Jávier Godinho (1936-2018):
“Com
ele, morre um pouco
de cada um de nós”
Essa frase
chegou-me ao telefone, confirmando a notícia que as redes sociais já
espalhavam. E concordei: afinal, conheci um pouco de Jávier nestes anos que se
alongam desde que, em 1963, comecei a lê-lo nas páginas do jornal Cinco de Março, onde atuava também
Anatole Ramos, Jurandir Santos, Carmo Bernardes, Geraldo Vale, Zoroastro
Artiaga e tantos outros.
O convívio, porém,
se deu com a frequência das rotinas na redação do DM. Se o considerava
excelente no texto dos artigos semanais e nas orações diárias da Hora do
Angelus, da TV Anhanguera, descobri um bom chefe, um jornalista tarimbado que
sorvia a notícia. Sua competência nas pautas que distribuía aos repórteres, na
edição do jornal, na racionalização do fechamento e, sobretudo, na harmonização
presente em todas as relações humanas mostraram-me, enfim, uma pessoa digna de
admiração, respeito e, ainda mais, alguém com quem se pode (e deve) aprender
sempre.
Já se vão muitos
anos que conheci também sua mulher, Stella, e os filhos – em especial os meus
coleguinhas Iuri e Aulus, de quem colhi os sentimentos em texto com que
fecharei este desabafo.
De Stella, sem
cerimônias, indaguei um pouco de indiscrição: quis saber como se conheceram,
como começara o namoro que se estende por mais de meio século: “Ah, eu era
muito novinha! Ele namorava uma menina de Buriti Alegre cuja casa era perto da
minha. Quando eles passavam diante da minha casa, ela o beliscava porque ele
ficava olhando para mim”.
De tantos olhares
e beliscões, em breve o namoro de Jávier com a moça de Buriti Alegre
entristeceu-se, e ele pôde, então, aproximar-se de Stella. “Foram quatro meses
de namoro, quatro de noivado e nos casamos – eu tinha 18 anos”, conclui Stela
Rincon Godinho.
Fora do ambiente
do trabalho, desfrutei também dos conhecimentos ricos de Jávier sobre a
doutrina kardecista. Excelente orador espírita, proferia palestras e
participava de mesas-redondas sobre os temas religiosos, além de escrever
artigos memoráveis, impregnados de amor a Deus e às pessoas.
É do meu jeito
entender a vida – e a morte – um certo desprezo pela frase feita “É uma grande
perda”. Em lugar disso, gosto de pensar e dizer que “Foi uma dádiva viver o
mesmo tempo que ele” – como bem disse seu filho Aulus. Nascemos para morrer e o
importante, dizem alguns filósofos, é preenchermos o intervalo com grandes
feitos. Jávier foi um desses homens. Ele nos deixa a sua vida de 80 anos de
bondades, de companheirismo e de bons exemplos, como cidadão e como colega,
como comunicador e como pai e marido – logo, não há perda, mas um ganho enorme
para todos nós!
Ficará um vazio,
como a peça que se remove e não se tem o que a substitua. O jeito é arrumar a
máquina da vida, ocupar seu espaço nos dias e ter a consciência de que aos
sobreviventes cabe preencher esse vazio.
Vá em paz, Jávier,
pela luz que seus passos na Terra geram nesse Plano Maior onde agora você está!
Amém!
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Luiz de Aquino, especial para o DM
Um comentário:
Também tive o prazer e a honra de conviver com Javier Godinho na redação do Diário da Manhã. Trata,-se, sem dúvida, de uma figura humana extraordinária, além de grande jornalista.
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