Do tempo e da tarde
O
tempo passou pelos meus dedos
e nasceram palavras, sistematicamente criadas
no rigor dos tipos.
As palavras ficaram assim, enfeitadas
em negro na alva quadratura do papel
-- mas as palavras não eram estas impressas
e eram palavras que forjei no vazio
miúdo e doído
entre vísceras que eu não sabia existirem.
Lá fora, gritam e correm pessoas
e são muitas pessoas
querendo buscar outros rumos e trocar pessoas
pois não há como acreditar e não se faz futuro
sem crença.
Essa gente não quer mais ser guiada:
lá fora, há mãos crispadas e punhos erguidos,
há gritos de ordem e os soldados também gritam
— mas os soldados gritam em silêncio,
não lhes é dado gritar com a boca aberta e a força dos pulmões.
Lá
fora há discursos inflamados e pequenas intenções
inconfessáveis.
E enchemos de silêncio nossa tarde
enquanto cremos mais nos
nossos corpos assim
tão comungados.
* * *
Poeta Luiz de Aquino
6 comentários:
Nesta poesia vc mostra a força de sua verve meu caro poeta... Minhas mãos comungam com seus versos!!! E sigamos em frente...
Gostei muito deste poema. Palavras silenciadas que dizem muito e gritam no recolhimento do saber poético. Lindo isto Obrigada! Obrigada.
O que nos é o tempo senão o arquivo das nossas lembranças? Passando ele nos leva e traz caminhos e descaminhos de uma jornada onde sonhos e quimeras caminham juntos.
O poema é forte mas ao mesmo tempo sensível... e não seria diferente vindo de tanto talento.
O tempo passa como uma luz entre os dedos. Não há tempo para vivermos a nossa tarde
Tempo, eterno tempo. Boa poesia.
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