Iuri Godinho conta:
O jornalista Iuri Rincon Godinho, membro da Academia Goiana de Letras, autor de Diretas Já em Goliás. |
Diretas Já em Goiás
Um dia, o Brasil
parou para ver Goiás. Era 1984, vivíamos um tempo em que as mudanças não podiam
mais ser adiadas. O próprio Partido Democrata Social, PDS (nome novo para a
Arena, Aliança Renovadora Nacional), sentia que seu valor na avaliação popular
estava mais baixo que ação da Petrobrás após o escândalo das propinas. O
segundo partido era o PMDB (ao nome Movimento Democrático Brasileiro,
antepôs-se a palavra Partido – antes proibida pelos militares, e agora
exigida).
O sonho “votar
para presidente” incendiou o país como um rastilho de pólvora em torno de um
imenso tanque de gasolina. Um jovem deputado federal de Mato Grosso, Dante de
Oliveira, apresentou uma emenda constitucional para restaurar o voto direto,
que o Congresso, manipulado pelo comandante da República, conseguiu evitar.
Meses depois, o mesmo Congresso elegeu, por voto indireto, o candidato que o
povão teria elegido na eleição direta.
Os primeiros anos
da década de 80 foram marcados pelas decisões das massas, em todo o país, pelas
mudanças – e as queríamos já!
Havia - para nós,
goianos – um fator fortíssimo para nos mobilizarmos no empenho pelas
Diretas-Já, naqueles anos de 1983 e 84: a eleição fragorosa do governador Iris
Rezende Machado, em 1982 e as expressivas figuras dos senadores Henrique
Santillo, pela sua verve e coragem oposicionista, e Mauro Borges, um ícone
desde 1961, quando enfrentou os generais que pretendiam impedir a posse do
vice-presidente João Goulart quando da renúncia de Jânio Quadros.
Iris era, mesmo, o
grande capitão. No dizer de Tancredo Neves, “é só o governador assobiar que o
povo (goiano) atende correndo”.
Mas estou chovendo
no molhado. Toda essa minha fala é, na realidade, para contar do último feito
do meu amigo e confrade acadêmico Iuri Rincon Godinho, jornalista e poeta. Há
poucos dias, ele lançou o livro “Diretas Já em Goiás”, no qual ele narra, em
ótima linguagem jornalística, o fato da mobilização em Goiânia, considerada “a
maior mobilização popular no país, em termos proporcionais”, daquele 12 de
abril de 1984.
Para nossa
vergonha, algum segurança barrou o compositor Braguinha (João de Barro), autor
de Carinhoso e As Pastorinhas, de subir ao palanque – ele viera de Brasília
especialmente para cantar no comício, no palanque em que reinou Fafá de Belém
ao cantar o Hino Nacional Brasileiro à capela, com um arranjo especialmente
feito para ela.
O livro de Iuri é,
para mim, um dos melhores livros jornalísticos que já li – e já li muitos, e
muito bons! Ele tem não só a competência técnica que se exige de um bom jornalista
– técnica em que se incluem conhecimentos de História, de Geografia, de
“realidade regional” (apelido que os professores criaram para suprir carências
na formação básica), com forte percepção política e sociológica dos fatos. A
isso, acrescente-se o indispensável talento literário de Iuri Rincon Godinho,
do que resultou um texto conciso, mas límpido e claro, “com molho e tempero”,
como diria Brasigóis Felício.
Justo por isso, o
nonagenário romancista, político e jurista, membro efetivo e ex-presidente da
Academia Goiana de Letas, Ursulino Leão, discursou, menos de 48 horas após o
lançamento de Diretas Já em Goiás, em sessão ordinária da AGL, exaltando o
feito do confrade, conclamando seus pares a fazerem como ele, que leu “de uma
só sentada” todo o livro.
Faço coro ao
confrade Ursulino:
– Leiam,
caríssimos leitores! Vale a pena!
******
Luiz de Aquino é escritor, membro
da Academia Goiana de Letras.
2 comentários:
Boa noite!
Aproxima-se o dia 21 de abril, o que me causa alguma perturbação. Enquanto lia a crônica, vinha-me à lembrança o ano de 1985. Viajei até a atualidade e, sinceramente, não consigo vislumbrar, a curto prazo, dias melhores. É difícil aceitar esse desenfreado pluripartidarismo e suas indecentes alianças, a título de governabilidade. Ainda ontem, comentei a respeito de adversários e ex-cúmplices. Vi, com a euforia dos meus saudosos trinta e poucos, os movimentos pelas eleições diretas aqui, da minha cidade. As imagens que chegavam da nova capital eram fantásticas. Gostaria de adquirir o livro que você sugere.
Peço-lhe emprestadas, para dizê-las a você, ou melhor, à sua crônica, o que disse sobre o livro do Iúri. E resumo: nota 100, seu texto, amigo! Obrigada por permitir-me lê-lo. Lêda
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