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quarta-feira, setembro 27, 2023

Goiás Vila Boa, Patrimônio da Humanidade


Como conviver com o título de

Patrimônio da Humanidade? 


Ao longo de 56 anos de jornalismo, convivi com fatos antagônicos que rendiam algumas edições dos jornais, com as inevitáveis manifestações da chamada opinião pública. O bom senso profissional sempre nos recomendava o acompanhamento racional dos fatos, num trabalho exaustivo de remover o joio que comprometia o trigo. É que, em jornalismo, existem também os profissionais que amam fomentar polêmicas – e até mesmo inventar fatos para adubá-las ou fermentá-las. 



Esse movimento sobre o risco de a Cidade de Goiás perder o título de Patrimônio da Humanidade cutuca uma preocupação de todos nós, goianos (tanto os de nascimento quanto os de escolha).

Não é a primeira vez que grupos tradicionalistas da Cidade de Goiás manifestam esse receio – e entendo respeitável tal preocupação. Porém, é sempre indispensável fuçarmos um pouco nas ações, nas conversas e nas intenções de tais pessoas, haja vista a motivação pessoal ou de grupo – de cunho material ou patrimonial que descamba para os ciúmes mais que ideológicos, os ciúmes das tradicionais oligarquias.

Vejo agora, nesta manhã de 22 de setembro (2023), matéria do Jornal Opção (https://www.jornalopcao.com.br/goias/iphan-reafirma-que-cidade-de-goias-pode-perder-titulo-de-patrimonio-cultural-532553/) em que se consultaram pessoas selecionadas para questionar a tal legislação emergencial da Prefeitura de Goiás que visa a enfrentar e regularizar condomínios já existentes e já funcionais. O título outorgado pela Unesco custou muito trabalho, lutas, esforços pessoais com inegáveis sacrifícios (impossível não recordar Brasilete Caiado), o que nos convence de que ninguém quer o cancelamento do título.



Em meio à grita que se avolumou, encontro um texto do arquiteto e urbanista Walfredo Oliveira:

"Devagar com esse andor. Existem inúmeros casos de cidades históricas ao redor do mundo, cuja expansão se houve de modo mais contemporâneo ou atual. Marrakech, com a parte histórica ora destruída, é um destes casos. Como os proprietários de imóveis na parte tradicional da cidade são em menor número, talvez possa ser produtivo planejar uma expansão para abrigar pessoas até com interesse nas atividades turísticas, que não consigam habitar o centro histórico. A posição logística do Município, espécie de portal do fértil vale do Araguaia, também região de extensas pastagens, pode motivar o assentamento de moradores, digamos assim, mais modernos. O meio do caminho parece razoável: basta criar taxas mais altas para a expansão e/ou instituir um sistema de subsídios cruzados, em que um sobrepreço dos novos imóveis, pudesse subsidiar a reforma e manutenção da parte tradicional. Me desculpem, mas parece inconveniente ou impossível tratar um centro urbano, mesmo que tombado, como uma espécie de museu".

 

Estranhei o fato de o Jornal Opção não ter ouvido opiniões contrárias a esse movimento – ou elas não existem? Parece que se preferiu escolher pessoas afinadas com o pensamento dos conservadores vila-boenses, certamente viventes ou proprietários no centro histórico. Acredito nos argumentos de Walfredo Oliveira. Afinal, nenhuma cidade Patrimônio da Humanidade deve ser congelada, vetando assim seu crescimento e, inevitavelmente, as ações da gestão municipal com vistas a harmonizar as relações dos antigos moradores com as novas paisagens urbanas dos adventícios, bem como do fluxo turístico inevitável, posto que milhões de brasileiros querem conhecer "a terra de Cora Coralina" e saber de um Patrimônio da Humanidade que expressa a história social, política e artística do Centro-Oeste brasileiro. 


Noutra matéria, de 21 de setembro, o JO noticia que o prefeito Aderson Gouveia (https://www.jornalopcao.com.br/goias/prefeito-suspende-lei-que-beneficia-condominios-ilegais-na-cidade-de-goias-ambientalistas-seguem-pedindo-revogacao-532477/) suspendeu os procedimentos da Lei Complementar n° 7, para novos estudos e discussões acerca do tema, numa demonstração de boa vontade.

Aguardemos. 


Luiz de Aquino é membro da União Brasileira
de Escritores de Goiás e 
da Academia
Goiana de Letras.

                                        











Um comentário:

Cida Taveira disse...


Gostei do seu posicionamento analisando de forma ampla, sem preconceitos e mostrando que o assunto requer uma visão e posicionamentos visando os dois lados, sem prejuízos de algum.