Deixem
o Basileu França em paz!
– Sempre que ouço
a palavra cultura sinto ânsias de sacar minha arma – teria dito Goebels, o
chefão da propaganda de Hitler.
Sempre que vejo
pessoas cometendo atos que resultam em malfeitos, recordo-me de Carmo Bernardes
(não, não lhes direi quem foi ele, apenas deixo que imaginem) que, ainda nos
meados da década de 1960, num artigo inflamado, afirmou que não escreveria ali
o nome da diretora do Instituto de Educação de Goiás que entregara a aluna Olga
Pimentel, presidente do grêmio do IEG, à sanha da PM daqueles anos de chumbo.
Não quero, também,
escrever o nome do promotor de Justiça que, a cada quinzena, tem de se fazer
presente na mídia, lembrando-me a criança que fui lá pelos primórdios de 1950 e
poucos: um super-homem, um capitão-marvel, o caubói como Durango Kid ou, se
fosse uns anos mais tarde, um espião como James Bond.
O mesmo baluarte
da vigilância sistemática contra tudo e todos (às vezes ele acerta, mas sequer
se dá conta; importante, parece, é estar sob os refletores da tevê a cada
semana) apontou seu fuzil HK contra nada menos que o maior centro de formação
em artes do país, o Itego Basileu França. O pretexto, desta vez, seria a baixa
formação acadêmica dos dirigentes da OS que administra o Instituto – o Cegecon,
Centro de Gestão em Educação Continuada. Com uma canetada, a juíza despachou
favorável ao que pretendeu o promotor, levando ao desespero nada menos que
4.800 alunos e 243 professores dos cursos de artes visuais, música (teoria,
instrumentos, canto), dança, arte-educação, teatro, arte-inclusão, produção
cênica e circo.
Incomoda-me isso!
A minha geração lamenta não ter, em seu tempo próprio, algo como esse Instituto
Tecnológico. O que a escola regular não oferecia, aprendemos sozinhos. Imagino
como terá sido nos tempos dos que me antecederam uns 30 anos, como o já citado
Carmo Bernardes, seus contemporâneos, Eli Brasiliense, Bernardo Elis e José J.
Veiga, além, obviamente, do igualmente saudoso professor e acadêmico Basileu
Toledo França, que dá nome ao Centro e ao seu teatro.
Este Goiás de
agora tem tudo isso. Tem o Hugo e o Crer, o HDT e o Hugol, a Maternidade Nossa
Senhora de Lourdes e o Hospital Geral de Goiânia – unidades de saúde muito bem
construídas e equipadas com critério, gerenciadas por organizações sociais que
proporcionam a qualidade conhecida de tais hospitais. Mas as nossas escolas
públicas regulares poderiam, também, estar sob a gestão das ditas organizações
sociais.
Montar e manter um
núcleo como o Basileu França não é tarefa para amadores – mas o promotor e a
juíza entendem que os dirigentes do Cegecon são amadores e sequer lhes deu a
chance de serem questionados. Nem o promotor nem a juíza indagaram sobre os
talentos ali formados, ora em atuação, em suas respectivas competências, por
todo o país e em eventos noutras terras, para outros povos.
Certamente, não
consideraram o nome de Basileu Toledo França. Certamente não sabem das
orquestras formadas de alunos e ex-alunos daquele Itego. Sem dúvida, jamais
pisaram o solo do Teatro Basileu França – cenário para incontáveis peças
teatrais e concertos das orquestras, tudo fruto do trabalho “dos de-casa”.
Talvez aí esteja a
ojeriza de tais autoridades: costumo dizer que Goiás se faz dos nativos e dos
adventícios (pessoas que vieram de fora e aprenderam a gostar de pequi e
pamonha, como qualquer nativo, como nós). Infelizmente, temos também entre nós
os forasteiros – gente que veio de fora – que se recusam a criar raízes por
aqui. Estes nos depreciam, falam mal do nosso sotaque, do nosso jeito roceiro e
do nosso típico linguajar... mas como essa gente gosta do dinheirinho que se
ganha aqui! E se constatam que começamos a acertar, a aprender como fazer
melhor, que começamos a nos destacar em nossos fazeres – especialmente os
fazeres da cultura – repetem Goebles e sacam suas armas.
Ora, ora... Cuidem
das questões da segurança, do tráfico de drogas, da violência contra as
minorias! Não fosse o Itego Basileu França, é certo que o contingente do
“estado paralelo” estivesse maior, muito maior, aqui em Goiás. Portanto, não
fosse esse centro de formação de arte e cultura, o “estado paralelo” teria
muito mais facilidade por aqui.
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Luiz de Aquino é escritor e jornalista, membro da Academia Goiana de Letras.
2 comentários:
Concordo plenamente. Não consigo entender muito das características e das performances, especialmente, das culturais de Goiânia, de Goiás e do seu povo, sejam nativos ou os que vêm de outras plagas e logo se impregnam dos diletantismos inúteis, dos ranços, da burocracia excessiva, do conservadorismo vulgar, da "tupiniquinhense" em comparação a outras cidades, metrópoles ou capitais. Um horror absoluto. Sou goiano por tradição e nascença. Nasci no Bonfim, hoje Silvânia, o que me dá alegrias e tristezas, mas...
Moro hoje em Brasília e sempre que me perguntam por que eu não me mudo pra Goiânia, sempre respondo que é porque Goiânia é muito cheia de goianos, esta gente fechada, dicotômica, elitista, preconceituosa, burguesa e judáico-cristã demais da conta... Realmente, não dá. Viajo sempre para grandes e pequenas cidades e nunca vi nada tão duro, difícil e, de alguma forma, constrangedor. E "vamos deixar o Basileu França em paz", mas para isto é preciso mudar muita coisa. Alterar, evolutivamente - quando digo isto, digo que é para melhor, embora pareça que estou reafirmando o óbvio. Mas com a "goianada" é assim. E dificilmente ela entende.
Bravo, bravíssimo, amado poeta Luiz De Aquino. Acertou na mosca. O nome do dito jurista? Ah, o nome, muitas vezes, é apenas um detalhe.
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