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Em Goiânia, obra do imortal Oscar Niemeyer . pólo de grandes eventos culturais e artísticos da cidade. |
Enfim, o Século XX acabou.
Quarta-feira, 5 de dezembro de 2012, dez dias
antes de fechar um todo de 105 anos.
Séculos são assim mesmo, incompletos ou sobejos.
Os anos também: quando nos pedem a idade, recitamos o ano completado e omitimos
o tempo excedente. Neste caso particular, e para o nosso conceito – de nós, que
vimos nascer Brasília com sua arquitetura arrojada, e aquilo nos remeteu a
Pampulha e outras referências –, o conceito hodierno, o Século XX tem muitos
nomes. Nenhum deles, porém, com a força de Oscar. E tivemos muitos nomes para o
século que se finda... Poderia se chamar Braguinha, que também adentrou os três
dígitos de idade, e a ele unir um sem-número de artistas vários, das letras e
dos sons, dos pincéis e dos cinzéis, das cenas e dos recursos midiáticos.
De minha parte, faço eco aos que têm em Oscar
Niemeyer o ícone de um Brasil primitivo naquele dezembro de 1907 (nove meses da
passagem de Machado de Assis – a chave que fechou o Século XIX para nós) para a
realidade atual, drasticamente reformulada no transcurso destas quase onze
décadas. Há uns poucos anos, muito poucos, articulistas da extrema direita
(ainda existe, sim; saudosista e burra, como todos os extremos ideológicos)
escreveram tentando execrá-lo. Perderam tempo; nem se tornaram notáveis.
Oscar foi um eixo de grandes transformações.
Nasceu num Rio de Janeiro que era o rosto de uma nação – a parte quase única
visível, num tempo em que homens e mulheres não mostravam quase nada além do
próprio rosto. Era um tempo em que São Paulo, a cidade, despontava-se como mãos
– mãos operárias e atrevidas, mexendo-se sem pedir licença, invadindo e
bolinando o delicioso corpo da Pátria, para despontar-se de vez. Mas o Rio era,
e assim o seria até hoje e promete ser para sempre, o referencial de nossas
artes. Um referencial que se expandiu também neste século que se encerrará ao
término das exéquias de Oscar. Capital de uma nova república, insegura e
indecisa; vitrina dos artistas brasileiros de todas as lonjuras; a cidade mais
natural do mundo, muito apropriadamente alcunhada, pelo talento do poeta Coelho
Neto, como Cidade Maravilhosa. Oscar teve, sempre, motivação bastante e a mente
aberta para a linha divisória mar-e-céu, escorado confortavelmente nas encostas
do Maciço da Tijuca. Encheu seus olhos de paisagens, transformou-as ao
finíssimo bico do lápis, povoou papéis e locais (como fazer paisagens
surpreendentes na monotonia do cerrado no Planalto Central).
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A marca do Mestre no nosso horizonte: o Centro Cultural Oscar Niemeyer (trevo da Av. Jamel Cecílio com a BR-153). |
E agora, fecha os olhos de vez; apaga-se o
cigarro, o charuto; despede-se da mulher companheira, a segunda; enriquece
ainda mais um sobrenome ilustre. E deixa ao Brasil a herança de seu talento e
suas realizações, com suas obras espalhadas mundo afora como se o brasão da
Pátria acompanhasse sua assinatura.
Sim... como não? Oscar, desde já, torna-se o
mais importante de todos os brasileiros nascidos até hoje; Niemeyer, agora, é
sobrenome de todos nós.
* * *
2 comentários:
Oscar Niemeyer, sem dúvida um dos maiores brasileiros de todos os tempos! Sua energia chegou a fim, mas o seu legado permanecerá conosco ainda por muitos anos. Gerações conheceram Niemeyer e suas obras! As próximas conhecerão somente as obras. Que haja um lugar com muita luz para o mestre arquiteto!
E você, Luiz, como sempre nos brinda com mais esta crônica tão verdadeira, tão rica em instantes maravilhosos. Obrigada por sua sempre genial contribuição, nos iluminando com seu conhecimento, sua memória histórica e o arquivo de suas lembranças.
Abs.
Marluci Costa
Belíssima e justa homenagem a Oscar Niemeyer. Não é fácil falar novos novos dados, a história de um homem tão reverenciado. Parabéns aos dois.
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