Michel Temer nos traços de Jorge Braga (O Popular). |
Sob
a Espada de Dâmocles
Vão-se mais de dez
dias da escolha, pelo presidente Michel Temer, da subprocuradora Geral da
República Raquel Elias Ferreira Dodge para suceder o procurador geral Rodrigo
Janot, o que colocou a Espada de Dâmocles sobre a cabeça do ocupante da
principal cadeira desta malfazeja república de Floriano.
Nada de errado ao
escolher o segundo nome mais votado, senão pelo compromisso espontâneo que
assumiu de respeitar a escolha maior dos procuradores. Mas essa opção, perfeitamente
legal e moral, não oculta a rejeição ao preferido de Janot, o subprocurador
geral Nicolao Dino (que é irmão do governador do Maranhão, Flávio Dino, que se
opõe a Temer). Ou seja, a mudança da promessa não compromete a escolha, apenas
equivale a uma confissão de receios vários (ao que tudo indica).
Rodrigo Janot e Raquel Dodge (foto folhapolitica-org) |
Sobre a conduta de
Temer, duas vezes vice de Dilma Rousseff na Presidência da República, muito se
ignorava, muito se especulava e as dúvidas não o recomendavam bem. É sempre
inevitável compará-lo com Itamar Franco que, quando presidente, tinha por braço
direito o ministro Henrique Hargreaves (da Casa Civil no governo de Itamar). O
ministro, exposto em suspeita, afastou-se do cargo e declarou fazê-lo para
facilitar as investigações, após as quais, sendo inocentado, retomou o posto.
Nos últimos dois
anos e meio, essa história foi por demais lembrada, tantos foram os nomes de
auxiliares do governo postos em evidência por suspeitas – e provas. E veio
então a público a gravação de Joesley Batista, deixando à luz um pouco dos
segredos de Michel Temer – não um ministro (como Geddel Vieira, Eliseu Padilha
e Moreira Franco), mas o próprio presidente da República.
Ora, ora... Sempre
me mantive respeitoso ao cargo e seu ocupante, ainda que discordante da linha
política, dos feitos administrativos e do que nos chega como “o caráter” do
homem público. Mas como respeitar o cargo quando seu próprio titular legal não
o respeita? É o que nos passa o “rei da mesóclise”, o do discurso refinado dos
primeiros meses (agora, seus discursos andam recheados de rancor, mágoas e
ódios contra os que tomam conhecimento de suas malfadadas medidas com o
dinheiro sujo das propinas e das barganhas, em prejuízo do Erário).
Em meio ao
turbilhão dos fatos e das provas, ensaia Temer discursos alinhados com seu
advogado Mariz, com seu assecla Marum (parecem nomes de dupla sertaneja) e
outros áulicos. Viaja à Alemanha sob a borrasca das denúncias e novas ameaças,
como a possível confissão, em pacto de colaboração premiada, de ninguém menos
que o ex-deputado (e correligionário) Eduardo Cunha, reforçada pela mesma
intenção do doleiro Lúcio Funaro, enquanto o ex-ministro Geddel Vieira se
esperneia para tentar escapar da prisão.
No meio de tudo,
há que se recordar o malfadado jantar com o ministro Gilmar Mendes, do STF,
durante o qual – pelo que foi divulgado – escolheu-se o nome de Raquel Dodge
para suceder a Rodrigo Janot. A escolha, está claro, é legítima, não fosse um
leve indício – a preparadíssima subprocuradora geral costuma manifestar-se
contrária a alguns atos ou medidas do procurador geral. Contudo, há mais a se
considerar.
Raquel Dodge,
goiana de Morrinhos, traz um belo currículo de formação escolar e práticas
profissionais. O fato de discordar do chefe não faz dela alguém suspeita,
alinhada com os erros que ultimamente marcam fortemente os inquilinos dos
palácios brasilienses. O que se viu nos noticiários parecia apresentar ao
Brasil uma pessoa capaz de alinhar-se com propósitos escusos, já que “caiu nas
graças” de figuras antipatizadas pela opinião pública.
Mas que não se
enganem! Ela detém uma biografia consolidada, cheia de feitos que bem a
recomendam. Caso sobreviva aos feitos da Câmara dos Deputados e, talvez, do
próprio Supremo Tribunal Federal, Michel Temer haverá de se decepcionar com uma
profissional de sólida formação jurídica e moral. E o Brasil precisa muito de
pessoas assim.
Essa é, parece-me,
a Espada de Dâmocles sobre a cabeça de Temer.
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Luiz de
Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
3 comentários:
Apenas uma palavra: irretocável! 👏👏👏
Luiz de Aquino, você é um brilhante comentarista político! Este seu artigo é 10!
Seu comentário me aliviou a alma! Tomara que sim!!! Confesso que não conheço nada do trabalho nem do posicionamento dessa senhora.
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