta
(falecida em dezembro de 16).
Eu e Ana, no lançamento de Preliminares, 1999. |
Ivahy tornou-se
mais distante... Placidina e Ana Cárita, sempre ao alcance da vista e das
falas, e gosto muito de tê-las amigas. Todas publicaram livros maravilhosos,
Placidina e Ana com mais presenças. E tive a alegria de marcar palpites nos
livros de Aninha, convidado por ela.
Catas em Filetes de Canto, 1997. |
Gosto de lembrar,
quanto a isso, o que escreveu meu saudoso padrinho literário Anatole Ramos, num
livro de Cora. Ele esclareceu que os autores costumam convidar colegas para se
manifestarem em suas obras, ora com um prefácio, ora com uma apresentação ou o
texto de orelhas e contracapa, mas – enfatizou Anatole – se o autor imagina que
o prefaciador vai enriquecer seu trabalho está muito enganado. O que acontece é
que o autor oferece uma carona ao amigo e este, de beirada, viaja na obra que não
é sua.
Assim aconteceu
comigo nos livros de Ana Cárita – viajei de carona. E que viagens! O poeta é a
pessoa, homem ou mulher (cabendo a esta a exclusividade do termo apropriado,
poetisa), que pratica um acendrado amor à língua, em qualquer parte do mundo, e
aprecia a vida, em todas as suas nuanças, com a sensibilidade elevada. Ana Cárita
sabe bem colher a vida em cálices do mais fino cristal, condicioná-la em
temperatura e carícias para, no tempo certo, traduzi-la em palavra, expressão,
frase, período e texto. Em poesia, enfim!
No aniversário, com a profa. Iracy e a secretária Raquel Teixeira (SEDUCE). |
E aí, subitâneo,
chega-me um convite para a festa de aniversário de Ana Cárita. Ocorreu-me que
era a primeira vez que eu era convidado, mas não demorou a vir à clara o motivo
– era a primeira vez que se festejava seu aniversário, pois, tendo nascido em
janeiro, poucas semanas após o Natal, que sempre ensejou grandes gastos
(mormente em famílias de muitos filhos) e cair em período de férias escolares,
ela nunca fora agraciada com festejos de seus anos, na infância. E assim
habituou-se a ver passar a data, ano a ano, sem festas.
Eu, Ana Cárita, Sônia Prado, Augusto e Mary Anne, no aniversário de Aninha |
E de novo súbito,
a família (filhos, noras, genros e netos) entendeu que a vovó merecia festas,
uai! E foi assim meu sobrinho-neto, o pianista Augusto, abraçar Aninha. E não
bastasse o carinho do convite, ela ainda nos presenteou com... Poesia!
Claro, claro: as
pessoas costumam presentear com o que lhes sobra – e poeta sempre tem poesia de
sobra. Mas não quero esticar ainda mais, copiando-lhe os versos do presente - uma
caixinha com o nome “Minuto da Poesia”, com versos recortados como numa caixa
dos antigos realejos. Pincei a esmo e transcrevo, sem escolha, estes:
Expressões goi-anas
Trem mais custoso:
pensar nos
trens da gente
e resolver os trens dusoutros.
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Da janela, as quaresmeiras
interrogam às moças
prosas:
- Que seria do Lago das Rosas
se não fossem as roseiras?
Beijo, Aninha!
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Luiz de
Aquino é escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
3 comentários:
Luiz, como não poderia ser diferente, li atentamente sua crônica e, mais uma vez, encantei-me com o carinho que você dispensa aos seus amigos poetas. À Aninha, os meus cumprimentos por merecer a homenagem!
Aninha merece, Luiz de Aquino. Merece por demais. Bela e sincera crônica. Magnética, poética. Parabéns.
Sônia Elizabeth
Fiquei encantada com seu carinho pela nossa querida Ana Cárita Margarida Figuerêdo. A poesia da Aninha está nos olhos, no sorriso, na fisionomia tranquila e serena. Bela homenagem! E por falar em caixinha, vai mais uma da nossa querida Ana:
Secretamente te amei
no silêncio dos meus dias
e intervalos das minhas tardes
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