Os primeiros uniformes escolares, no Brasil, surgiram em 1854, no Pedro II. |
Uniformes
e disciplina
Quando ingressei
no curso ginasial (era o tempo em que havia o famoso Exame de Admissão), os
uniformes copiavam os fardamentos militares. Muitos anos depois, pesquisando
sobre o tema, vi que foi na década de 1850 que o Imperial Colégio de Dom Pedro
II adotou uniforme, seguindo justamente os padrões militares.
Este aluno de 1958 sou eu. |
Em 2007, propus à
Academia Goiana de Letras que realizássemos uma sessão nas dependências do
Liceu de Goiânia – estabelecimento secular, fundado em 1846, na antiga capital.
Naquele ano, festejamos os 70 anos do Liceu em Goiânia. Ao chegarmos ao pátio,
a confreira Ana Braga, no pedestal de sua história de vida – então, cerca de 85
anos, professora desde a adolescência e que, na década de 1940, fora nomeada
por Pedro Ludovico justamente para lecionar no Liceu - notou que os alunos não
usavam uniformes. Chamou ao lado a então secretária – e ex-diretora, professora
Márcia – e lhe recomendou: “Se a senhora quiser melhorar a qualidade do ensino,
exija uniforme completo. A educação, na escola, começa com a disciplina e o
uniforme é o primeiro item”.
Ficamos sabendo,
então, que uma ordem judicial forçou o tradicional colégio goiano a liberar o
uniforme, sob o argumento de que o alunado se formava de meninos pobres. O
resultado não poderia ser mais desastroso – microssaias e “tops” tomaram conta
da preferência feminina. E paro por aqui para não entrar em informes digno do
“mundo cão”.
Dez anos após,
tomo conhecimento de que o Ministério Público estadual pressiona os gestores
escolares para não exigirem uniformes. Alegou um promotor que “não existe tal
exigência nas regras da Secretaria da Educação”. Ou seja, o que nos parecia
óbvio e decidido pela gestão de cada estabelecimento ganha “status” de crime
(“de responsabilidade” ou de “abuso de autoridade”?), aos olhos dos promotores
e juízes.
Lembrei-me de fato
correlato, na última década do século passado, numa escola particular, em
Goiânia. Um promotor de Justiça decidiu que ele e sua mulher educariam o filho
único – não o queriam “misturado” a meninos de famílias comuns. E entrou na
Justiça pleiteando tal direito, coisa que o juiz indeferiu (felizmente, era um
juiz sensível à formação dos cidadãos).
E ocorre-me,
também, a onda de militarização das escolas estaduais de ensino fundamental e
médio. Nada contra o direito de a Polícia Militar ter sua escola, mas toda uma
rede, com cerca de 30 estabelecimentos? (por que não também os bombeiros?).
Sempre entendi que
a Polícia Militar é uma instituição, ou corporação, com fim precípuo,
fortemente definido como organismo de segurança pública. A educação deve ser
afeita exclusivamente à Secretaria da Educação. Só que a sociedade goiana se
convenceu de que as escolas da PM são ótimas – e de fato o são –, enquanto as
civis pecam pela indisciplina que resulta em agressões de meninos estudantes a
funcionários e professores.
“Nós fracassamos,
demos atestado de incompetência”, disse-me um professor dentre dezenas ou
centenas com os que procuro sempre discutir o tema. Nas escolas da Polícia
Militar a disciplina é levada a sério e o uniforme é uma exigência básica – e
os promotores e juízes não mexem com eles.
Resumindo: a
falseta de eleições para dirigentes escolares, item simpático às práticas
democráticas, tornou-se balão de ensaio para quem sonha com a carreira política
– afinal, um salário e as regalias de vereador são coisas muito distintas da
realidade educacional. E essa onda de “politicamente correto” abraçada por
promotores que preferem bem mais os holofotes da mídia resultam na
oficialização da indisciplina nas escolas.
O resultado é
terrível!
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Luiz de
Aquino é jornalista e escritor, membro da Academia Goiana de Letras.
2 comentários:
Era 1963 e eu ingressava no nosso amado Colégio Pedro II, vaidosa! Em 1969, deixava a Escola Normal Carmela Dutra e fui à luta. Vesti meus uniformes, honrando as INSTITUIÇÕES que me acolheram por concurso de admissão. Depois, vieram as becas de bacharelado e licenciatura, numa época em que éramos valorizados. Sempre achei que uniformes escolares continuariam a ajudar na identificação do estudante, mas hoje sei o quanto me enganei. Meus filhos estudaram na Vila Militar, em colégio de disciplina rígida, onde os pais eram os grandes apoiadores, que zelavam pelos impecáveis uniformes e observância dos horários (havia caderneta e plaqueta de identificação). Acho que deu certo!
Exerci o MAGISTÉRIO em Escolas Públicas durante 38 anos, embora pudesse ter me aposentado com 25 de trabalho efetivo. Quando iniciei, professores eram investidos por Portaria e diretores precisavam comprovar formação em Administração Escolar. Atualmente, qualquer apadrinhado dirige escolas. Evidentemente, EDUCAÇÃO DE QUALIDADE não elege nossos representantes nos Três Poderes, porque a permissividade travestida de práticas democráticas fala mais alto. É terrível, sim, mas sabemos o que deu errado!
Também sou favorável a ideia de que a disciplina começa com os uniformes.
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